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Estado de Minas

Dólar caro pode anular benefícios da importação de feijão

Para conter avanço do preço do grão, que subiu 54% no ano, Michel Temer libera importação. Mas, com moeda dos EUA em alta, produtor, distribuidor e varejo adotam cautela com medida


postado em 23/06/2016 06:00 / atualizado em 23/06/2016 14:54

Com aumento, valor do quilo produto supera o cobrado pelo pacote de 5 quilos de arroz e ameaça casamento preferido dos brasileiros(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press - 4/6/13)
Com aumento, valor do quilo produto supera o cobrado pelo pacote de 5 quilos de arroz e ameaça casamento preferido dos brasileiros (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press - 4/6/13)

Com o dólar ainda em alta, a medida emergencial de liberar a importação do feijão anunciada, ontem, pelo presidente em exercício, Michel Temer, pode não trazer o alívio tão esperado pelos consumidores, conforme analisa o mercado. Ontem, depois de pressionado pela internet, na qual internautas fizeram campanhas para abaixar o preço desse item da cesta básica, Temer anunciou a liberação da importação do grão de países do Mercosul, com possibilidade de trazer o produto do México e também da China. A tentativa durará no máximo 90 dias e pode, ou não, trazer benefícios. “É uma ação de emergência e, com o valor da moeda norte-americana a mais de R$ 3, o feijão chegará às prateleiras também mais caro”, analisa a coordenadora da Assessoria Técnica da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Aline Veloso.


A intenção do governo é incentivar as redes varejistas a importar um volume maior desse item tradicional da mesa brasileira, para, então, forçar a queda dos preços no mercado interno, uma vez que ele subiu 54% no país de janeiro a junho. Porém, além de não agradar produtores, a indústria está em dúvida quanto ao êxito da medida. Em uma delas, por causa do valor da matéria-prima nos mercados internos e também externos, a venda do feijão foi suspensa.

O produto chegou a custar R$ 16 o quilo, nas gôndolas, sendo que antes a mesma quantidade valia R$ 6. Para o momento, no qual tem havido uma procura grande pelo feijão, a Associação Mineira de Supermercados (Amis) avalia que a tentativa de Temer pode ser benéfica, uma vez que pode equilibrar o mercado, segundo o superintendente da associação, Antônio Claret Nametala. “A importação pode ajudar a regular o mercado, já que estamos com o excesso de procura e pouca oferta. Porém, é preciso saber quando os grãos chegariam aqui e se os produtores de lá terão preços competitivos”, comenta Nametala. Ele diz que a medida só vai valer a pena se “trouxer algo novo”. “Se não tiverem valores diferentes dos daqui, não vamos comprar”, pondera.

Sem impostos

Conforme explicou, ontem, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, o planalto estuda a retirada de impostos e taxas cobrados dos produtos vindos de países como China e México. Ele informou que não há uma tarifa de importação para o feijão dos países do Mercosul, como Argentina, Bolívia e Paraguai, mas existe para o mercado chinês e mexicano. “Por sugestão do presidente Temer, vamos, por meio dos ministérios do Planejamento e da Fazenda, retirar os impostos e taxas cobrados de outros lugares, da China e México, além de outros países também”, disse ele.


A retirada do imposto para ingresso no país barateia o produto importado e facilita a chegada dele por aqui. A expectativa é que, com mais oferta no mercado, o preço do feijão caia. Maggi informou que a desoneração deve durar “no máximo por 90 dias”, prazo em que, acredita ele, a crise que gera o encarecimento seja revertida. Porém, para Aline Veloso, da Faemg, o dólar a R$ 3,38 vai ser o entrave. “O governo quer incentivar as redes varejistas a importar, o que trará um volume maior para o país, porém, o dólar está alto e qualquer importação vai impactar no preço do item e ele chegará às prateleiras ainda caro”, aposta.

Ela diz que no México, por exemplo, é preciso uma vistoria sanitária para a praga que existe nas plantações por lá. “A China é muito distante e o volume que vier de lá será menor”, afirma. Para a especialista, o que mudaria esse valor do feijão no mercado brasileiro seria o preço mínimo do governo pago aos produtores, o que poderia estimular o plantio. “Esse valor está muito baixo e faz parte de uma política antiga. O governo lança um contratado de opção de venda aos produtores. Mas o produtor não quer vender para o governo justamente porque se paga pouco”, diz.


Muita pressão fora da panela

Desde o início do ano, o consumidor tem sentido no bolso o peso do preço do feijão nos carrinhos de compra e muitos levaram a alta com humor na internet. Em uma das campanhas, a hashtag #TemerBaixaOPreçoDoFeijão foi usada pelo presidente Michel Temer no anúncio da liberação das importações do produto. Na terça-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por meio da prévia da inflação para o mês, mostrou que o feijão ameaça o sucesso do tradicional prato feito. O tipo carioca, por exemplo, ficou 54,1% mais caro de janeiro a até meados de junho no Brasil, sendo que, além do carioquinha, as outras variedades ficaram mais salgadas, como o mulatinho que subiu 49,42%; o preto com alta de 21,36% e o fradinho 19,49% mais caro.


Em Belo Horizonte, o aumento foi de nada menos do que 58% para o carioquinha. Minas Gerais é o segundo maior produtor de feijão do país, perdendo apenas para o Paraná. “Essa alta do preço foi por causa de questões climáticas. Houve muita chuva no Paraná e, em Minas, houve uma seca severa. Assim, resultou em uma queda na quantidade produzida, o que aumentou o valor do grão no mercado”, comenta a coordenadora da Assessoria Técnica da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Aline Veloso. Para se ter uma ideia, para o feijão carioca ( mais consumido no país), na semana passada, o valor médio da saca com 60 quilos era de R$ 460, sendo que, na média dos anos anteriores a mesma quantidade valia R$ 146.
“Está muito difícil manter a produção de feijão”, comenta o produtor Sérgio Murilo da Silva, da cidade Carandaí, na Zona da Mata. Ele diz que a quantidade produzida por ele este ano, em uma área pequena, de cinco hectares, caiu 50% em relação ao ano passado. “Por mais que tenhamos um preço bom no mercado, ele ainda não compensa os prejuízos. Houve alta dos custos, como adubo, mão de obra, remédios, entre outros. Veio a seca e nos prejudicou com a produção e, mesmo com o preço em alta, não está compensando as perdas”, avalia, dizendo que, com a importação de outros países, a situação do produtor vai piorar ainda mais. “Se não estamos tendo lucro algum, com mais concorrência teremos que abandonar o ramo”, criticou.

CONSUMIDOR A expectativa do mercado é que, com a importação, o preço do feijão tipo carioquinha não abaixe tanto e, até o fim do ano, o valor permaneça alto para os bolsos dos brasileiros. Por isso, a recomendação da Faemg e também da Amis é a de que os consumidores procurem comprar o feijão preto ou de outro tipo, que não sofreu uma alta tão grande como o tradicional carioca. “Estamos em um momento em que o produtor está plantando a terceira safra. O feijão é uma produção que precisa de água e não chove neste período. O custo de produção está alto e estamos todos de mãos atadas. O item deve continuar com preços altos até o fim do ano, e cabe ao consumidor fazer substituições à mesa”, diz Aline Veloso.


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