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Estado de Minas A FÉ QUE MOVE A SANTA PRODUÇÃO

Indústria artesanal mantida em mosteiros e outros recantos sagrados de Minas reforça o caixa

Há de queijo a cerveja feitos por mãos acostumadas a rezar


postado em 05/04/2015 07:00 / atualizado em 05/04/2015 09:59

Retomar a produção (da cerveja Hofbauer) é resgatar parte da nossa história e cultura. A cerveja feita no convento tem mais gosto de história do que de malte - Padre Flávio Campos, da Igreja São José(foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
Retomar a produção (da cerveja Hofbauer) é resgatar parte da nossa história e cultura. A cerveja feita no convento tem mais gosto de história do que de malte - Padre Flávio Campos, da Igreja São José (foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
Refúgios de contemplação, mosteiros católicos visitados durante todo o ano em Minas Gerais transformam a cozinha em extensa e rentável linha de produção de alimentos e bebidas. A habilidade das mãos que pedem a proteção divina não só conquista os devotos, como também ajuda a financiar os templos, num cenário de economia fraca e de consumidores arredios. A participação dessa santa indústria artesanal no caixa é, ainda, recente, e, talvez por isso, difícil de ser apurada, mas pode chegar a quase metade da receita deixada pelos peregrinos e admiradores, a exemplo do Santuário de Nossa Senhora da Piedade, em Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.


Se é verdade que a fé move montanhas, na Serra da Piedade, ela movimenta as quintadas Cristo Rei e a pequena queijaria montada pelo falecido Frei Rosário. Os produtos ganharam lugar privilegiado no caixa do santuário erguido em homenagem à padroeira de Minas Gerais. Há fila de espera pelos queijos curados na ermida por no mínimo 60 dias, tradição mantida graças à umidade, ao clima propício e à altitude de 1.746 metros. Com demanda crescente dos fiéis e admiradores pelo cardápio, o pró-reitor do santuário, padre Carlos Antônio da Silva, planeja ampliar a infraestrutura de fabricação de roscas, biscoitos, doces e queijos servidos a pelo menos 250 visitantes por semana.

Terezinha Lima não vê o tempo passar ao produzir as quitandas oferecidas aos romeiros do local sagrado(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Terezinha Lima não vê o tempo passar ao produzir as quitandas oferecidas aos romeiros do local sagrado (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
“Trabalhamos num projeto de resgate cultural do santuário e, nisso, a culinária influencia até mesmo na identificação espiritual das pessoas que nos visitam”, afirma. Sob as bênçãos da santa, a gastronomia inspirada na comida dos antigos romeiros e dos religiosos já responde por 49% de toda a receita deixada pelos peregrinos e admiradores. Os outros 51% estão distribuídos entre as doações e as taxas para estacionar.

Ainda em Caeté, os licores, doces e biscoitos produzidos pelas Irmãs Auxiliares de Nossa Senhora da Piedade no Instituto São Luís fortaleceram os laços com a gastronomia produzida no convento e contribuem para a folha de pagamento. Em obras, a instituição prepara a abertura de um restaurante e uma pousada, que vão dar mais serviço às religiosas dedicadas às receitas. “Pensamos em melhorar a nossa produção, que é diária e nos ajuda na manutenção do convento”, diz irmã Joana D’Arc Paulino, diretora do São Luís.

Para melhorar o atendimento aos cerca de 70 mil visitantes que recebe ao longo do ano, o Santuário do Caraça, imponente construção de 240 anos em Santa Bárbara, na Região Central de Minas Gerais, incluiu em seus investimentos as reformas do refertório, da padaria e da adega. A valorização da culinária desenvolvida desde o início do século passado faz todo sentido, diante da importância que a produção de pães, quitandas e vinhos assumiu como fator de atração de fiéis e admiradores e como fonte de recursos para a sustentação do mosteiro.

A remodelagem da infraestrutura dos serviços de alimentação atendeu as exigências da segurança alimentar e a um programa de resgate cultural da gastronomia, informa o padre Lauro Palú, diretor do santuário. “Somos o segundo parque mais visitado de Minas Gerais e a tradicional culinária faz com que os visitantes retornem com mais gosto”, afirma.

Alair Silva cuida da maturação dos queijos que já foram levados até para Portugal e Itália(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Alair Silva cuida da maturação dos queijos que já foram levados até para Portugal e Itália (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
SAGRADA 
Em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, foi com o mesmo objetivo de retomar a tradição cultural dos irmãos holandeses da Congregação do Santíssimo Redentor que o padre mineiro Flávio Leonardo Santos Campos retomou a produção da cerveja Hofbauer – Cerveja do Convento. A bebida típica das refeições dos religiosos estrangeiros começou a ser fabricada em 1894 e durante 100 anos ocupou o porão da Igreja Nossa Senhora da Glória, até cair em desuso, quando eles já não mais trocavam a Holanda pelo Brasil.

Renovado em 2012, numa parceria com cervejeiros do município, o espaço cervejeiro passou no teste das vendas em 2014, na Festa de São Geraldo. As 96 garrafas que deveriam ser comercializadas durante oito dias esgotaram em 48 horas. Servida em eventos promovidos pela Congregação dos Redentoristas e usada para presentear visitantes, a cerveja tem despertado o interesse de colecionadores, que buscam mais informações sobre a bebida no convento e com o padre Flávio Campos. Ele decidiu recuperar a pequena usina de fermentação em 2009 – ano das comemorações do centenário de canonização de São Clemente Maria Hofbauer – e é o responsável pela fabricação.

“Retomar a produção é resgatar parte da nossa história e cultura. A cerveja feita no convento tem mais gosto de história do que de malte”, costuma enfatizar padre Flávio, vigário da Paróquia de São José, em Belo Horizonte, que também já teve a sua cervejaria. Na década de 1960, o espaço cervejeiro da igreja e convento localizados no Centro de BH foi transformado em quarto de hóspedes. Um colecionador adquiriu os equipamentos. A intenção é voltar a produzir a Hofbauer durante quatro vezes por ano, como em 2012.
A gastronomia responde por 49% da receita deixada no Santuário de Nossa Senhora da Piedade, segundo o Padre Carlos Antônio(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
A gastronomia responde por 49% da receita deixada no Santuário de Nossa Senhora da Piedade, segundo o Padre Carlos Antônio (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)

BÊNÇÃO DA CERVEJA

Abençoai, Senhor, esta
criatura, a cerveja,
que vos dignastes produzir
do melhor lúpulo,
para que seja remédio
saudável ao gênero
humano. Concedei que,
pela invocação do vosso
Santo nome, todos os
que dela beberem recebam
a saúde do corpo e a
firmeza da alma.
Por Cristo, nosso Senhor.
Amém


(Ritual de Sacramentos e Sacramentais/Secretariado Nacional de Liturgia/Redentoristas – 1965)


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