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Estado de Minas

Região da Zona da Mata é responsável por 70% da piscicultura ornamental do país

Apesar da seca, atividade vai crescer este ano


postado em 12/10/2014 06:00 / atualizado em 12/10/2014 08:21

Márcio Oliveira apostou nos peixes ornamentais e se deu bem: venda semanal de 150 mil exemplares de carpas, bettas e espadas, entre outros(foto: PAULO HENRIQUE LOBATO/EM/DA PRESS)
Márcio Oliveira apostou nos peixes ornamentais e se deu bem: venda semanal de 150 mil exemplares de carpas, bettas e espadas, entre outros (foto: PAULO HENRIQUE LOBATO/EM/DA PRESS)

São Francisco do Glória – Quando Márcio Rogério Onibene Oliveira trocou as roças de feijão e milho pela criação de peixes ornamentais, no fim da década de 1980, muita gente torceu o nariz. Houve quem acreditou que o rapaz levaria a fazenda da família à falência. Hoje, ele despacha semanalmente mais de 150 mil bettas, carpas, paulistinhas, espadas e mais de uma centena de espécies para Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Márcio mora na área rural de São Francisco do Glória, na Zona da Mata, a 330 quilômetros da capital mineira. O município e outras seis cidades vizinhas – Patrocínio do Muriaé, Barão do Monte Alto, Eugenópolis, Vieiras, São Francisco do Glória, Miradouro e Muriaé – respondem por 70% da produção da aquicultura nacional.


Nem a seca que castiga todo o país impede a região de aumentar a produção de peixes ornamentais, pois as espécies são criadas em tanques e a região, embora também tenha sido atingida pela seca, é cortada por vários rios e córregos. A expectativa é que os produtores daquelas bandas apurem, em média, crescimento de 12% a 15%. Alguns, como Márcio, esperam salto de 20% a 50%. “Quando comecei a fazer buracos na fazenda (para construir os tanques), meu avô, que havia doado parte da propriedade para os netos e que tinha 94 anos, pensou que o negócio não daria certo. Perto de completar 100 anos, ele viu que prosperou e falou que a gente está sempre aprendendo na vida”, recorda o produtor.


O Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) ainda carece de estatísticas consolidadas sobre a piscicultura ornamental no país, mas a estimativa do governo federal é que esse mercado movimenta cerca de R$ 1 bilhão por ano. As exportações brasileiras foram de U$ 10,5 milhões em 2013, segundo a Agência Nacional de Promoção de Exportação e Investimentos (ApexBrasil). A cifra deve subir este ano, pois, em agosto passado, o titular do MPA, Eduardo Lopes, assinou uma medida liberando a captura de matrizes de aproximadamente 2 mil espécies de peixes ornamentais. Muitas delas vão ser reprodutoras em tanques, reforçando a aquicultura.


É bom frisar que espécies vendidas nesse mercado voltado para os aquários garante uma lucratividade bem maior do que quando vendidas para consumo humano. O quilo do aruanã preto da Amazônia, por exemplo, vale US$ 1, se oferecido como alimento em feiras do Norte do Brasil. No exterior, se negociado no mercado ornamental, a cifra sobe para US$ 200. Esse é um dos motivos que leva a aquicultura a atrair cada vez mais criadores em todo o país. Outro motivo é o baixo investimento, em torno de R$ 1 mil, e a possibilidade de um retorno rápido.


Márcio estimulou muitos vizinhos a apostar nesse mercado. Foi assim surgiu a Associação dos Aquicultores do Vale do Glória, que reúne 104 pessoas. Outras associações foram criadas em cidades vizinhas, reduzindo a informalidade na região. “A organização dos grupos é um primeiro passo para a organização do setor, o que facilita, entre outros pontos, conhecer melhor as demandas dos produtores”, destaca Jefferson Santos, analista do Sebrae Minas, entidade que assiste boa parte dos criadores de lá.

