Perdido entre o aperto para pagar o plano de saúde e as longas filas de espera do SUS, o consumidor mineiro tem feito consultas e exames usando cartões de desconto, um setor que conquista espaço em tempos de menor renda das famílias e já tem mais de cinco milhões de usuários no país. Em Minas, mais de 1,4 milhão de pessoas já aderiram ao segmento, filão de mercado que cresce sem regulamentação.
Em Minas, há empresas que se especializaram tanto no negócio, a ponto de se tornarem franquias. A popularização da saúde é um tema polêmico, que dá arrepios em entidades de defesa do consumidor e da saúde pública. Eles defendem maior recursos para o SUS e coberturas amplas para os planos de saúde como forma de garantir o atendimento integral. Na semana passada o ministro da saúde, Ricardo Barros chegou a casuar polêmica ao sugerir flexibilização para os convênios médicos, com a criação de planos populares, com a cobertura limitada e preços menores.
Enquanto isso, consumidores cansados de esperar pelo atendimento médico e sem recursos para bancar mensalidades dos planos, se aventuram pelo atendimento de baixo custo. O mercado que corre independente na brecha da saúde oficial, vem engordando no estado, atraindo diversas classes sociais.
Foi por meio de um panfleto, mostrando pessoas saudáveis e felizes que a funcionária pública Áurea Pereira, 45 anos, conheceu o cartão de desconto. Na última terça-feira ela fez consulta com o especialista e todos os exames de rotina usando seu cartão. A modalidade substituiu o plano de saúde que ela manteve até o ano passado.
Áurea diz que o modelo não é um plano de saúde, mas comenta que até agora está satisfeita com a troca que fez: “Meu plano de saúde me custava R$ 600, a empresa financiava uma parte, mas eu ainda pagava R$ 400, ficou muito caro.” Agora, Áurea paga pouco mais de R$ 17 por mês à empresa de descontos e pode usar clínicas em vários bairros da capital. “Paguei R$ 28 pela consulta com o especialista, R$ 74 pelo ultrassom, R$ 95 pela mamografia e R$ 60 pelos exames de sangue. É como se fosse uma co-participação”, compara. Áurea diz que foi bem atendida pelo médico e que até agora não tem queixas: “O único problema é que não tem serviço de Pronto Socorro”, ponderou.
É fácil encontrar na internet os cartões que ofertam desde clínicas até descontos em restaurantes e vestuário. As empresas de auxílio-funeral fornecem o cartão com bastante regularidade, mas também aquelas especializadas no segmento. Em Minas, o cartão de Todos é uma das redes que domina o mercado, está presente em vários estados do país e atua como franquia. O cartão de Todos já conta com 1,4 milhão de usuários no estado e trabalha oferecendo a intermediação de descontos entre os consumidores e pessoas jurídicas (empresas conveniadas).
Relação vulnerável
Marcelo Barbosa, coordenador do Procon Assembleia se preocupa com o mercado, que segundo ele oferece muito pouco ao consumidor e uma rede precária de atendimento. “Como o mercado não é regulado, o consumidor não conta com as normas que estabelecem por exemplo, prazo e qualidade no atendimento, por isso está em uma relação vulnerável, se tiver alguma reclamação deve recorrer ao Procon ou à Justiça.” Barbosa reforça que os cartões não são planos de saúde e por isso o consumidor deve ter bem guardado panfletos que recebeu da empresa, assim como o contrato que assinou.
Os serviços oferecidos são consultas e exames básicos sendo que as clínicas ou os profissionais não são monitorados pela qualidade e também não devem cumprir regras como a obrigatoriedade do atendimento ou rol obrigatório de coberturas.
Há três meses a dona de casa Marli Saldanha, 66 anos, e sua filha, a turismóloga Natalie Rocha, 27 anos, aderiram ao cartão de desconto. Marli vai fazer uma operação odontológica e outra de catarata pelo SUS, e para agilizar o processo fez os exames considerados mais simples, como o risco cirúrgico nas clínicas conveniadas. Marli diz que está muito satisfeita com a agilidade do atendimento e conta que descobriu o cartão por meio de um familiar. “Pelo SUS, teria que esperar um ano pela consulta com o cardiologista, aqui foi bem mais rápido”, diz Marli. Natalie acredita que o cartão é uma opção para quem não tem plano de saúde. “Acho que o cartão deveria ter mais desenvolvido uma ouvidoria para receber as reclamações dos consumidores, podendo descredenciar, por exemplo, clínicas ou profissionais que não atendem bem”, avaliou.
De baixo custo
Como funciona o cartão de desconto para consultas médicas
» Na sede da empresa, consumidor se associa ao cartão, se tornando um “usuário” do sistema
» As mensalidades custam próximo de R$ 20
» Com o cartão, o consumidor pode ter acesso a descontos em serviços que variam da saúde ao lazer
» As consultas custam menos de R$ 30
» Uma mamografia pode custar R$ 95 e o ultrassom R$ 75