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Estado de Minas

Moody's: cenário provável é de avaliação do rating do Brasil em meados de 2016

Para vice- presidente da Moody's, só algo totalmente inesperado mudaria a visão sobre o país a 90 dias do fim do ano


postado em 06/10/2015 12:19 / atualizado em 06/10/2015 15:56

São Paulo – O vice-presidente da Moody's, Mauro Leos, afirmou que "o cenário mais provável é que a avaliação do rating do Brasil ocorra em meados de 2016". "Só algo totalmente inesperado mudaria nossa visão sobre o país neste ano, pois faltam pouco mais de 90 dias para terminar", disse ele, que participou nesta terça-feira, da 17ª Conferência Anual da Moody's, em São Paulo.

De acordo com Leos, se o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, deixasse o governo, a agência não tomaria uma ação de rating automaticamente. Segundo ele, seria preciso analisar os motivos que levaram à eventual saída e também quem seria seu substituto e a capacidade desse novo ministro de lidar com o Congresso.

"A verdadeira questão é se a saída de Levy levaria a um enfraquecimento do ajuste fiscal. Quando se está em uma situação difícil como o Brasil, a percepção do mercado é um fator essencial, pode complicar as coisas de um dia para o outro, no

governo, na economia. Pode-se pensar que a reação inicial da saída de Levy seria negativa, mas o importante é o que acontecerá depois", comentou.

Leos afirmou que as pessoas são importantes, mas o fundamental são as políticas. "No fim do dia, o importante é o poder e a capacidade de avançar com certas políticas. Teríamos de analisar, ver os motivos dessa eventual saída de Levy e se isso significaria que a visão sobre as políticas econômicas que virão seria diferente."

O representante da Moody's apontou que Levy tem uma visão muita clara sobre os objetivos que deseja alcançar, mas é obrigado a exercer um papel duplo, que inclui a negociação com o Congresso. "Se houvesse um ministro diferente, teríamos de ver sua habilidade de lidar com o Congresso. No fim das contas, é um resultado de 'empurra e puxa'".

ORÇAMENTO Mauro Leos avaliou que, no curto prazo, uma das questões mais importantes que o Brasil precisa resolver é o Orçamento de 2016. "É preciso haver um consenso mínimo sobre as medidas básicas que precisam ser tomadas. Há elementos para que o superávit seja o mais perto possível da meta de 0,7% do PIB", comentou.

Leos disse que existem medidas que podem e devem ser tomadas no âmbito das despesas, mas isso é mais para o médio prazo. No curto prazo, elevar as receitas é essencial. "Grande parte da discussão atual tem a ver com a CPMF", apontou.

Perguntado se reuniu-se recentemente com representantes do governo, Leos disse que a Moody's está sempre em contato com Levy e outros integrantes da administração federal, além do Banco Central. "Há um fluxo constante de informação. O governo tem noção do que pretende fazer e o que diz para nós não difere em nada das declarações públicas", afirmou.

O representante da Moody's disse que a agência não foi surpreendida pela deterioração nas condições econômicas do Brasil, porque já esperava uma piora dos indicadores. Segundo ele, há medidas que o governo poderia tomar no curto prazo para aliviar a pressão, mas sem esquecer de ações mais estruturantes. "Há diferentes estimativas sobre quando será atingido o fundo do poço. A pesquisa Focus continua mostrando piora", comentou.

CPMF Leos afirmou que não acredita que a CPMF seria a única medida que vai solucionar as dificuldades das contas públicas do país. "Não digo que a CPMF é a solução para os problemas fiscais. Mas é difícil ver ajuste fiscal sem medidas para elevar as receitas. A CPMF é uma delas", disse.

Na avaliação de Leos, a volta dessa contribuição seria um elemento importante para o Brasil atingir a meta de superávit primário de 0,7% do PIB em 2016. Segundo ele, o PMDB é elemento-chave para a aprovação da CPMF no parlamento. "Talvez a resistência à CPMF no Congresso hoje não é a mesma do que no passado recente."

Inadimplência dos bancos

No mesmo evento em São Paulo, o analista sênior da agência de classificação de riscos Moody's, Alcir Freitas, disse que a tendência é que a inadimplência dos bancos brasileiros se acelere a partir de agora ao longo do próximo ano. Para ele, o ambiente operacional dos bancos começa a impactar a qualidade dos ativos e, assim, a agência enxerga uma pressão moderada do capital dessas instituições financeiras.

Freitas destacou que a alavancagem da economia brasileira está atualmente em patamares recordes. "O crescimento do crédito desde 2002 tem acontecido de forma acelerada, o equivalente a 1,6 vez o PIB nominal médio nesse período. O crescimento acelerado do crédito é um fator muito associado a default dos bancos", disse o analista. O contexto de crescimento acelerado do crédito somado a uma maior alavancagem acaba reduzindo a flexibilidade financeira das empresas e famílias, concluiu.

Por outro lado, o analista da classificadora de riscos disse que os bancos têm capital regulatório suficiente para absorver aumento esperado na inadimplência. "Os bancos devem manter a capacidade de geração de receitas, que vão compensar o aumento das provisões", disse.

O analista disse ainda que o spread bancário visto hoje reflete tanto o aumento da inadimplência como a expectativa de seu crescimento.


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