São Paulo – Em queda de quase 30% desde o início do ano, as ações da Qualicorp, maior administrada brasileira de planos de saúde coletivos por adesão, acharam um defensor. A XP Gestão, que até recentemente tinha 2% do capital da companhia, anunciou ontem ter chegado a 5%.
Como a perda de beneficiários se concentrou no último semestre, o efeito negativo sobre a receita ainda deve ser sentido neste primeiro semestre. A partir da segunda metade do ano, o executivo diz que o efeito tende a se diluir. A expectativa é de que em 2019 o Ebitda (lucros antes de juros e impostos) volte a crescer na casa dos dois dígitos. “É uma empresa que gera quase R$ 1 bilhão de Ebitda, mais que Hapvida e Intermédica somadas” compara Braga, fazendo alusão às duas operadoras de saúde que devem estrear na bolsa nos próximos dias. “E isso numa empresa com histórico provado e geração de caixa sólida.”
Apesar da perda de beneficiários, o lucro operacional da Qualicorp subiu 11% no ano passado, para R$ 804 milhões, por conta de um aumento de margens, que reflete principalmente a racionalização de custos e despesas que tende a gerar a chamada “alavancagem operacional”, quando a receita voltar a crescer.
Como não tem exigência de retenção de capital, a Qualicorp gera muito caixa e costuma distribuir esse valor na forma de dividendos. “O mercado vê a empresa de forma muito errada, como se ela apenas operasse uma brecha no mercado de coletivo por adesão. Mas ela presta serviço, assume riscos”, diz Braga. “Na verdade, a Qualicorp focou em ser uma distribuidora de planos com valor agregado, é como se fosse uma XP da saúde.”
A Qualicorp faz todo serviço de cobrança e administração do relacionamento com clientes das seguradoras (como Sul América, além de muitas outras) e assume o risco de inadimplência. É ela quem faz a cobrança e repassa os pagamentos para as operadoras. Se o cliente não paga, arca com o atraso.
A receita vem de duas frentes: a taxa de administração, um spread em relação ao que a operadora efetivamente cobra e o que é cobrado do cliente, e a chamada “brokerage” a taxa de serviço paga pelas operadoras de saúde. A margem em cima dessa receita é de 15% a 16%, das quais cerca de 7,5% vão para provisões relativas a inadimplência.
Serviço
Nos últimos anos, a companhia vem tentando monetizar a base de dados que tem sobre os consumidores e os prestadores de serviços de saúde. Agora, está em fase final de desenvolvimento de um serviço oferecido às operadoras para conseguir oferecer planos a baixo custo.
Por meio da Gama, seu braço de serviços, a Qualicorp mapeou as redes de médicos, hospitais e centros de diagnóstico que oferecem os serviços com melhor custo-benefício. A partir desses dados, pretende direcionar os clientes das operadoras para esses centros – uma espécie de “Uber da saúde.”
A primeira parceria deve se dar com a Mapfre e pode ser lançada ainda neste ano. A monetização ocorreria de duas formas: por meio da taxa de serviço cobrada das seguradoras e dos potenciais novos clientes que podem ser adicionados à base com os preços atrativos.
Outra notícia positiva para a Qualicorp foi a vigência de uma nova regra para a contratação de planos de saúde por Microempreendedores Individuais, os MEIs. Num clássico “jeitinho brasileiro”, corretores vinham fazendo falsos PJs para conseguir vender planos empresariais de baixo custo. Na hora de vender o plano, o próprio corretor abria o cadastro de MEI para os beneficiários, ainda que eles não se enquadrassem na categoria.
A prática foi extremamente nociva para a Qualicorp, que trabalha exclusivamente com planos coletivos por adesão, aqueles que são feitos via associações que reúnem as categorias profissionais. A companhia estima que cerca de 13% a 15% de sua base foi perdida para falsos MEIs.
Desde janeiro, as regras ficaram mais rígidas. Para contratar um plano empresarial, o beneficiário precisa estar cadastrado há pelo menos seis meses como microempreendedor individual. “O que antes era um evento contra, virou um vento a favor”, diz Braga.