(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Escolas privadas vão perder 6% dos alunos

Mais de 80 mil alunos devem ir para a rede pública no ano que vem, empurrados pelo calote, que chega a 35% nas instituições menores, e pelo reajuste de até 14% em 2016


postado em 20/10/2015 06:00 / atualizado em 20/10/2015 07:20

Vanessa e Marcus Marinho nunca viram tantos pagamentos em atraso no instituto que dirigem(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Vanessa e Marcus Marinho nunca viram tantos pagamentos em atraso no instituto que dirigem (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
A crise que atinge a economia brasileira está interrompendo o sonho principalmente das famílias das classes C e D, que matricularam seus filhos na escola privada. A alta do custo de vida e o crescimento do desemprego têm elevado a inadimplência no setor. Se não bastasse essa dificuldade, o Sindicato das Escolas Particulares (Sinep-MG) anuncia reajuste das mensalidades entre 10% e 14% para o ano que vem, mas ao mesmo tempo estima que, em Minas, perto de 83 mil alunos vão migrar da rede particular para a pública. Em Belo Horizonte, já há caso de escola que decidiu ingressar na Justiça contra pais inadimplentes. O Instituto Pedagógico Valéria Marinho, no Bairro São Paulo, pretende adotar essa medida para preservar a sobrevivência do negócio.

A evasão prevista em 6%, se confirmada em dezembro, reverte um ciclo de alta das escolas particulares. Nos últimos cinco anos, o crescimento médio do universo de estudantes nessas instituições se manteve próximo de 7%, segundo o sindicato das empresas. A classe C chegou a ser apontada como a boa notícia no setor, compensando o encolhimento das famílias, que reduz o número de crianças nas salas de aula. “A inadimplência cresceu muito e atinge principalmente as instituições com até 300 alunos, com mensalidades mais baratas que a média do mercado”, diz o presidente do Sinep, Emiro Barbini.

Apesar de as mensalidades estarem pesando mais para as classes C e D, ninguém escapou totalmente, afinal o calote cresceu até mesmo em escolas que atendem o público da classe B. “A inadimplência cresceu de 12% para até 35% em escolas menores. Já nas instituições maiores que atendem as classe B e A , o percentual subiu, em média, de 4% para 8%”, afirma Barbini.

No Instituto Manuel Pinheiro, no Bairro Guarani, onde ha 1 mil alunos, a inadimplência aumentou de 3% para 20%. “Tínhamos um endividamento tímido entre os meses de junho e agosto. Mas nada muito grave, girava em torno de 3%. Este ano, levamos um susto”, comenta a diretora pedagógica do instituto, Renata Gazzinelle.

Mariana Cassão cortou a jornada do filho João na escola para reduzir as despesas(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Mariana Cassão cortou a jornada do filho João na escola para reduzir as despesas (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Segundo ela, com 200 pais endividados, muitos deles já avisaram à escola que, em 2016, não vão conseguir manter seus filhos.

Para o ano que vem, Renata diz que foi feita uma sondagem de novos alunos para o instituto e houve uma queda de 30%. “Os inadimplentes não podem fazer a rematrícula, mas vamos negociar prazos. O problema que estamos vivendo é econômico e envolve toda a população brasileira”, avalia.

Nova rotina A rede estadual e a Prefeitura de Belo Horizonte afirmam estar preparadas para receber os novos alunos. O cadastramento escolar, feito em conjunto entre estado e municípios, dá uma prévia das novas matrículas na rede pública. O cadastramento teve um crescimento maior que o esperado neste ano. De acordo com a Secretaria de Estado da Educação, foram 166.399 mil novos estudantes, quando a expectativa do estado era receber cerca de 150 mil cadastros.

Segundo o presidente do Sinep, cerca de 80% das escolas devem aplicar reajustes entre 10% e 12% para cobrir as perdas provocadas pela inflação, custos de insumos e reajustes dos salários de professores e funcionários. “A escola particular está vivendo um momento difícil. Se pressionar a mensalidade, perde-se o aluno, se não der o reajuste correto, fica insolvente. É preciso ter muita cautela, atenção aos custos e chamar os pais para negociar.”

