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Estado de Minas

Carne de porco é vilã da inflação de Natal em BH

Com aumento de 13,8%, cortes suínos lideram reajuste da cesta de 32 itens pesquisados pelo IBGE para o EM. Cerveja e frango também encarecem as festividades de fim de ano


postado em 23/12/2014 06:00 / atualizado em 23/12/2014 07:10

As carnes e as bebidas encareceram o orçamento das famílias para as festas de Natal pelo terceiro ano na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A dona de casa que optou pelos cortes de porco pagou 13,8% mais em 2014, na comparação com o ano passado, e os preços do frango inteiro subiram, também em média, 9,57%. São remarcações expressivas, entre os gastos típicos desta época, quando comparadas à variação de 5,37% do custo de vida, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Cerveja, refrigerantes e água também sacrificaram o bolso do consumidor, ao exibir alta dos preços de 6,94%, na média. Com aumentos tão fartos, a inflação do Natal só não decolou sob a pressão da ceia graças aos televisores e aparelhos telefônicos, que baratearam 5,28% e 7,74%, respectivamente.

No balanço das despesas das comemorações de amanhã e quinta-feira, o IPCA natalino foi de 4,80% na capital mineira e entorno. O índice é um indicativo da evolução das contas do almoço, da ceia e dos presentes trocados na noite de Natal a partir do levantamento de preços de uma cesta contendo 32 itens, com base na pesquisa do IPCA nas 11 principais áreas metropolitanas do país. Os números são resultado da comparação dos preços de janeiro a novembro último, em relação a dezembro do ano passado. Autor do estudo encomendado há cinco anos pelo Estado de Minas, o analista do IBGE Antonio Braz de Oliveira e Silva verificou que embora o conjunto dos produtos tenha encarecido menos que o custo de vida na Grande BH, a inflação da festa não dá trégua, depois de altas expressivas em 2012 (5,16%) e 2013 (6,22%).

“A inflação do Natal combina uma demanda aquecida em razão do aumento da renda da população com os efeitos da estiagem e das exportações que diminuíram a oferta dos alimentos no mercado interno”, afirma o analista do IBGE. Como consequência dos dois fatores, os preços ao consumidor subiram. De janeiro a novembro, as exportações mineiras de carne suína cresceram 14,5% para US$ 147,2 milhões, frente ao ano passado, segundo a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg). Preços favoráveis também beneficiaram os embarques do Brasil de carne de frango, que aumentaram 2,5%, ante 2013, novo recorde.

Por região São Paulo liderou a carestia na comemoração de fim de ano, com IPCA natalino de 6,71%, seguido de Porto Alegre (6,44%) e Distrito Federal (5,80%). Na média brasileira, o Natal ficou 5,16% mais caro, ante o IPCA de 5,58%. Na Grande BH, dos sete grupos de produtos usados para compor a cesta de despesas, só o de TV, som, informática e aparelhos telefônicos mostrou redução de preços, de 0,54%, em média.

Como o consumidor já vinha percebendo, os preços dos alimentos mantiveram elevação. O reajuste médio da comida na cesta do Natal foi de 5,69%, depois de fortes altas de 7,72% em 2012 e de 12,17% em 2013. Braz e Silva, do IBGE, observa que as carnes, devido ao seu peso na composição do orçamento, constituíram a maior fonte de pressão sobre a inflação natalina. Não foi surpresa para a terapeuta Ângela Randazzo, e a filha Juliana, diretora de vendas, que resolveram promover mudanças na ceia preparada para 25 pessoas da família.

“A conta deste ano ficaria o dobro dos gastos do ano passado, mas não há como deixar de fazer uma confraternização tradicional”, afirma Ângela. Juliana diz que a opção foi escolher o pernil como prato principal, quando a prática mantida até 2013 era degustar uma ceia farta, que incluía, além da carne de porco, bacalhau e peru. “Todos se encontram é nessa época. O que decidimos foi reduzir um pouco do orçamento”, afirma. As remarcações da castanha portuguesa foram particularmente surpreendentes, segundo a terapeuta, que pagou R$ 49,90 pelo quilo da iguaria, um aumento de quase 180% frente os R$ 18 que ela desembolsou por quilo no ano passado.

