(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Comissão vai investigar vantagem que JBS obteve com dólares

CVM abriu cinco processos para averiguar operações da empresa, que fez acordo diferenciado de delação


postado em 20/05/2017 06:00 / atualizado em 20/05/2017 07:59

Frigorífico da JBS: xerife do mercado quer saber se empresa se beneficiou com a compra de dólares e ações na véspera do vazamento das delações(foto: JBS/ Divulgação)
Frigorífico da JBS: xerife do mercado quer saber se empresa se beneficiou com a compra de dólares e ações na véspera do vazamento das delações (foto: JBS/ Divulgação)

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu 5 processos para investigar o grupo frigorífico JBS e seu controlador, pivô das delações envolvendo o presidente da República, Michel Temer, que vieram à tona na noite de quarta-feira. Depois da divulgação do conteúdo das conversas delatadas, na quinta-feira foram publicadas notícias dando conta de que o frigorífico teria se beneficiado em operações cambiais feitas às vésperas de o escândalo estourar. A estratégia teria favorecido a companhia, uma vez que o dólar disparou para R$ 3,40, valorização de 8,62%, e as negociações na Bolsa de Valores de São Paulo foram paralisadas.

A JBS fechou acordo diferenciado de delação premiada com o Ministério Público Federal no qual ficou acertado o compromisso de sete executivos e sua controladora, a J&F Investimentos, de colaborar com as investigações sobre o pagamento de propinas a políticos. Há informações de que as condições do acordo não preveem prisão ou uso de tornozeleiras, diferentemente do pedido feito em relação a executivos da Odebrecht, delatores da Operação Lava-Jato. O dono da companhia, Joesley Batista, foi liberado para deixar o país. Na tarde de ontem, circularam informações de que toda a família Batista deixou o Brasil. A JBS pagará multa de R$ 225 milhões.

Xerife do mercado financeiro, a CVM abriu o primeiro processo na quinta-feira para obter esclarecimentos sobre o conteúdo da delação dos controladores da companhia. A empresa é dirigida pelos irmãos Joesley e Wesley Batista. Outros quatro processos administrativos foram abertos ontem. Um deles tem como justificativa indícios de prática de informação privilegiada em operações no mercado de dólar e em negociação com ações de emissão da JBS.

A CVM analisa também a atuação da empresa no mercado de dólar futuro e como atuou o Banco Original S/A, controlado pela J&F Participações no mercado de derivativos. O quarto processo abrirá análise sobre negociação do acionista controlador com ações de emissão da companhia. Por meio de sua assessoria de imprensa, a CVM comunicou que divulgará detalhes das investigações em breve, em nota oficial.

As empresas do grupo J&F Investimentos estão entre as últimas companhias nacionais estimuladas desde o governo do PT afetadas por escândalos de corrupção ou por má administração. Elas têm em comum vultosos aportes liberados pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Entre os negócios escolhidos como prioritários que contaram com apoio do BNDES estão empresas do setor de proteína animal.

Enquanto a JBS se tornou líder global em carnes, o frigorífico Marfrig precisou vender ativos para cobrir prejuízos acumulados. As duas companhias, das quais o banco de fomento é acionista, estão na mira da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF). A empresa da família Batista foi alvo da Operação Carne Fraca. Um dos empregados da Seara, uma das marcas vendidas pelo grupo, é acusado de oferecer propina a fiscais agropecuários federais em troca da emissão de certificados sanitários sem fiscalização.

A JBS negava irregularidades até ontem e dizia que era auditada com regularidade para atestar o padrão de qualidade. Entretanto, após a divulgação da delação dos executivos da empresa, ficou claro que o frigorífico pagava propina a agentes públicos em troca de vantagens. O BNDES detinha, até setembro, 20,36% das ações da companhia.

No caso da Marfrig, o fundador e presidente do Conselho de Administração, Marcos Molina, foi alvo de um mandado de busca e apreensão em sua residência em São Paulo na Operação Cui Bono. Segundo as investigações, o frigorífico fez um depósito de quase R$ 500 mil na conta de uma empresa de Lúcio Funaro, doleiro preso na Operação Lava-Jato. Há suspeita de que a transferência ocorreu em troca de um empréstimo de R$ 350 milhões da Caixa Econômica Federal. A Marfrig nega qualquer irregularidade na operação e diz que, na época, a empresa não era alvo de mandados. Até setembro, o BNDES participava com 19,61% da empresa.

Uma das companhias que não deram certo é a Oi. Em junho do ano passado, a empresa ingressou com um pedido de recuperação judicial, ante uma dívida de R$ 65,4 bilhões. Esse é o maior caso da história brasileira a tramitar nos tribunais. A companhia do setor de telecomunicações nunca ameaçou os concorrentes e o banco de fomento mantém menos de 5% dos papéis da telefônica.

PREJUÍZOS “A despeito dos problemas dos executivos, as empresas precisam ser preservadas porque têm papel relevante para a economia e para a sociedade”, avalia o economista Antônio Corrêa de Lacerda, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Para ele, quem cometeu irregularidades precisa ser punido e multas devem ser impostas às companhias. Entretanto, linhas de financiamento não devem ser cortadas para asfixiar financeiramente os conglomerados. “Precisam tirar a água suja do banho sem ferir a criança”, resumiu.

