O chefe do Executivo, que tem feito um esforço para expor uma agenda positiva em seu governo, aproveitou a levantamento para sinalizar que, segundo ele, é crescente a confiança dos agentes de mercado.
“A economia brasileira volta a crescer e os sinais desse fato são cada dia mais claros”, pontuou Temer. Para o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, o Caged “mostra que as medidas adotadas pelo governo nos últimos sete meses recolocaram o país nos trilhos, fazendo com que a crise fique cada vez mais distante”.
Os dados não apenas são animadores, como também indicam uma incipiente reação dos investimentos, na avaliação do coordenador Geral de Estatísticas do Trabalho do Ministério do Trabalho, Mario Magalhães, com base na geração de postos na indústria mecânica e metalúrgica, subsetores da indústria da transformação, que registrou um saldo de admissões superiores ao de demissões em 7,28 mil postos.
Em fevereiro, a indústria metalúrgica registrou a criação de 659 vagas, enquanto o saldo da indústria mecânica ficou positivo em 254 postos. “Uma produz basicamente computadores. A outra, metais. Isso denota investimentos, compra de capital fixo”, destacou Magalhães. Na avaliação dele, a retomada da indústria tende a se reproduzir na atividade econômica.
CAUTELA
O Brasil ainda está longe de ter motivo para comemorar um bom desempenho no mercado de trabalho, de acordo com analistas. O saldo positivo de 35.612 vagas, em fevereiro, é o primeiro crescimento do emprego desde abril de 2015, resultado de 1.250.831 contratações contra 1.215.219 demissões, que levou o país a 38.315.069 pessoas empregadas.
Mas, nos últimos 12 meses, foram fechados 1,28 milhão de empregos formais. A Região Sul teve o maior crescimento (35.422 vagas). A Sudeste abriu 24.188 vagas e a Centro-Oeste, 15.740. No Norte (-2.730 vagas) e Nordeste (-37.008), as dispensas superaram as contratações.
Para o economista Geraldo Biasoto Júnior, da Universidade de Campinas (Unicamp), a pequena melhora já era esperada. “É de praxe que fevereiro seja melhor que janeiro, por conta das dispensas dos contratados de fim de ano. Mas é difícil garantir que o Brasil vai mesmo melhorar”, ressaltou.
Ele lembrou que o país tem taxa de juro real de cerca de 7% ao ano, vive uma grande desorganização macroeconômica, tem câmbio valorizado e crédito restrito. Além das inseguranças com a Operação Lava-Jato. “A economia está sendo baleada pela política. Como atrair investidores com esse panorama? O medo de começar a admitir ainda não desapareceu”, questionou Biasoto.
No entender do economista Carlos Alberto Ramos, da Universidade de Brasília (UnB), o otimismo do governo deve ser encarado com os pés no chão. Afinal, explicou, a economia real continua deteriorada e a queda de 0,9% do Produto Interno Bruto (PIB) no quarto trimestre de 2016 em relação ao terceiro trimestre é o indicativo de que a reação será mais lenta em 2017.
“A valorização do real em relação ao dólar joga contra a indústria. Os empresários não vão sair contratando a torto e a direita. Precisam da certeza de que as reformas da Previdência e trabalhista serão aprovadas. Tanto admissão quanto demissão têm custos. O empresariado ainda vai aguardar para iniciar retomar os investimentos em mão de obra.” Ele acredita que o mercado de trabalho só apresentará uma melhora mais nítida no último trimestre de 2017.
As flutuações nas intenções dos empresários são sentidas na prática pelos trabalhadores. Fernanda Rocha, de 25 anos, ficou quatro meses sem emprego depois que perdeu a vaga de recepcionista. Agora, trabalha em uma concessionária, mas com salário inferior. “Eu ganhava R$ 2,5 mil por mês. E passei a receber R$ 1 mil. Mas precisava trabalhar. O dinheiro do seguro-desemprego já estava acabando”, revelou. Patrícia Yunes, de 45, viveu situação semelhante. Era secretária em um órgão público. Há três anos, estava entre um grupo de terceirizados que foi demitido.
“Fiz bico como recepcionista de convenções e seminários. Só agora, três diferentes companhias me procuraram ao mesmo tempo. Apesar das opções, o melhor salário é de R$ 3,5 mil. Eu vivia com R$ 4 mil”, reclamou. Ela contou que seu filho, de 22 anos, também foi dispensado na mesma época. “Ele trabalha com tecnologia da informação. Foi convidado para outro estado para ganhar o dobro. Pelo menos, ele teve sorte”, comemorou Patrícia. Já José Paulo Fonseca, de 32, conseguiu equilibrar as finanças. Era vigilante. Agora, é cuidador de cães. “Estou fazendo uma coisa diferente, mas continuo com o mesmo salário. Acabou sendo bom porque não afetou meu orçamento”, destacou José Paulo.
Edna Evangelino, de 29, deixou de trabalhar depois que o salão de beleza onde era manicure fechou, justo no momento em que pensava em fazer um curso de cabeleireira. “Meu avô, que é uma pessoa muito sábio, disse que há males que vêm para bem. Ele me ajudou, eu estudei, aprendi a profissão de cabeleireira e também estou me formando como podóloga. Ainda não consegui emprego, mas estou mais confiante, porque faço vários bicos e não fico sem dinheiro”, contou Edna.
enquanto isso...
...Meirelles prevê recuperação
Após dois anos de recessão, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, previu na manhã de ontem que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro terá crescimento no primeiro trimestre do ano na comparação com os últimos três meses do ano passado. “Esperamos crescimento do PIB no primeiro trimestre, na margem”, disse a jornalistas após participar de um seminário na Alemanha. Ele explicou que não apresentaria um número para a imprensa porque o Ministério não faz previsões trimestrais para o PIB. Um pouco antes, em entrevista à rede de televisão americana CNBC, Meirelles disse que o governo esperava não apenas um crescimento no início de 2017, mas também aceleração da atividade ao longo do ano. De acordo com o ministro, não só as reformas, previstas para serem implantadas ainda este ano, como também a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do teto dos gastos serão estímulos para o crescimento econômico. “Indicadores já mostram recuperação”, considerou, acrescentando que os investimentos estão voltando porque a “economia está em processo de retomada”.