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Estado de Minas AGROPECUÁRIO

Estiagem atrasa cultivo de morango e turbina preços

Redução da oferta de morangos em entreposto da CeasaMinas este mês foi de 27%. Valores cobrados pelas bandejas subiram e produtores receberam cerca de 28% a mais


postado em 26/05/2014 07:36 / atualizado em 26/05/2014 07:48

Gilmar Garcia tem negociado 40% menos do volume da fruta que comercializava no ano passado(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
Gilmar Garcia tem negociado 40% menos do volume da fruta que comercializava no ano passado (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

O desequilíbrio entre a oferta e a demanda do consumidor elevou os preços do morango no atacado e no varejo, em alguns casos até quase o dobro das cotações observadas no mercado atacadista durante o ano passado. A poucas semanas do início da safra de maior fôlego, produtores, vendedores e varejistas não se arriscam a prever o custo a que a fruta vai sair da lavoura e chegar aos distribuidores e à mesa das famílias. No entreposto da CeasaMinas em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, de 1º a 20 deste mês o volume ofertado encolheu 27% e os preços pagos aos fornecedores subiram 28,5%, em média. O valor médio por quilo de morango que o produtor recebeu em maio foi de R$ 11,22, ante R$ 8,74 no mesmo mês do ano passado, indicou pesquisa feita pelo Departamento Técnico da CeasaMinas.

Nos hipermercados e sacolões de BH, a bandeja com 300g a 350g era encontrada na semana passada entre R$ 6 e R$ 8,90. O chefe do Departamento Técnico da CeasaMinas, Wilson Guide da Veiga, destaca a pressão que os clientes de outros estados atendidos pelos morangueiros mineiros exerceram sobre a demanda. Cerca de 60% da fruta consumida em São Paulo e 80% do consumo do Rio de Janeiro são supridos pelas lavouras de Minas. “Nossa expectativa, se São Pedro ajudar, é de que a situação da oferta e dos preços se normalize a partir de setembro”, afirma.

Não há consenso sobre o cenário de mercado para a fruta nos próximos meses. Enquanto negociava na Ceasa, semana passada, parte da produção da lavoura mantida em Barbacena, na Região Central do estado, o agricultor Albino da Silva Alves observava os efeitos da estiagem, convencido de que o ingresso de um volume maior no varejo tenderá a conter a alta dos preços na cadeia da produção ao comércio. Responsável pelas vendas da Fazenda da Cachoeira, de Alfredo Vasconcelos, município também localizado na Região Central de Minas, Gilmar Alves Garcia já prefere evitar qualquer projeção sobre os preços. A cotação da caixa contendo 1,2 quilo de morangos embalados em quatro bandejas é vendida no atacado a R$ 12, em média, depois de ter alcançado R$ 20. Em 2013, os produtores receberam entre R$ 6,75 e R$ 7,65.

“Tudo leva a crer que a produção será menor este ano. Dependemos da mãe natureza para o desenvolvimento de uma cultura típica de inverno”, disse Gilmar Garcia, que tem levado à CeasaMinas um volume 40% inferior ao verificado em idêntica época do ano passado. O descompasso entre a oferta e a elevação dos preços preocupa, ainda, os distribuidores.

A alta dos preços chegou acompanhada dos efeitos negativos da estiagem sobre a qualidade dos frutos e os dois fatores apontam para um 2014 problemático, na avaliação do gerente de compras da distribuidora de frutas Benassi Minas, Nélio Antônio da Silva. “Esperamos o início da safra e a melhora dos preços para o consumidor, talvez dentro de dois meses, mas o mercado está muito desaquecido”, afirma. Nélio Silva e Edgar Ochi, da Crol Distribuidora, estimam queda da oferta de morangos entre 40% e 50% neste ano. A caixa com quatro bandejas, contendo 1,2kg ao todo, era comercializada na semana passada entre R$ 13 e R$ 18 do atacado para o varejo na Ceasa, ante a variação entre R$ 10 e R$ 12 em 2013.

Nem irrigação é suficiente

Lavouras desenvolvidas no sistema de irrigação por gotejamento da Região Central de Minas, e aquelas protegidas sob túneis baixos, que favorecem o manejo fitossanitário, também sofrem com a estiagem, depois do feito que conquistaram de produzir ao longo de todo o ano nas últimas três safras. O Sindicato dos Produtores Rurais de Barbacena registra pelo menos 110 hectares plantados no município, onde o morango se transformou em importante fonte de geração de renda e emprego. É cedo para estimar efeitos do clima adverso, mas não há dúvidas de que eles virão, atingindo uma maioria de agricultores familiares, observa Renato Laguardia, presidente do sindicato.

“O mais difícil é o desafio imposto pelos custos mais altos, seja de produção, seja de mão de obra mais cara e escassa”, diz Laguardia. As despesas de produção têm girado na faixa de
R$ 2,50 por quilo da fruta, segundo levantamento da Emater-MG. Em todo o estado, que é o maior produtor de morangos do país, a área cultivada no ano passado foi de 1,9 mil hectares e a produção alcançou 97,3 mil toneladas. Cerca de 5 mil produtores mantêm as lavouras, com 25 mil trabalhadores diretos e indiretos. O Sul de Minas respondeu por 90% da área plantada.

A maior parte das lavouras de Barbacena e Alfredo Vasconcelos usa a tecnologia da estufa e da irrigação por gotejamento. Outra diferença em relação ao polo produtor do Sul de Minas é que a região teve uma estiagem menos rigorosa, destaca Leandro Rodrigues de Oliveira, presidente da Cooperativa Agropecuária de Alfredo Vasconcelos (Cooprav), dona da marca Frutano. A seca forçou atraso da floração, impondo um desafio que os morangueiros não enfrentaram no ano passado.

Pioneiros na cultura em Barbacena, os irmãos Murilo Nomiya, Maurício, Cláudio Kioshi e Leonardo começaram a colher há 20 dias e se preparam para boa oferta do fruto até dezembro. Murilo conta que dois fatores contribuem para o bom resultado ainda esperado das plantações do Sítio Pinheiro Grosso e da Fazenda dos Cristais. Um deles é o investimento feito em tecnologia de produção e em variedades resistentes; o outro consiste no esforço de fazer crescer a produtividade. O indicador atingiu 60 quilos por hectare. “Usamos mais tecnologia, agora, e estufas que permitem obter produção de um mesmo pé durante dois a três anos”, afirma Murilo. (MV)


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