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Estado de Minas

PIB volta a crescer, mas sem afugentar a crise

Geração de riqueza aumenta 1% no primeiro trimestre sobre os últimos três meses de 2016. Alta após oito quedas foi puxada por avanço de 13,4% no campo


postado em 02/06/2017 00:12


Rio de Janeiro– Depois de oito trimestres de queda, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 1% no primeiro trimestre deste ano em relação aos três últimos meses do ano passado, alavancado pelo crescimento do 13,4% no PIB da agropecuária no mesmo período, segundo informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Sobre o trimestre anterior, o avanço do PIB foi o maior desde o segundo trimestre de 2013. Já em relação ao primeiro trimestre do ano passado o resultado é uma queda de 0,4%, no 12.º trimestre seguido de retração. O avanço expressivo no PIB Agropecuário (13,4% no primeiro trimestre de 2017 em relação ao quarto trimestre de 2016 – a maior em 20 anos) e a alta de 0,9% no PIB Industrial (0,9%) não foram acompanhados por crescimentos no consumo das famílias (-0,1%), consumo do governo (-0,6%) e Formação Bruta de Capital Fixo, que mede os investimentos (-1,6%). No primeiro trimestre, o PIB brasileiro totaliza R$ 1,594 trilhão.
“Sozinho, o valor adicionado pela agropecuária contribuiu com alta de 0,8 ponto percentual (p.p.) na variação do PIB do primeiro trimestre em relação a igual período de 2016”, informou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis. Nessa base de comparação, a agropecuária avançou 15,2%. Já o valor adicionado da indústria extrativa, que registrou alta de 9,7% em relação ao primeiro trimestre de 2016, contribuiu com alta de 0,2 p.p. no PIB total nessa base de comparação. Já o consumo das famílias caiu 1,9%. e o do governo recuou 1,3%. Na comparação com o primeiro trimestre de 2016, o PIB da indústria mostrou queda de 1,1%, e o do serviço caiu 1,7%.
Com o retorno do crescimento, a economia brasileira está tecnicamente deixando a mais severa recessão da história do país. Mas para Rebeca Palis, é preciso “esperar para ver o que vai acontecer neste ano ainda” antes de afirmar que a recessão ficou para trás. “Tivemos um crescimento no primeiro trimestre, até expressivo, só que contra uma base reduzida. Tivemos oito trimestres seguidos de queda. Então vamos ver o que virá aí para a frente”, afirmou. Questionada sobre os efeitos da crise política nas contas do segundo trimestre e também sobre os indicadores antecedentes mais fracos, Rebeca respondeu que “tudo influencia”. Ela destacou ainda os efeitos da agropecuária na economia brasileira, que devem continuar contribuindo no período de abril a junho, principalmente, as culturas de soja e o milho.
Apesar do crescimento do PIB, economistas ponderam que o resultado deve ser analisado com cautela. Segundo eles, o ritmo da recuperação ainda é incerto, sobretudo com a crise política desencadeada com as recentes delações da JBS. Para a economista Monica de Bolle, pesquisadora do Instituto Peterson de Economia Internacional, ainda é cedo para comemorar. "Ao contrário do que o (Henrique) Meirelles (ministtro da Fazenda) falou, não há nada histórico no dia de hoje (ontem), pois o resultado positivo do PIB se deve inteiramente ao setor agropecuário, com a safra recorde de milho”, afirma. “O restante ainda está todo no vermelho, tanto do lado da produção como do lado da demanda – com exceção das exportações, que em parte também refletem a safra recorde”, observa.
O Brasil entrou na chamada recessão técnica no segundo trimestre de 2015, quando acumulou dois trimestres consecutivos de queda do PIB. Economistas explicam, porém, que o acúmulo de dois trimestres de contração não é o único indício usado para identificar uma recessão econômica – e tampouco o seu fim. “É preciso olhar os indicadores como um todo, para ver se a economia está saudável e reagindo", afirma a economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria Integrada. O economista Roberto Troster aponta também que a avaliação depende da base de comparação. "Se você medir o trimestre com trimestre anterior, o PIB é positivo. Porém, se medir com o mesmo período do ano passado, ainda está negativo", observa.
Para o diretor para a América Latina da Moody's Analytics, Alfredo Coutiño, se a crise política continuar ao longo do ano, a incipiente retomada pode sair dos trilhos e, no pior cenário, o Brasil pode voltar ao quadro recessivo. “Nos últimos dois anos, uma série de escândalos políticos apareceram no Brasil, com a última delas envolvendo o atual presidente”, afirma Coutiño). Como reflexo da turbulência política, o investimento e o consumo pararam de crescer, ressalta o diretor da Moody's. Se o imbróglio político se prolongar, Coutiño avalia que a economia vai sofrer e as reformas vão ser postergadas. “A economia pode voltar para a recessão e não ver uma recuperação até o próximo governo em 2019.”

