Rosana Hessel
Depois de um típico churrasco australiano, os líderes do G-20, países ricos e emergentes que respondem por 85% da economia global, iniciaram, ontem, uma reunião a portas fechadas em Brisbane, no litoral da Austrália. O encontro, que termina hoje, deve resultar em propostas para injetar US$ 2 trilhões na economia global, o equivalente a um acréscimo de 2% no Produto Interno Bruto (PIB) do mundo previsto para os próximos cinco anos. Os planos serão nas áreas de infraestrutura e comércio.
O governo brasileiro não divulgou o discurso da presidente Dilma Rousseff na abertura do evento, sob a alegação de que a reunião era fechada. Especula-se, porém, que ela tenha repetido em grande parte o que disse no encontro dos Brics (grupo que inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Nesse evento informal, que ocorreu na manhã de ontem, antes da cúpula do G-20, Dilma afirmou que “ao chegar ao final de 2014, vemos frustradas nossas expectativas de recuperação da economia mundial.” Os Brics cobraram a reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI), cuja proposta de aumento das cotas dos emergentes, aprovada pelo G-20, foi barrada pelo Congresso dos EUA.
Além da discussão de propostas, o encontro do G-20 deverá ser usado pelos países emergentes para cobrar os desenvolvidos pelo que consideram a tentativa de se livrar das consequências da crise por meio do aumento de suas exportações. Para o governo brasileiro, essa é a razão para o aumento do déficit em conta corrente do país.
Há críticas também entre os mais ricos. Segundo participantes do encontro, o primeiro-ministro espanhol, Marrano Roja, defendeu mudanças na política econômica europeia para evitar que se interrompa a frágil recuperação do continente. Não está definido ainda se a declaração final do encontro, a ser divulgada hoje, trará detalhes sobre as propostas para incrementar o crescimento econômico.
EUA A diplomacia brasileira aproveitou a reunião do G-20 para aproximar o país dos Estados Unidos — Dilma Rousseff e Barack Obama mantiveram encontro a sós depois da abertura do evento. Há fortes motivos econômicos para isso. A perda de fôlego da China, que deve crescer em torno de 6,5% neste ano, vem afetando o comércio do Brasil com o país asiático. Os embarques nacionais despencaram 43% em outubro. Com isso, os EUA ultrapassaram a China como maior destino dos produtos nacionais pela primeira vez no mês desde janeiro de 2013, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior (Mdic). Vale observar que o presidente da China, Xi Jinping, também estava presente na reunião de cúpula do G-20.
O ministro Mauro Borges, do Mdic, reconhece que é necessário o país recuperar a competitividade, buscando novos mercados, e, sobretudo, se reaproximando dos EUA. “Essa relação é estratégica para o Brasil porque envolve um relacionamento de investimentos.” (Com agências)