Desejo de Janaína de trocar o filho Miguel de escola não foi realizado(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Desejo de Janaína de trocar o filho Miguel de escola não foi realizado (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
O valor da escola pesou na decisão da promotora de vendas Janaína Andrade. Com três filhos em escola particulares de BH, ela gasta, por mês, cerca de R$ 3,5 mil somente com a educação das crianças. A crise da economia e o receio do que pode vir em 2016 a levaram a optar por deixar o seu caçula, Miguel, de 4 anos, na escola mais barata. O desejo era colocá-lo na mesma instituição onde estuda a irmã, de 15 anos, mas o custo inviabilizou a ideia. “Cortamos o lazer, mas a educação não”, afirma Janaína.

A opção da gestora de vendas Mariana Cassão foi reduzir os gastos. O filho João, de 7, estudava durante dois turnos na escola, sendo que de manhã tinha aulas de reforço, de informática e praticava esporte. “Estava gastando quase R$ 1 mil para que ele ficasse esse tempo todo. Então, retirei o horário da manhã e, com isso, reduzi minha carga horária no trabalho para poder ficar com o João em casa”, conta.

Negociações nem sempre cumpridas


A inadimplência dos pais na escola particular está refletindo nas contas das instituições. Em BH, com 100 alunos, o Instituto Pedagógico Valéria Marinho, no Bairro São Paulo, conta 40 inadimplentes e decidiu entrar na Justiça para impedir a insolvência do negócio. “Há aqueles pais que atrasam um mês o pagamento e acertam no seguinte, passando a dever no outro mês. Para esses fazemos acordos. Porém, há aqueles que estão devendo desde janeiro deste ano. Funcionamos há oito e nunca passamos por isso”, reclama a diretora do instituto, Vanessa Marinho. A solução que a escola encontrou foi entrar na Justiça contra os pais endividados. “Não há outra forma. São 40% inadimplentes, vamos entrar com ações judiciais”, anuncia o diretor financeiro da instituição, Marcus Marinho.

Para o próximo ano, o instituto irá reajustar a matrícula em 12%, elevando de R$ 300 o custo da educação infantil para R$ 340. No ensino integral, o preço chegará a R$ 510, e no fundamental a R$ 370. “A nossa esperança é que, como nossos valores são menores se comparados com outras escolas da região, pais optem em trazer seus filhos para o instituto. Assim, acredito que haverá uma procura maior para o ano que vem”, diz Vanessa. No entanto, até o momento, ela conta que tem havido telefonemas para novas matrículas, mas nada efetivo.

Pesquisa divulgada pela empresa de consultoria Serasa Experian mostra que o sufoco para pagar a escola é um problema nacional. No país, a inadimplência dos alunos com instituições particulares de ensino fundamental, médio e superior aumentou 22,6% no primeiro semestre de 2015, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Esta foi a maior alta, em um primeiro semestre, desde 2012. No primeiro semestre de 2014, comparado a 2013, a inadimplência dos estudantes havia apresentado queda de 1,3%.

No ensino fundamental e médio, o crescimento das contas em atraso no primeiro semestre foi ainda maior, de 25,9%. Luiz Rabi, economista da Serasa, diz que com o cenário econômico adverso não há perspectivas para melhora no segundo semestre. “O consumidor deixa de pagar primeiro as contas que lhe causam menor transtorno. Nesse caso a lei protege o inadimplente, que não pode se rematricular, mas pode terminar o ano escolar.”

Segundo o levantamento da Serasa Experian, a inadimplência das instituições de ensino aumentou 26,7% no primeiro semestre ante os primeiros seis meses de 2014. Considerando apenas as escolas de ensino fundamental e médio, a inadimplência aumentou 27,2% nos primeiros seis meses de 2015 em relação ao mesmo período de 2014. O crescimento do calote nas instituições de ensino superior no mesmo período foi 25,3%. “Esse percentual é mais alto do que a média da inadimplência dos demais setores da economia, que ficou em 16,4% no primeiro semestre de 2015”, compara Luiz rabi, economista da Serasa. (LE e MC)


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)