Brinde excessivo

Se os alimentos surpreenderam, o maior espanto foi ver como as bebidas encareceram. Na Grande BH, todos os itens desse grupo de consumo sofreram reajustes de preços acima da inflação. De acordo com o levantamento feito pelo analista do IBGE em Minas, a cerveja liderou os aumentos, ao ficar 7,45% mais cara. Os preços de refrigerante e água mineral subiram 6,81%, em média, e outras bebidas alcoólicas, 5,60%. Braz e Silva destaca que os gastos com as bebidas fora de casa foram superiores em todas as categorias.

Na indústria, a explicação para o avanço dos preços da cerveja está associado a um reflexo tardio da elevação da alíquota do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) de 20% para 24%, só aplicada depois da Copa. O presidente do sindicato do setor em Minas (Sindibebidas), Mário Morais Marques, diz, ainda, que as empresas foram obrigadas a repassar, também, os custos com o frete, devido à liberação do reajuste dos preços do diesel. “O setor vinha segurando os aumentos, mas infelizmente, com os custos já muito ajustados, não houve como deixar de repassar o aumento das despesas”, afirma.

Mercado prevê estouro da meta


O mercado financeiro está mais pessimista sobre o desempenho da economia em 2015. Pela primeira vez, analistas de bancos e corretoras passaram a prever que a inflação estourará o teto da meta oficial no ano que vem, impulsionada pela alta do dólar e dos preços administrados, como combustíveis e energia elétrica. Além disso, a economia crescerá menos do que se previa neste ano e no próximo.

De acordo com pesquisa semanal Focus divulgada ontem pelo Banco Central (BC), o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subirá 6,54% em 2015. A meta do governo é de 4,5%, com margem de dois pontos percentuais. A previsão deste ano se manteve em 6,38%. O BC já admitiu que a inflação que só vai convergir para a meta no fim de 2016.

Os economistas acreditam que o dólar terminará este ano em R$ 2,65 e chegará a R$ 2,75 no fim de 2015. Ontem, a divisa fechou em R$ 2,66 para a venda, com alta de 0,13%. O conjuntos dos preços regulados pelo governo deve aumentar 7,60% em 2015, mais que os 7,48% previstos na semana passada.

Diante das pressões, o BC terá que pesar a mão nos juros para evitar a inflação dispare. Os analistas apostam que a Selic, atualmente em 11,75% ao ano, subirá para 12,25% em janeiro e terminará 2015 em 12,50%. Com juros em alta, o Produto Interno Bruto (PIB) terá neste ano elevação de apenas 0,13%. Em 2015, o avanço será um pouco maior: 0,55%.

Aumentos além da conta


Os repasses aos preços no varejo justificados como consequência da valorização do dólar frente ao real não convenceram o consumidor, na hora de comprar itens como castanhas, com oferta frequente de origem nacional. “Até mesmo os produtos que não sofrem com a variação do dólar ficaram mais caros, como as castanhas-do-Pará e de caju. Não há lógica nisso”, reclama a dona de casa Clara Álvares. Com impressionante memória de preços, ela estima ter gasto cerca de 50% a mais que em 2013 nas compras para o jantar que reunirá 20 pessoas da família. “Economizar é difícil”, observa, ao destacar que entre as carnes só o peru manteve preço estável de 2013 para este ano em R$ 11,90.

Reportagem do EM publicada no começo deste mês mostrou que o preço médio do peru subiu 5% no varejo, portanto a variação ficou abaixo da inflação oficial do país registrada nos últimos 12 meses, de 6,56% nas 11 maiores regiões metropolitanas do Brasil e 6,21% na Grande BH. Clara protesta, especialmente, contra a remarcação do queijo Minas tradicional, que encontrou a R$ 20,70 por quilo, ante as cotações anteriores que ela observava, variando de R$ 13,70 a R$ 14,70 por quilo. A aposentada Maria da Cruz Chaves Hipólito concorda em que é muito difícil economizar na compra dos produtos de uma festa tão típica. “A saída é comprar o suficiente, com muito controle, para não haver qualquer desperdício”, afirma.

O superintendente da Associação Mineira de Supermercados (Amis), Adilson Rodrigues, diz que do ponto de vista das políticas de preços e marketing das empresas do setor, a competição entre as lojas tem funcionado, inclusive levando-se em consideração a quantidade acima do previsto dos estoques, as vendas mornas do comércio e a indústria retraída. “Os supermercados precisam fechar bem o ano e nesse intuito estão usando suas ações de marketing. Eles também correm atrás dos consumidores que estão acertando as dívidas e menos endividados poderão destinar mais recursos para os alimentos”, afirma. A Amis estima um crescimento de vendas de 2,5% do faturamento das redes neste ano, em relação a 2013. (MV)


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