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Estado de Minas

Brasileiros lucram com imóveis no exterior

Compra e copropriedade em hotéis ou centros comerciais atraem os investidores nacionais devido à alta taxa de retorno. Aportes subiram em uma década e chegam a US$ 6,2 bilhões


postado em 13/08/2018 06:00 / atualizado em 13/08/2018 08:30

Portugal tem se destacado na procura de brasileiros por casas e apartamentos para morar na Europa(foto: Agliberto Lima)
Portugal tem se destacado na procura de brasileiros por casas e apartamentos para morar na Europa (foto: Agliberto Lima)

Ganhar em dólar ou euro para gastar em real. De olho nessa oportunidade e com a economia do país ainda mal das pernas, brasileiros apostam em investimentos imobiliários no exterior para garantir rentabilidade em moeda forte.

O capital brasileiro aplicado em imóveis em outros países cresceu 238% na última década e saltou de US$ 1,8 bilhão US$ 6,2 bilhões, de acordo com dados do Banco Central. As modalidades vão desde a compra de imóveis à copropriedade em empreendimentos hoteleiros e comerciais, segmento que chama a atenção por demandar aportes menores, a partir de US$ 100 mil.


Mais de um terço desses investimentos (34,4%) se concentra nos Estados Unidos, que conta com US$ 2,1 bilhões de capital brasileiro em residências, estabelecimentos comerciais e lotes. Mas o destaque vai para Portugal, que ocupa o segundo lugar no ranking, com 17% do total. O país europeu teve crescimento contundente nesse período e saltou de US$ 116 milhões em 2008 para US$ 1 bilhão em 2017, montante quase 10 vezes maior. França e Itália ficam com o terceiro e quarto lugares, respectivamente.


O nicho cresce nas capitais e no interior do país. A convite de uma imobiliária, uma consultoria especializada em investimento internacional em imóveis para rendimento vai a Montes Claros, no Norte de Minas, dia 22, apresentar oportunidades de negócios a interessados. “Devido ao momento de instabilidade, clientes buscam segurança patrimonial. Você fica com o patrimônio protegido em outro país, rentabiliza o recurso e recebe os dividendos em euro ou dólar”, afirma o diretor da imobiliária Jair Amintas, de Montes Claros, Rafael Pereira.


O coordenador do MBA em mercado imobiliário da Fundação Dom Cabral, Ariano Cavalcanti, presidente da rede de corretoras Netimóveis do Brasil, afirma que a necessidade de grandes aportes para aderir a esse tipo de aplicação é um mito. “Temos todos os perfis. Há imóveis residenciais na faixa de US$ 150 mil, voltados para a classe média estadunidense, que tem rendido até melhor rentabilidade”, diz.

Enquanto o mercado imobiliário brasileiro tem rendido em torno de 0,4%, nos EUA o desempenho tem sido o dobro, em torno de 1%, sem descontados os tributos. A estratégia tem sido adotada como forma de proteção patrimonial, com a diversificação de investimentos. “A rentabilidade é maior do que o Brasil e a vantagem é de ter a renda em dólar. Se o dólar subir, também ganha, porque a indexização é em dólar”, afirma Cavalcanti.

DESPESAS Apesar da boa rentabilidade, é preciso pesar outros fatores. “Não é fácil administrar um imóvel de longe, além de ter que arcar com as despesas de restauração, manutenção. Tudo isso à distância fica mais difícil”, afirma. Nesse movimento, ele observa grande procura por imóveis em Portugal. “Clientes falam de um desejo de mudar para lá depois de um tempo”, comenta.


O CEO da Ativore, consultoria especializada no ramo, Renan Barros, que visitará Montes Claros, afirma que o brasileiro quer fugir da volatibilidade do câmbio e encontra segurança sobretudo na economia norte-americana. Ele garante que o cenário é bem diferente de 2008, quando estourou bolha imobiliária nos EUA. “É uma rentabilidade excepcional. A inflação é mais baixa e o retorno em dólar. A partir de 100 mil dólares, já é possível investir, seja como investimento direto ou coinvestidor”, explica. Os nichos contemplam imóveis residenciais, escritórios, shoppings, hotéis, entre outros. Uma casa na Flórida pode ser comprada por cerca de 400 mil dólares.

 

 

Parceria com redes hoteleiras

 

Especializado em desenvolvimento de negócios e imóveis de luxo, André Salles, diretor de vendas de investimentos da Driftwood, com sede em Miami, explica que clientes têm se interessado cada vez mais por investir em redes hoteleiras, como os famosos Hilton e Marriot. “Nesse caso, o investidor vai ser um sócio-cotista daquele hotel e recebe os dividendos que são distribuídos. Depois de cinco anos, o hotel é vendido”, afirma. “Depois de 2014, quando o real ficou desvalorizado, muitos brasileiros se atentaram para o fato de ter parte dos recursos em moeda forte. Ainda tem muito caminho para crescer”, completa.


A rentabilidade é de a partir de 8,5% e pode chegar a 15%, dependendo do formato. A empresa conta com mais de 400 investidores, sendo que 20% são brasileiros. Segundo Salles, dos US$ 500 milhões de ativos, US$ 30 milhões são provenientes do Brasil. O perfil são pessoas casadas, entre 35 e 50 anos e com filhos em idade escolar. “Existem vários formatos e, para cada um, uma tributação diferente. E abrimos um canal direto com o investidor pessoa física, facilitando o processo”, afirma. Outra modalidade comum é voltada para quem tem interesse em morar nos EUA, caso do engenheiro Roberto Figueiredo, de 43 anos.


Desde os tempos de intercâmbio e durante a carreira em multinacionais, ele sempre flertou com a vida no exterior. Em dezembro, deu o primeiro passo para realizar o sonho de se mudar para os EUA, ao investir em um hotel na Flórida. O aporte de US$ 500 mil permitiu que ele se enquadrasse nos critérios do visto EB5 e pleiteasse o green card, que dá a possibilidade de residência permanente nos EUA. “Começo a receber os dividendos a partir do terceiro ano, porque o hotel, na Flórida, está em construção. O investimento rende cerca de 10% ao ano”, reforça. Projetando a mudança dele e da esposa para daqui um ano, Figueiredo mergulhou de cabeça nas pesquisas e se tornou também um expert no assunto. Atento ao nicho, ele vai abrir uma consultoria na área no país norte-americano.

 

238%

Aumento do capital
brasileiro investido em
imóveis no exterior de
 2008 a 2017


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