Em baixa A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que capta o cenário de investimentos do país, caiu 1,6% no primeiro trimestre de 2017 ante o quarto trimestre do ano passado. Na comparação com o primeiro trimestre de 2016, a FBCF mostrou queda de 3,7%, impulsionada pela retração da importação de bens de capital e pelo desempenho negativo da construção. Entre os segmentos que influenciaram a queda na importação de bens de capital, o IBGE destacou os de máquinas e equipamentos e outros equipamentos de transporte.
Segundo o instituto, a taxa de investimento (FBCF/PIB) ficou em 15,6% no primeiro trimestre. De acordo com Claudia Dionísio, gerente de Contas Trimestrais do IBGE, este foi o menor patamar registrado em toda a série histórica, com início em 1996. Antes, a menor taxa foi registrada no 1º trimestre do ano passado, quando foi de 16,8%.

Análise da notícia

Devagar com o andor

Marcílio de Moraes

O crescimento de 1% do PIB no primeiro trimestre tira o Brasil tecnicamente da recessão. Mas não da crise econômica. Como foi puxada quase que exclusivamente pela safra recorde de grãos, a expansão econômica dos três primeiros meses pode ser interrompida ao fim da colheita. Para que seja um sinal sólido de recuperação econômica é preciso que os investimentos, que estão no nível baixo em mais de 20 anos, reajam e voltem a crescer, assim como a indústria e o comércio. É preciso que o consumo das famílias e do governo voltem a se expandir. Sem a recuperação de mais setores e dos investimentos, o PIB do primeiro trimestre pode ser apenas o que já se fala no mercado financeiro: um “falso positivo”. E mais, com a crise política, nada indica que não possamos ter o terceiro ano de queda no PIB.

Palavra de especialista

Ricardo Balistiero, mestre em Economia

O Brasil saiu da recessão?

“Do ponto de vista técnico a resposta é sim. Mas do ponto de vista prático, não. Duas variáveis são importantes para fazer essa análise. A primeira é o desempenho geral da economia. O agronegócio foi o que salvou o primeiro trimestre, embora a indústria tenha crescido pouco e o comércio tenha ficado praticamente estagnado. O segundo ponto é que se pegarmos o primeiro trimestre de 2016 e comparar com o deste ano houve redução. Então, do ponto de vista de quem está procurando emprego, por exemplo, não representa muita coisa.
Essa melhora é resultado da inflação menor no fim do ano passado e a aprovação do limites dos gastos públicos. Essas condições geraram um ambiente favorável, mas a crise política que explodiu nas últimas semanas com certeza vai impactar nos números dos próximos balanços. Por isso, diferentemente do que o presidente declarou, de que hoje é uma data histórica, não tem nada de histórico nisso. O que aconteceu foi uma recuperação cíclica da economia. Do ponto de vista econômico a política atrapalha.
A situação caminhava para o segundo semestre melhor e que 2018 seria um ano de crescimento. Mas diante da crise política o momento é de incerteza. O governo perdeu no curto, médio e longo prazo a capacidade de aprovar as reformas e a elite política não está agindo para sair dessa situação. O presidente tem se segurado na legalidade, mas não tem condições de fazer as reformas. O desfecho da crise política é fundamental para qualquer possibilidade de retomada. O único aspecto positivo disso é que os ministros da Fazenda e do Banco da Central, com Temer ou sem Temer, não sinalizaram que deixariam o governo. Isso é um aspecto importante".


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