Para o economista Gil Castello Branco, secretário-geral da Organização Não Governamental (ONG) Contas Abertas, a política de campeões nacionais trouxe diversos prejuízos para a economia brasileira. Na opinião dele, não teve êxito em gerar empregos e alavancar a indústria brasileira. “O Estado ofereceu recursos públicos com condições generosas para diversas companhias que quebraram ou estão à beira da falência. A política de campeões nacionais, amigas do poder, não deu certo e parece que há uma mudança de orientação”, comentou. (Com agências)

Expansão à base  de dinheiro público

Anápolis, em Goiás, foi palco, em 1953, do nascimento da empresa que se tornaria o maior conglomerado do setor de carnes do mundo. A JBS começou sua expansão a partir da construção de Brasília, quando um de seus fundadores, José Batista Sobrinho, conhecido como Zé Mineiro, passou a comercializar carne para as construtoras e empreiteiras que se instalaram no Planalto Central. Dona das marcas Friboi e Seara, hoje, a JBS é a maior empresa privada em faturamento do Brasil, atrás apenas da estatal Petrobras.

Nos últimos anos, a empresa expandiu seus negócios em decorrência de empréstimos bilionários do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Atualmente, atua em 22 países, nos cinco continentes. São 340 unidades no mundo, que reúnem um contingente de 270 mil colaboradores.

O economista José Matias-Pereira, do Departamento de Administração da Universidade de Brasília (UnB), destacou que o crescimento da empresa tem forte ligação com o aporte dos bancos públicos. “A JBS é uma das empresas que têm maior facilidade em conseguir financiamentos com o setor público. Isso revela que existem empresas inventadas, que começaram sem nenhuma estrutura e conseguiram aportes bilionários do Estado. Esse modo do governo de bancar empresas, em vez de apenas criar condições para seu crescimento, prejudica bastante a economia brasileira”, afirmou o especialista.

A expansão da companhia goiana foi tão rápida que, em 2008, o governo dos Estados Unidos vetou a compra da empresa Smithfield Foods. A transação seria realizada por US$ 565 milhões. Autoridades norte-americanas entenderam que, como já era detentora de outras empresas no país, a compra de mais uma poderia elevar os preços da carne para o consumidor. No entanto, em 2015, a JBS fez uma das maiores aquisições de sua história: a unidade de suínos da Cargill foi comprada por US$ 1,45 bilhão.

O crescimento da JBS e a elevação dos valores recebidos por bancos como o BNDES ocorrem ao mesmo tempo em que doações milionárias são realizadas pela companhia a políticos. Na eleição de 2014, a empresa doou R$ 391,8 milhões para, pelo menos, 16 partidos. Apoio dessa magnitude ajudou a eleger a ex-presidente Dilma Rousseff, 12 senadores, 18 governadores e 190 deputados federais, o que conferiu poder político à companhia a ponto de interferir em decisões como a escolha do ministro da Agricultura. Segundo o último balanço da JBS, o valor de mercado era de R$ 30,3 bilhões no primeiro trimestre. (RS)

 

QUEM É
Perfil da JBS empresa de capital aberto

» Maior processadora de carne do planeta
» Tem negócios em mais de 20 países

Áreas de atuação
» Couros
» Biodiesel
» Colágeno
» Sabonetes
» Glicerina
» Envoltórios para embutidos
» 230 mil empregados no mundo

Principais marcas
» Seara
» Swift
» Friboi
» Doriana
» Moy Park
» Cabana Laslilas
» Pilgrim's
» Primo
» Gold KistFarms
» Pierce
» 1855
» Atende mais de 300 mil clientes em 150 países
» R$ 162,9 bilhões foi a receita líquida do grupo em 2015

 

Crise afeta nota do Brasil


A agência de classificação de risco Moody's demonstrou preocupação com a atual crise política que atravessa o presidente Michel Temer e o risco de as reformas serem interrompidas. Em comunicado divulgado ontem a empresa avaliou que as denúncias dos donos do frigorífico JBS envolvendo Temer “prejudicam a perspectiva de crédito do Brasil, ameaçando paralisar ou reverter o positivo movimento político e econômico observado recentemente”. A empresa ainda demonstrou preocupação com o desvio do foco para os esforços no avanço das reformas fiscais.

A crise política aberta pelas delações da JBS continuou a pesar sobre os negócios do mercado de ações. As incertezas sobre os desdobramentos do caso limitaram um movimento técnico de recuperação das perdas da véspera, que haviam somado 8,8%. O Índice Bovespa, das ações mais negociadas, chegou a subir 3,07% no melhor momento do dia, mas perdeu parte do fôlego à tarde e fechou aos 62.639,30 pontos, com alta de 1,69%. O dólar comercial baixou 0,58%, encerrando o pregão a R$ 3,2560, depois de ter alcançado R$ 3,4000 na quinta-feira.

Segundo os analistas da Moody's, ainda é muito cedo para avaliar os desdobramentos das revelações. No entanto, a companhia avisou que a perspectiva estável do rating Ba2 do país continua sendo a de março passado. “ “Um ressurgimento da desarticulação política e, ainda, a interrupção do momento favorável às reformas que ameace a implementação das reformas fiscais e o cumprimento do teto dos gastos públicos – especialmente atrasos na aprovação da reforma da Previdência – exercerão pressão negativa sobre os ratings”, disse a nota da Moody's. (RH)


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)