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Estado de Minas

PIB baixo reforça esgotamento de modelo de crescimento

Geração de riqueza cresce 28% e salário médio tem alta de 52% em 10 anos. Conta do governo esconde armadilha


postado em 02/06/2014 06:00 / atualizado em 02/06/2014 08:22

Ministro Marcelo Neri foi escalado para mostrar avanço que explica por que população não vê economia no fundo do poço, como os especialistas (foto: Antonio Cruz/CB/D.A Press.)
Ministro Marcelo Neri foi escalado para mostrar avanço que explica por que população não vê economia no fundo do poço, como os especialistas (foto: Antonio Cruz/CB/D.A Press.)
O fraco desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre de 2014, principalmente por conta do enfraquecimento do consumo das famílias – que recuou pela primeira vez desde 2011 –, comprova o esgotamento do modelo do crescimento baseado apenas na demanda, alertam os economistas. O cidadão comum, no entanto, ainda não tem a mesma percepção, porque quando ele olha para trás, percebe que melhorou de vida e está ganhando mais.

Essa diferença entre a percepção do PIB dos economistas e do povo é discussão e, com certeza, voltará à tona nos debates econômicos durante a campanha eleitoral deste ano. Não à toa, a presidente Dilma Rousseff chamou o ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, Marcelo Neri, economista e um estudioso sobre a evolução da classe média brasileira, para dar ênfase no crescimento da renda e minimizar o fraco PIB durante uma palestra no Palácio do Planalto aos integrantes do primeiro escalão do governo. Dessa forma, o discurso da equipe de Dilma está afinado sobre os avanços na área social, o principal trunfo que será usado contra a oposição, que vai aproveitar para atacar os quatro anos de PIB fraco de seu governo.

Em seus estudos com base na Pesquisa Anual por Amostra de Domicílio (Pnad), Neri compara a evolução da renda média do Brasil com o crescimento do PIB. Pelos seus cálculos, entre 2003 e 2012, o PIB cresceu 28%. Já a renda média do brasileiro avançou 52% no mesmo período. “O rendimento dos 10% mais pobres foi ainda maior, de 106%, ou seja, mais do que dobrou. Acho que as pessoas não percebem o que está mudando”, destaca.

Para o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) Samuel Pessoa, esse tipo de comparação é perigoso. “O PIB do povo cresce com velocidade diferente porque o país está aumentando o déficit externo”, explica. Ele lembra que esse saldo que era positivo em 1,78% em 2004, atualmente está encostando em 4% do PIB. “Diante desse quadro, o país terá dificuldade para se financiar”, avisa. A Argentina, que está em uma situação financeira pior que a do Brasil, mas tem reservas menores, tem um déficit em conta-corrente de 0,9% do PIB, conforme um levantamento feito pela Capital Economics.

Ameaça O PIB mede todas as riquezas produzidas pela nação. Logo, ele é um só e a sensação de que a situação não é tão ruim quanto parece é que a renda do brasileiro continua aumentando apesar de o país crescer pouco. “Não existem dois PIBs. O problema é que, quando a economia cresce pouco, o governo arrecada menos e fica mais difícil dar continuidade às políticas sociais. As mudanças ocorridas na última década não podem ser sustentadas indefinidamente com um crescimento medíocre do PIB”, explica o economista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro José Luís Oreiro. Ele alerta que o salário do brasileiro não deverá crescer como antes daqui para frente, porque a economia está fraca. “O país poderia estar melhorando a renda de todo mundo se a economia estivesse crescendo mais rápido”, completa.

O déficit externo vem aumentando porque a produção nacional não é suficiente para atender a demanda interna, dado o enfraquecimento da economia. Com isso, os riscos da perda do poder aquisitivo do brasileiro conquistado na última década crescem a longo prazo à medida que as importações aumentam. "Para o cidadão que ascendeu de classe social, o aumento da renda é positivo, só que esse é um padrão insustentável", alerta o economista.
Problema

O saldo em conta-corrente está negativo em US$ 80 bilhões, ainda abaixo do nível de reservas do país, de US$ 379 bilhões, mas ele pode crescer ou sair do controle, na avaliação do economista José Luís Oreiro. "O problema é que não se pode contar com as reservas, apenas. É preciso fazer um ajuste fiscal, e bem feito, para que o impacto no emprego seja o menor possível. Seria oportuno que os macroeconomistas do governo se debruçassem sobre o problemão de arrumar a casa, que é reduzir o déficit externo sem fazer com que o PIB do povo ande muito aquém do PIB dos economistas", arremata.


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