
Que a água é essencial à vida ninguém duvida, mas a crise hídrica pela qual atravessa Minas Gerais tem mostrado como ela também é vital à economia. Do turismo à indústria, a estiagem corta o estado de norte a sul e, somada à recessão que o país enfrenta, está secando o bolso de empresários, produtores rurais e comerciantes. Café, leite, peixes, hortaliças, mineradoras, tecelagens, metalúrgicas, usinas de açúcar, entre outros setores. Difícil escapar dos efeitos da falta da água, que não escolhe setor. No terceiro ano consecutivo com chuvas abaixo da média histórica, produtividade, investimentos e, consequentemente, o faturamento das empresas e a renda das famílias também ficam abaixo do esperado. Para mostrar essa situação, repórteres do Estado de Minas percorreram municípios em várias regiões do estado, como Machado, Varginha, Abaeté, Três Marias, Morada Nova de Minas, Montes Claros e Franciso Sá. A realidade da estiagem nesses lugares é contada na série de reportagens “Seca + crise”, que o EM publica a partir de hoje.



Pescado míngua e turistas somem
Do pasto e da lavoura para os rios e lagos, a seca atingiu diretamente a piscicultura. Maior produtor de pescados no lago de Três Marias, no município de Morada Nova de Minas, a mortalidade dos peixes é medida em toneladas. Na ponte sobre o Rio Sucuri, onde está um braço da represa, a água deixou de correr por completo, só ficou a terra seca. A estiagem transformou os piscicultores em nômades, realidade também presente no Lago de Furnas, que banha 34 municípios mineiros. De tempos em tempos, eles são forçados a migrar com seus tanques em busca dos pontos mais profundos da represa.
A estiagem aliada ao crescimento do desemprego afeta também o turismo. No tradicional Lago de Três Marias, no Rio São Francisco, as lanchas e jet skis sumiram. O movimento do turismo caiu 40%. No Lago de Furnas, também conhecido como o “Mar de Minas”, há lugares que estão mais para sertão. Em cidades do Sul do estado banhadas pela represa, o turismo despencou 50%. No Norte de Minas, até as lagoas em áreas de clubes secaram completamente. (Com Luiz Ribeiro e Marta Vieira)
80%
É o corte na produção dos fabricantes de ferroligas no Norte do estado, afetados pela estiagem que elevou o custo da energia elétrica em até 50% este ano e pela recessão econômica
Análise da notícia
Urgência e sabedoria
Pedro Lobato
Em meio à recessão que vem frustrando a retomada da atividade econômica no país (o Produto Interno Bruto deve recuar 3% este ano e pelo menos 1% em 2016), tudo o que a economia mineira não precisava em 2015 é de uma seca. E, desta vez, não se trata de uma estiagem qualquer, daquelas que costumam frequentar o Norte do estado. A reportagem mostra que a falta d'água afeta também o Sul de Minas e impede a cafeicultura – tradicionalmente poderosa em Minas – de ganhar com alta do dólar. Depois de elevar o custo da energia, a seca promete mais estragos e sugere que indústrias e agronegócio não descartem, em seus planos, a hipótese do racionamento. A combinação crise seca certamente não poupará o emprego, fazendo desse o seu lado mais perverso. Por isso mesmo, tem de ser enfrentada com urgência, mas com sabedoria. A precipitação que desmonta ativos não é boa conselheira.
