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Estado de Minas

Economia brasileira cresce no terceiro trimestre, mas taxa mostra estagnação do país

Crescimento foi de 0,1% e supera quedas anteriores, mas taxa próxima a zero mostra que país parou. Gastos do governo foram motor da alta


postado em 29/11/2014 06:00 / atualizado em 29/11/2014 07:06

Rio de Janeiro – A economia voltou a crescer no terceiro trimestre do ano, quando o Produto Interno Bruto (PIB) avançou 0,1%. Ainda que o desempenho tenha beirado o zero, o resultado levemente positivo decretou a saída oficial do país do quadro de recessão técnica. O termo é usado para descrever um país cuja economia tenha encolhido por dois trimestres consecutivos, como ocorreu no Brasil na primeira metade do ano.


À primeira vista, os números podem levar à constatação de que o país entrou num processo de “retomada do crescimento”, como frisou a nota oficial divulgada ontem pelo Ministério da Fazenda, atribuída ao ainda titular da pasta, o ministro Guido Mantega. Mas não é bem assim. O próprio Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), órgão responsável por calcular o PIB, optou pela cautela ao comentar o resultado do terceiro trimestre. “Crescimento mesmo a gente considera de 0,5% para cima”, disparou a gerente de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, acrescentando que um avanço de 0,1%, como o registrado, “é mais ou menos a margem de erro”. “Realmente, (um resultado) muito próximo do zero está mais para a estabilidade”, frisou.

A cautela tem justificativa. A comparação entre julho e setembro deste ano com o mesmo período de 2013 mostra que o PIB encolheu 0,2%. O resultado coloca o Brasil à frente apenas da Itália, do Japão e da Ucrânia no ranking de crescimento econômico, conforme estudo divulgado ontem pela agência de classificação de riscos brasileira Austin Rating.

No levantamento, o país ocupa um modesto 31º lugar numa lista de 34 nações. Estão em melhor situação que nós até mesmo os russos, que enfrentam graves sanções econômicas devido a tensões pró-guerra causadas pelos conflitos geopolíticos com a Ucrânia. “Mesmo países que enfrentam severas crises econômicas e financeiras, como Grécia, Polônia, Lituânia, Estônia e Eslováquia, têm apresentado desempenho melhor que o Brasil”, listou o economista-chefe da Austin Rating, Agostini.

Parado Não é só essa comparação que desanima. Também os resultados acumulados em 2014 estão longe de mostrar um país em recuperação. Após encolher 0,2%, entre janeiro e março, e mais 0,6%, de abril a junho, o PIB desacelerou para uma alta de apenas 0,2% no ano. É, coincidentemente, a aposta que bancos e corretoras fazem para o desempenho da atividade econômica durante todo ano, conforme a mediana das projeções que constam no mais recente boletim Focus, do Banco Central.

Mas mesmo essa estimativa pode ser revisada para baixo já nas próximas semanas, em função de resultados ainda desapontadores registrados pelos principais motores do crescimento, como indústria e varejo, que ainda não engataram a retomada. “Se o desempenho vier abaixo zero no quarto trimestre do ano, isso sacramentaria um PIB negativo em 2014”, disse o economista sênior do Besi Investimento, Flávio Serrano. Em outras palavras, significaria uma volta à recessão. “De toda forma, mesmo que o resultado do ano seja positivo, ele certamente será fraco e bem próximo de zero”, emendou.

Ajudinha  Ainda podia ser pior. Mesmo a alta registrada no terceiro trimestre do ano, de apenas 0,1%, talvez nem tivesse ocorrido se o governo não tivesse turbinado gastos durante a campanha, conforme deixaram claro os números do IBGE. Entre julho e setembro, o consumo do setor público disparou 1,3%. Foi o quarto avanço em cinco trimestres, números que apenas confirmam uma tendência de descontrole das contas públicas.

Não à toa, no acumulado do ano, os gastos do setor público já avançam 2% — o melhor desempenho entre os seis setores que mais contribuem para o crescimento do PIB. Essa ajudinha deve acabar, sinalizou ontem o próximo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que assumirá o cargo com após a saída de Guido Mantega. Conforme informou nota do Palácio do Planalto, onde o novo ministro tem dado expediente, o governo terá de adotar medidas de “disciplina” fiscal, em função ao “baixo crescimento deste ano e ao tempo que a economia exigirá para voltar a acelerar”. Só após fechar a torneira dos gastos, disse o novo comandante da política econômica, o país criará condições para resgatar a confiança de empresários e famílias, que, por temerem uma piora da economia, colocaram o pé no freio.

 

Famílias derrubam o PIB

 

Brasília – Nem o consumo das famílias, que era um dos sustentáculos do Produto Interno Bruto (PIB), consegue mais impedir a economia brasileira de mergulhar na crise. Mesmo com gastos de R$ 815,1 bilhões, a inflação alta, o crédito encarecido, o endividamento e a desaceleração do mercado de trabalho levaram o componente a cair 0,3% entre julho e setembro em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo divulgou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado foi o menor desde o quarto trimestre de 2008, ano da crise mundial. Frente ao mesmo trimestre de 2013, o resultado é ainda pior. Houve um avanço de apenas 0,1%, o pior desde o terceiro trimestre de 2003.

O corte de gastos foi a principal ferramenta encontrada pela coaching de negócios Vanessa Machado, 46 anos, para manter a saúde financeira da casa. “Tive que abrir mão do meu lazer. Antes, ia com frequência a espetáculos teatrais e ao cinema. Agora, vou mais a locais públicos ou eventos gratuitos”, afirmou. A mesma substituição no lazer também se aplica em casa. “Tenho trocado a carne por peças de segunda ou por peixe. Frutas só compro quando as da época. Os alimentos em geral estão muito mais caros. Isso porque pesquiso sempre e só compro em dias de promoção”, acrescentou.

A queda no consumo das famílias, que tem participação de 63% da demanda do PIB, está em queda desde o ano passado. No quarto trimestre de 2013, o indicador representava alta de 2,5%. A estagnação foi atribuída pela gerente da coordenação de contas nacionais do IBGE, Rebeca Palis, pelo atual cenário da conjuntura. “Continuamos tendo crescimento da massa salarial real no trimestre, que cresceu 2,9%, mas essa taxa é bem menor que a registrada no trimestre anterior, de 4,1%”, explicou. Ela também ressalta que o crédito com recursos livres para pessoas físicas parou de crescer em termos reais. “Teve uma expansão nominal de 5% que, se deflacionada por algum índice de preço, deve dar negativo”, disse.

Preocupação Os números que refletem o baixo consumo não são nada favoráveis e devem continuar a níveis preocupantes em 2015. O economista-sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fabio Bentes, alerta que o crescimento do emprego formal foi de 1,8% no terceiro trimestre em comparação ao mesmo período do ano passado, o pior resultado desde 2007, segundo cálculos feitos com base nos números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). “Ou aumentam-se os investimentos para aumentar a produtividade e o consequente controle da inflação, ou deixa o mercado de trabalho se deteriorar. A saída é retomar os investimentos sem liberar o crédito de forma intensa, mas moderada”, avaliou.


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