MAIS FORTES A união dos produtores permitiu aumentar a margem de lucro, pois as associações começaram a fazer compras conjuntas, barganhando preço com fornecedores. “Conseguimos pagar R$ 10,50 pelo quilo de sacolas, pois a compra foi feita direto na fábrica. Economizamos quase R$ 5 por quilo”, comemora Deidson Rosa, criador que participa da Associação dos Aquicultores de Patrocínio do Muriaé e Barão de Monte Alto (Aquipan).


Deidson negocia em torno de 1 mil exemplares de bettas por semana. O volume aumentou dois dígitos em relação a 2013: “Em torno de 50%”. Quase toda a criação do rapaz abastece o mercado de São Paulo. “Ajudava meu pai na lida com o gado. Ao conhecer pessoas que ganhavam a vida com a produção de ornamentais, resolvi negociar uma novilha e investir no negócio. Apliquei R$ 1,2 mil na construção de uma estufa e na compra de matrizes bettas.” Ele negocia cada macho por R$ 1. As fêmeas, cujas caldas são menores, saem por R$ 0,20.


Porém, acrescenta o criador, um casal de betta produzidos a partir de melhoramento genético pode chegar a R$ 300. Em novembro de 2013, Deidson participou do Enabettas, encontro anual organizado pela Associação dos Aquicultores Ornamentais do Estado do Rio de Janeiro (Aquorio), e ficou com o terceiro lugar no concurso de melhor exemplar do país. O peixe levado por ele faz parte de uma produção controlada desenvolvida em parceria com o veterinário e produtor Gabriel Miranda Batista. “Chamamos esses bettas de peixes de linhagem. Fizemos o cruzamento de matrizes para produzirmos tipos diferenciados e de maior valor”, revelou Gabriel.

PROGRAMAS POSITIVOS NA GARANTIA DE RENDA

A aquicultura garante a renda de cerca de 450 famílias das seis cidades da Zona da Mata, que respondem por 70% da produção de peixes ornamentais do país. Boa parte delas é assistida pelo Sebrae e outros parceiros, como a Universidade Federal de Viçosa (UFV). As entidades e instituições disseminam conhecimento por meio de projetos, como o Clínicas Tecnológicas. Trata-se de programas que abordam questões como o manejo da água e a nutrição dos animais e que, na prática, visam garantir lucratividade e respeito ao meio ambiente.


“São pequenas atitudes que ajudam a reduzir perdas e aumentar a qualidade. Apenas com a mudança na quantidade de ração que colocamos, tivemos uma economia de 30%, além de peixes mais nutridos. Queremos também fazer a compra coletiva de sacolas, o que ajudará bastante a reduzir os custos, principalmente para os pequenos produtores”, observa Márcio Oliveira, o criador que trocou as roças de milho e feijão pela aquicultura.


Rafael Vianna, pesquisador da UFV e consultor do projeto, destaca que a Zona da Mata mineira é um importante polo do setor, mas os produtores ainda têm carência de informação, como técnicas que podem aumentar a produtividade. “Há estratégias que aceleram o crescimento de peixes e não são exploradas ou são usadas de forma ineficiente. Um exemplo é o cultivo de alimentos vivos para os animais. Nas fases iniciais de vida, esses microorganismos, que podem ser criados nas propriedades e com custos muito baixos, são imprescindíveis ao crescimento dos peixes. Contudo, por diversas vezes, são negligenciados.”
Outra conquista da união dos criadores foi um empréstimo no Banco do Brasil, por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que beneficiou 100 produtores com R$ 10 mil para cada. Vicente Protásio de Paiva, há duas décadas no ramo, foi um dos criadores que conseguiu o aporte. Ele aplicou o recurso na construção de 17 tanques para o cultivo da espécie molinésia prata, que é vendida a R$ 0,50 a unidade.


A união com outros produtores, explica ele, facilitou a legalização de sua propriedade junto aos órgãos competentes. “Há dois anos, o processo de licenciamento estava parado, mas, com o auxílio da associação e do Sebrae Minas, consegui fazer as adequações necessárias”, diz Vicente de Paiva. (PHL)

 


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