Diferentemente do rali visto antes de 2010, quando ações experimentaram recordes de valorização, mas ainda assim com ritmo otimista, o bom desempenho dos papéis já está levando os investidores a realizar lucros de compras feitas no início do ano. No entanto, analistas ouvidos pelo Estado de Minas alertam que a bolsa não deve ser vista como uma grande banca de apostas de curto prazo, mas sim como investimento de médio ou longo prazo.
É fato que as ações da companhia petroleira que chegaram a R$ 40 em 2009 ainda estão longe de alcançar o mesmo patamar, mas para especialistas a tendência de alta deve persistir até o fim do ano e alguns analistas arriscam dizer que o índice Ibovespa deve continuar firme no médio prazo, a despeito de alguma volatilidade.
“A bolsa não pode ser vista como um cassino, ou cenário de oportunismo. Os investimentos devem ser de médio prazo, entre três e cinco anos”, defende Juliano Pinheiro, presidente em Minas da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec) e professor da Fundação Dom Cabral. Segundo o especialista, apesar da tentação de vender diante de uma forte e rápida valorização, o ideal para quem comprou ações no início do ano, por exemplo, seria aguardar o médio prazo.
Lenon Borges, analista da Ativa Investimentos, concorda. As ações da Petrobras consolidam o maior peso da carteira da corretora, e para o especialista, o momento ainda é comprador, tanto no mercado de ações visto de forma global como para os papéis da petroleira especificamente. “As mudanças de perspectiva na gestão da empresa e a melhora do preço do barril de petróleo ajudaram a alavancar as ações da companhia”, diz o especialista, que acredita que daqui até o fim do ano o momento ainda será de alta para a Petrobras e o Ibovespa, porém em ritmo menos intenso e com alguns altos e baixos. Para 2017, o cenário também é de otimismo.
Análise
Quando as atenções de investidores experientes e também dos iniciantes se voltam para a bolsa de valores, Juliano Pinheiro recomenda atenção e cuidado. “Sempre é um bom momento para investir. O importante é avaliar quais os setores têm boas perspectivas.” Para quem busca os papéis de companhias que estão em baixa, o especialista alerta: “É preciso ter mais racionalidade, avaliar e evitar ser levado pela moda. É importante avaliar qual a capacidade da empresa de crescer e render lucro aos seus acionistas, essa análise é a mais relevante”, diz Pinheiro, apontando que uma eventual desvalorização de um ativo não pode ser a única motivação para a compra. “O principal é observar a capacidade da empresa”, reforça.
No caso de ações da Petrobras e Vale, por exemplo, o presidente da Apimec considera que os papéis ainda estão subvalorizados. Ele também dá algumas dicas para quem busca investimentos: “Setores como infraestrutura e agronegócio são áreas promissoras. Está havendo também uma retomada do segmento de energia, são análises importantes e que devem ser levadas em conta.”
Na crista da onda, ações de bancos que acumulam valorização devem refletir em um médio e longo prazo os efeitos dos movimentos de consolidação do mercado, o que ainda é uma incógnita para os analistas.
As mais negociadas
Apesar de ter mais de 400 empresas listadas na Bovespa, cerca de 10 companhias representam quase 70% do volume de negócios. O analista Roberto Indech, da Rico Corretora, considera que neste momento não há motivos para os investidores deixarem papéis que sofreram grande valorização. Ele cita como exemplo as estatais Petrobras, Vale e Banco do Brasil. Para ele, o forte fluxo da Petrobras, observado neste ano, tem um papel positivo de alavancagem da bolsa e contribui para a boa visibilidade do país e maior confiança nas empresas.
Valorização é sinal de retomada
Como uma espécie de bola de cristal para os mais misticos, ou com o poder de prever com maior precisão e racionalidade o futuro da economia, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que lista perto de 350 empresas brasileiras, vinha seguindo em uma trajetória de baixa. Depois de atingir o auge, como os 73.516 pontos em maio de 2008, o índice se manteve firme, mas passou a perder força a partir de 2010, como que antevendo a crise que se anunciaria para a economia brasileira, atingindo praticamente todos os setores e o mercado de trabalho a partir de 2014.
Agora, mesmo com a recessão e queda na atividade de praticamente todos os setores da economia, o movimento de retomada da Bovespa é apontado com otimismo por analistas. “As análises dos ciclos apontam que o Brasil passou pelo fundo do poço e agora há um otimismo em relação a uma retomada da economia”, avalia Lenon Borges, da Ativa Investimentos. Ele avalia que apesar de o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro continuar caindo, a retração passou a ser um pouco menor e a recuperação da bolsa pode, agora, estar novamente antevendo um movimento futuro.
Para ele, o ritmo da retomada ainda está cercado de expectativas, como o ciclo dos juros definidos pelo Banco Central e especialmente a reforma da Previdência, mas que os sinais são de uma retomada da confiança. Na quarta-feira, depois de 14 meses, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC reduziu a taxa básica de juros (Selic) de 14,25% para 14% ao ano.