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Estado de Minas

Produção de café tem quebra de pelo menos 30% em Minas

No terceiro ano consecutivo de estiagem, a região, principal produtora do grão no mundo, convive com problemas típicos do Norte do estado e vê a produção cair por causa da seca


postado em 01/11/2015 11:00 / atualizado em 01/11/2015 14:55

Em Machado, no Sul de Minas, o produtor Adilson Moreira Soares podou a plantação, mas seca reduziu produtividade em 25% e forçou corte de 30% no número de funcionários da fazenda(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Em Machado, no Sul de Minas, o produtor Adilson Moreira Soares podou a plantação, mas seca reduziu produtividade em 25% e forçou corte de 30% no número de funcionários da fazenda (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Machado, Serrania e Varginha – Na linha do horizonte, a vista alcança incontáveis tocos de madeira, galhos e folhas secas, num cenário árido e estéril. Estamos numa fazenda de café no Sul de Minas, famoso pelo clima ameno e com chuvas regulares, ideal para a cafeicultura. No terceiro ano consecutivo de estiagem, a região, principal produtora do grão no mundo, convive agora com problemas típicos do Norte do estado e vê a produção cair por causa da seca. Se antes bastava esperar a chuva, produtores têm que driblar até mesmo a falta de água para o abastecimento das fazendas. Mas o impacto da seca na lavoura de café não se restringe ao Sul. Apenas nesta safra, que acaba de ser colhida, houve quebra de pelo menos 30% na produção no estado, em decorrência principalmente da escassez de precipitações, segundo o Centro de Comércio de Café do Estado de Minas Gerais (CCCMG).

“A seca afetou a produção de 2014, a de 2015 e vai afetar a de 2016. Estamos passando o momento de florada e as chuvas não estão como deveriam. Nesta safra, faltou chuva e os grãos ficaram pequenos. Tivemos uma quebra de 30% a 35% em relação ao que era esperado”, afirma o presidente do CCCMG, Archimedes Coli Neto. “Se não chover a curto e médio prazo não há o que se fazer, é esperar São Pedro. A médio e longo prazo, temos que começar a repensar o uso da água, a melhoria das nascentes e de captações nas fazendas”, completa. Por causa da menor produção, o preço do café se manteve em alta nesta safra.

Poda radical nas lavouras foi adotada pelos cafeicultores em Serrania, na região Sul(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Poda radical nas lavouras foi adotada pelos cafeicultores em Serrania, na região Sul (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
A estiagem que persiste há três anos no Sul de Minas levou o produtor rural Otávio Nunes a fazer a poda radical de 25 mil pés de café, que representa mais de 80% de sua lavoura, em Serrania. Os galhos e folhas foram cortados e só sobraram tocos. “Tive que fazer isso por causa da falta d’água. O café estava sem folha, muito ruim”, afirma Nunes, que acaba de colher safra magra. “A previsão era de 300 sacas e só consegui colher 116, menos da metade”, reclama.

Agora, café em seu terreno só em 2017. Enquanto os pés não crescem novamente, ele vai aproveitar espaços na plantação para tentar cultivar milho e feijão e conseguir pagar os funcionários. “A gente só reza. A previsão é por conta do Climatempo e ele erra”, lamenta o produtor rural, que, em duas décadas, nunca viu situação parecida. “Nunca tinha visto tão seco. Se tirar água do rio para irrigar o café, falta água na cidade”, diz.

Terceira maior cooperativa de café do estado, a Minasul, de Varginha, no Sul de Minas, registra quebra de 20% da safra deste ano. “Aqui, a chuva sempre foi muito regular. Nos três últimos anos, está terrível. O que está prejudicando a produção do café hoje é a seca. E não sabemos quantos anos vai durar”, afirma o presidente da cooperativa, Osvaldo Henrique Paiva Ribeiro, que, no ano passado, viu a produtividade de sua fazenda cair 60%. “Os cafés mais graúdos estão mais escassos”, diz.

Presidente da Minasul, Osvaldo Ribeiro diz que em Varginha quebra da produção é de 20%. Irrigação entra no radar(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Presidente da Minasul, Osvaldo Ribeiro diz que em Varginha quebra da produção é de 20%. Irrigação entra no radar (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Temperatura

Segundo Ribeiro, ainda não é possível constatar queda na qualidade da bebida. Mas Coli Neto alerta que a falta de chuvas vem acompanhada de um problema desconhecido. “O que mais preocupa são as altas temperaturas. A planta não está adaptada a três graus acima da média. É um problema que ainda não sabemos aonde vai parar”, afirma o presidente do CCCMG.

Na Minasul, que fornece 1,2 milhão de sacas por ano para o mercado nacional e internacional, tem crescido entre produtores a demanda por irrigação no café, técnica até então pouco usada na lavoura de café no Sul de Minas. “Estava pensando em instalar irrigação na minha fazenda, mas estou mais preocupado em ter água para beber”, ressalta Ribeiro. A cooperativa passou a contar com projeto que mapeia propriedades com possibilidade de irrigação e a discutir a conservação de nascentes.

O cafeicultor Adilson Moreira Soares, dono da fazenda Recanto do Engenho, em Machado, não economiza palavras: “A seca está acabando com a vida da gente”. A produtividade da fazenda caiu 25%, pois o grão de café ficou menor e mais leve. “Antes, 420 litros de café faziam uma saca de 60kg. Agora, preciso de 525 litros, sendo que, quem tem gente precisando de 800 litros”, explica. “Se continuar a falta água, vai faltar café. Uma coisa é inerente à outra”, afirma.

A contragosto, Soares precisou cortar 30% dos funcionários. Além do prejuízo no bolso com a queda da produção, as propriedades começam a ter problemas de abastecimento, com o desaparecimento de nascentes. “Tive até que furar um poço semi-artesiano, porque duas das quatro nascentes secaram no ano passado”, afirmou, lembrando que, no passado, a abundância de água foi o que levou o bisavô para as terras.

21,9 milhões de sacas deve ser a produção de café este ano em Minas, com queda de 3,5% sobre 2014, segundo previsão da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento

El Niño

O Sudeste do país está sob a influência do fenômeno El Niño, causado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico na costa andina. No Brasil, ele provoca, entre outros efeitos, aumento das chuvas no Sul e massa de ar seco no Sudeste, reduzindo as precipitações. Segundo o meteorologista Luiz Ladeia, do 5º Distrito do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet-MG), em novembro e dezembro deve haver aumento de umidade e chuvas mais regulares em Minas, mas ainda abaixo da média histórica desse período.


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