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Estado de Minas ENTREVISTA/PAOLO DI SORA

"Não dá para ser Buffett no Brasil" avalia sócio da RPS Capital

Executivo explica por que é cada vez mais desafiador investir no mercado de ações brasileiro


postado em 19/06/2018 06:00 / atualizado em 19/06/2018 08:21

(foto: Divulgação )
(foto: Divulgação )

São Paulo – Os fundos de ações em geral se dividem entre duas grandes correntes: os fundamentalistas, que tendem a ver a bolsa como investimento de longo prazo, e os que aproveitam oportunidades de curto prazo. Entre estes, há os que partem da análise macroeconômica para escolher os setores que devem performar.

Essa é a praia da RPS Capital, do gestor Paolo Di Sora. Vendo um cenário internacional de dólar mais forte, a RPS abandonou suas posições em empresas domésticas e abraçou exportadoras e companhias mais expostas à economia global.

Seus dois principais fundos terminaram o mês de maio no azul, com altas de 0,8% e 0,6%. Paolo começou a carreira na análise de commodities e passou pelo BBA, Itaú, Deutsche e M. Safra antes de abrir a RPS, que hoje administra R$ 1,2 bilhão em três fundos. Nesta entrevista, o executivo fala dos desafios de investir no mercado de ações brasileiro e das perspectivas em um ano marcado por instabilidade econômica e incerteza eleitoral.

Com qual cenário de juros e câmbio você está trabalhando até as eleições?
Temos uma visão pessimista. Infelizmente, o modelo que se adotou nos últimos anos, de expansão fiscal, se esgotou, e agora precisamos de uma correção forte, redução de alavancagem e ajuste de despesas. O Michel Temer veio com essa agenda liberal, de ajuste macro, mas a corrupção veio com ele. E com a corrupção as pessoas não perceberam o benefício do ajuste macro, porque não tiveram confiança.

Dado esse cenário, como você está posicionado setorialmente?
Estamos comprados em empresas associadas ao ciclo global, que coincidentemente me dão proteção cambial. Nossas maiores posições são no setor de papel e celulose, temos Embraer e exportadoras de commodities, como Vale e Gerdau. Tem um outro grupo que a gente está aos poucos montando, que é a turma defensiva doméstica: empresas que dependem menos do PIB, dos juros, e são mais estáveis do ponto de vista do balanço. Começamos a montar algumas posições: IRB, um pouco de Localiza.

O que a RPS viu exatamente?
Os Estados Unidos bombando. O direcional de bolsa tem tudo a ver com mercados emergentes e pouco a ver com o Brasil, mesmo em ano eleitoral. No nosso caso específico, começamos a pegar um feedback com as empresas de que a economia não estava pegando no breu como se esperaria com juros a 6,5%. E a explicação é a incerteza política e a consequente queda na confiança. Pensamos: puxa, essa turma de 3% do PIB vai começar a revisar para baixo.

Qual a sua principal ideia que o mercado tem ignorado?
Embraer: uma empresa que ganha com o real desvalorizado e não subiu. A gente comprou uma posição maior de Embraer há uns três meses, porque percebeu que ia começar um movimento mais forte de dólar lá fora. Junto a isso tem a possível fusão ou compra pela Boeing.
 
E se não acontecer a fusão?
Pode cair um pouco a ação, mas não deverá cair muito. O papel está mais ou menos parado nos últimos três meses. Olha o que aconteceu no câmbio nesse período e vê se justifica a ação estar parada. Mas tem esse ponto idiossincrático que assusta o cara mais fundamentalista: ‘Não sei se vai sair ou não esse negócio com a Boeing’. Se não sair, esse cara que estava com medo de entrar por um evento que ele não domina vai querer entrar.

Que características diferenciam o mercado de ações no Brasil dos países desenvolvidos?
O Brasil é um país instável, política e economicamente. Falar em investimento em longo prazo quando você não consegue desenhar um cenário para os próximos seis meses é uma coisa muito difícil. Não dá pra ser Warren Buffett no Brasil. Ele nasceu nos Estados Unidos, onde houve só duas grandes crises, a de 1929 e a de 2008, e a oferta de boas empresas listadas é enorme. Aqui a gente não consegue saber o que vai acontecer dali a seis meses. Se eu não consigo calcular o PIB do ano que vem, os juros dos próximos seis meses, o câmbio de 2019, como consigo determinar se uma coisa está cara ou barata?

Ou seja, é preciso olhar o Brasil no curto prazo.
Tem que olhar o Brasil naquilo que você consegue enxergar, que é o curto prazo. Somos um país de cobertor curto. Estamos vivendo um exemplo claro: estão dando subsídio para caminhoneiros, mas isso vai prejudicar o produtor agrícola. Se subsidiam o setor de educação, como fizeram lá com o Fies, falta dinheiro para investir em infraestrutura, e assim por diante.
 
Com toda essa instabilidade, com que previsibilidade você trabalha?
Normalmente, de três a seis meses é um horizonte que a gente consegue olhar com alguma segurança. Mas em ano eleitoral, tem períodos em que isso não dura nem três dias.

Alguns setores passaram por transformações e mudaram de cara. Na prática, como funciona a abordagem setorial?
Meus analistas estão sempre avaliando e reavaliando cada setor, como está a dinâmica. O de educação, por exemplo, está mudando. O governo estava colocando dinheiro, o Fies tinha vindo para ficar. Mas aí acabou o dinheiro. Nas incorporadoras, a turma de baixa renda, que é superdefensiva porque o Minha casa, minha vida ainda não sofreu, é outra que pode entrar no mesmo grupo das educacionais. Acompanhamos todos esses movimentos muito de perto.

Algumas empresas dependentes do consumo se mostraram muito resistentes na recessão, como CVC, Renner e Magazine Luiza. Como vocês lidam com isso?
Cerca de 70% do nosso trabalho é macro e 30% é o idiossincrático, de coisas muito específicas. Um dos maiores ganhos que tivemos recentemente foi com a Eletropaulo (comprada pela Enel). Mas esse tipo de evento é a principal dificuldade da RPS. Normalmente, não vamos pegar isso. Essa não é a nossa praia.


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