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Estado de Minas

Brasil quer gatilho para elevar vendas de aço

Mecanismo capaz de flexibilizar sistema de cotas esperado nas exportações aos EUA éa última esperança de siderúrgicas brasileiras


postado em 09/05/2018 07:00 / atualizado em 09/05/2018 17:55


A indústria siderúrgica brasileira ainda espera reverter, pelo menos parcialmente, a decisão do governo dos Estados Unidos (EUA) de impor cotas às exportações de aço do Brasil ao país. O setor trabalha com a possibilidade de inclusão de um mecanismo semelhante a uma salvaguarda que permita às empresas extrapolar os percentuais de embarque aos EUA definidos na medida de proteção, quando a demanda das siderúrgicas americanas se mostrar mais aquecida que o previsto.

O monitoramento desse mecanismo de ajuste das cotas seria feito em conjunto pelos dois países, informou ontem, em Belo Horizonte, Alexandre Lyra, presidente da siderúrgica Vallourec no Brasil, grande produtora e exportadora de tubos de aço, e do conselho diretor do Instituto Aço Brasil, entidade que reúne os fabricantes na atividade. “Esperamos que a menção a esses ajustes finos, para que a cota seja elevada se a indústria americana precisar consumir mais aço do Brasil, seja feita no decreto do presidente Trump”, afirmou o executivo.

Resta aguardar a publicação do novo decreto, nas próximas semanas. A política de proteção às usinas siderúrgicas americanas, por meio da sobretaxação de 25% das compras de aço e 10% das de alumínio de vários países ou do sistema de cotas, afetará, segundo estimativa já divulgada pelas empresas brasileiras, cerca de um terço das exportações totais de produtos siderúrgicos do Brasil, que, no ano passado, somaram US$ 8 bilhões. O governo e o Instituto Aço Brasil argumentaram na negociação conduzida nos EUA que 80% dos embarques são de semiacabados de aço, portanto não ameaçariam as usinas americanas. Trata-se de material que os importadores usam para transformar em produtos finais de consumo.

A produção brasileira destinada ao exterior vive momento delicado. Os volumes excedentes de aço no mundo – estimados em 750 milhões de toneladas, quase 22 vezes o volume fabricado por ano no Brasil – desafiam as empresas a buscar novos mercados para compensar a perdas de parcela das exportações aos EUA. Durante palestra feita em BH, o presidente-executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo Mello Lopes, destacou que à exceção de quatro países, incluindo o Brasil, beneficiados com licença pra negociar a exclusão da lista de sobretaxação americana, as restrições adotadas pelo presidente Donald Trump envolvem aço de fabricantes do Japão, Índia e Rússia, entre outras nações concorrentes no mercado internacional.

“A cada vez que houver excedentes, fica mais difícil buscar outros mercados de consumo”, afirmou. O presidente da Vallourec, Alexandre Lyra, diz não haver dúvidas de que a Europa também deverá fechar suas fronteiras àquela produção que o Brasil deixar de destinar aos Estados Unidos. “Vai sobrar, para nós, exportar um pouco mais ao Oriente Médio e à Arábia Saudita”, de acordo com o executivo. Os dois destinos representaram menos de 2% das vendas totais de aço do Brasil no exterior nos últimos anos.

Impacto no Tio Sam

Segundo Marco Polo Lopes, a indústria está na expectativa de que o governo americano se convença a rever a restrição às exportações do Brasil, tendo em vista um cenário de aumento dos preços do aço já observado nos EUA depois do anúncio da medida protetiva. As estimativas são de que as cotações do produto no mercado americano tiveram elevação ao redor de 40% desde o anúncio do presidente Donald Trump há cerca de um mês.

"Vai sobrar, para nós, exportar um pouco mais ao Oriente Médio e à Arábia Saudita"

Alexandre Lyra, presidente da siderúrgica Vallourec no Brasil e do conselho diretor do Instituto Aço Brasil



“Provavelmente eles (o governo americano) vai rever isso porque vai faltar aço no país”, afirmou o presidente-executivo do Instituto Aço Brasil. O sistema de cotas foi definido com base numa sistemática que também prejudica as empresas brasileiras, consistindo na média das exportações dos últimos três anos, de 2015 a 2017. De acordo com Marco Polo, simulações feitas pelo instituto indicam que entre os aços acabados exportados pelo Brasil aos EUA  haverá queda de 20% a 60% dependendo do produto, na comparação com  as vendas do ano passado.

No segmento de semiacabados de aço, mediante idêntico critério, as vendas tenderiam a cair 7%. As dificuldades no mercado internacional só confirmam a estratégia das empresas de voltarem ao mercado interno brasileiro, a despeito do ritmo ainda fraco de recuperação do consumo. “Prioridade total é o mercado brasileiro”, disse o presidente-executivo do Instituto Aço Brasil.



Embarques
2,6 bilhões foi a receita das vendas do Brasil aos EUA em 2017

 

 

 

Participação mineira

Maior produtor de aço do Brasil, Minas Gerais tende a sentir também com intensidade as restrições às vendas de aço do Brasil aos Estados Unidos. Responsável por cerca de um terço do volume de aço bruto fabricado no país, o estado contribuiu com aproximadamente 18% de toda a exportação do país no ano passado, de 15,4 milhões de toneladas, com base em estimativas do Instituto Aço Brasil.

Setor pressiona por resposta



Medidas de defesa comercial contra as importações brasileiras de aço e de produtos que contém a matéria-prima vão entrar na ordem do dia da indústria siderúrgica, segundo o presidente da Usiminas, Sergio Leite, que assumirá em agosto a presidência do conselho diretor do Instituto Aço Brasil. “Se a onda no mundo for a proteção de mercados, o Brasil tem de seguir essa onda internacional”, afirmou ontem o executivo, ao reclamar da falta de ação efetiva do governo em favor da indústria nacional.

Depois de os Estados Unidos terem anunciado a sobretaxação das exportações de aço e alumínio com origem em vários países, a siderurgia brasileira vislumbra um movimento de defesa comercial no exterior, que, na opinião do presidente da Usiminas, não tem tido resposta do Brasil. “Não somos a favor de protecionismo, mas de isonomia nas condições de disputa do comércio”, disse Sergio Leite.

As empresas produtoras de aço criticam a decisão da Câmara de Comércio Exterior (Camex), anunciada em janeiro passado, de suspender a aplicação de medidas antidumping às importações de aço laminado a quente produzido na China e na Rússia. Elas foram efetivadas em razão de processo de investigação aberto pelas siderúrgicas ArcelorMittal, Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) Gerdau Açominas. À época, o Ministério do Planejamento informou que o governo optou por derrubar a barreira como medida de exceção por um ano e observar o mercado nesse período.

“Se há dumping da Rússia e da China, não se aplica punição? Isso não pode ocorrer”, disse Sergio Leite. Tanto o presidente da Usiminas quanto o atual presidente do Instituto Aço Brasil, Alexandre Lyra, entendem que a China e seus investimentos em infraestrutura representam o próximo grande vilão que a indústria nacional vai enfrentar. A ameaça está, no entendimento deles, na estratégica da locomotiva asiática de associar a aplicação dos recursos ao fornecimento de equipamentos e serviços chineses, em detrimento de uma política de conteúdo local. Sergio Leite afirmou que o governo eleito em outubro precisará adotar um plano de desenvolvimento do país tendo como uma de suas metas o fortalecimento da indústria brasileira.

 

 


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