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Estado de Minas

Depois da lavoura, seca prejudica agora as pastagens; preço da carne sobe

Prévia do indicador oficial, IPCA-15 sobe para 0,73% em março, com alta nos preços de frutas, legumes e carnes e disparada das passagens aéreas. Na Grande BH fica em 0,67%


postado em 22/03/2014 06:00 / atualizado em 22/03/2014 07:46

Estiagem que afetou preços de hortifrutigranjeiros atinge também as carnes, cujos valores começaram a subir antes do período de entressafra(foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
Estiagem que afetou preços de hortifrutigranjeiros atinge também as carnes, cujos valores começaram a subir antes do período de entressafra (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)

A escassez de chuvas no país continua sustentando a fome do dragão da inflação. A seca que atinge lavouras de frutas e hortaliças chega também às pastagens, comprometendo o desenvolvimento dos animais e, por consequência, começa a elevar os preços das carnes. O resultado de uma demanda maior que a oferta, comprometida pela seca, são alimentos mais caros chegando à mesa do consumidor, que está preocupado em fechar a conta no fim do mês. E a pressão deve continuar nos próximos meses.


Segundo Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), a inflação no país variou 0,73%, após subir 0,7% em fevereiro, e registrou o maior resultado para o mês de março desde 2003, quando o indicador subiu 1,14%, de acordo com a série histórica divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, o índice, que é uma prévia da inflação oficial, variou 0,67%, maior resultado para o mês desde 2010, mas com recuo em relação a fevereiro (0,76%). No país, no acumulado de 12 meses, o resultado chega a 5,90%, ficando acima do centro da meta, que é de 4,5%.

 

Na Grande BH, quatro grupos apresentaram variação acima da média este mês, acelerando a inflação. O grupo alimentação e bebidas puxou o índice, com alta de 1,23%. No país, os alimentos tiveram alta de 0,52% para 1,11%. Contribuíram para o resultado em BH produtos importantes como carnes chã de dentro (de 0,34% em fevereiro para 1,43% em março) , a alcatra (de 1,82% para 3,26%), o patinho (de 0,35% para 1,38%) e a carne de porco (de -0,07% para 2,02%). Também apresentaram alta frutas como banana prata (de 1,08% para 16,06%) e a melancia (de 2,86% para 9,4%). Na lista dos preços em elevação, aparecem ainda os de tubérculos, raízes e legumes, como a batata inglesa (de -5,43% para 15,55%), a abóbora (-3,97% para 2,84%) e o tomate (9,64% para 12,76%).


Além dos alimentos, artigos de residência também avançaram 0,95%, assim como o grupo despesas pessoais, que registrou aumento de 0,71% e transportes de 0,68%. Um dos vilões da alta no grupo transportes na prévia da inflação de março em Minas e no país, são as passagens aéreas, cujos preços dispararam de fevereiro para março. No país, os preços dos bilhetes aéreos saltaram de uma variação negativa de 20,36% em fevereiro para um aumento de 27,08% em março. Já em Minas, depois de recuarem 36,03% em fevereiro, os valores subiram 31,4%. Juntos, alimentação e transporte respondem por 68% da composição do IPCA-15. Na contramão, o grupo comunicação pressionou a inflação para baixo, com variação negativa de -0,4%. Entre os motivos, a queda de 2,28% na ligações dos telefones fixos e de 1,01% nos celulares.


O analista do IBGE em Minas Gerais, Antonio Braz, destaca que a alta nos alimentos no acumulado de 12 meses, de 6,39%, é superior à inflação de 5,9%, e lembra as questões climáticas como principal causa para o aumento quase generalizado nos preços. O impacto agora sobre a carne também é justificado por uma seca antecipada que atinge pastagens e resulta em insumos para ração, como milho e soja, mais caros. A preocupação, no entanto, é com o futuro, quando de fato começa o período de ausência de chuvas. “Se não houver mudança no clima, a pressão pode ser maior no preço da carne nos próximos meses”, adianta.


No bolso
Quem vai ao supermercado toda a semana sente de perto a pressão dos preços dos alimentos e vê na pesquisa a melhor alternativa para driblar os aumentos. A enóloga Ana Luiza Borges, uma das responsáveis pela preparação de uma feijoada compartilhada por um grupo de amigos, diz que o valor per capita já subiu. “A última custou R$ 5 por pessoa e essa sairá por R$ 7,50”, conta. A encarecimento pode ser justificado pelo aumento nos cortes suínos. “A manta de barriga custava em média R$ 8; comprei por R$ 10,90, mas cheguei a encontrar por R$ 12,90”, lembra ela, que considera que os preços da região Centro-Sul, onde vive, são ainda mais caros que o normal. “A impressão é de que tudo subiu. Do pão à cebola”, afirma.


O advogado Ângelo Lobato, responsável pelas compras de casa, confessa que também tem se assustado com os preços nesse início de ano. “As frutas, principalmente, subiram muito. Mas a alta é em todo o setor de hortifruti. Um ramo do alho poró, por exemplo, custou R$ 5”, comenta ele, que para driblar a alta opta por produtos da época e por pesquisar os valores. “Quando o preço está muito alto, trocamos um item A por um B. Faço isso com o feijão e opto pelo mais barato quando o preço sobe muito”, argumenta.


Empresas seguram os repasses

Assim como os consumdiores, quem também sofre com os aumentos de preços são os empresários. Além de ter que lidar com a alta, precisam segurar os valores de produtos e serviços para não perder clientela. A única solução, segundo eles, tem sido esperar pelas chuvas, que poderão normalizar os negócios e evitar o desabastecimento. Antônio Drummond, sócio-proprietário da Linguiçaria e Feijoada Brasil, no Mercado Central de Belo Horizonte, confirma uma pequena alta, mas garante preços ainda competitivos. “Enquanto o mercado tem cobrado R$ 22,90 pelo quilo do contra-filé, mantenho o preço de R$ 19,90”, exemplifica.

Na Sion Carnes, os preços, segundo o proprietário Geraldo Antônio Santos, subiram 10% para as carnes suínas e de frango e 5% para as bovinas. Mas ele garante que o consumidor ainda não tem pagado o valor reajustado, mas que será de fato impactado entre abril e maio. “Tínhamos como absorver parte da alta imposta pelos fornecedores, mas teremos que repassar isso a partir do próximo mês”, afirma. A preocupação, segundo Santos, fica com o período de entresafra da carne, que ocorre de julho a setembro. “Os preços subiam no fim do ano, mas agora estão acelerando com muita antecedência”, considera.

Antônio Procópio, da Procópio Frutas, diz que tem pagado cerca de 20% a mais por produtos como banana, maçã e melancia e que faz repasse equivalente. “O consumidor está pagando uma média de 10% a mais pelos produtos”, garante. Em sua loja, o quilo da banana prata custa R$ 5,90, a banana maçã R$ 7,90, a maçã fugi R$ 9,90 e a melancia R$ 2,50. Para os próximos meses, além desses produtos, ele considera que o consumidor poderá pagar mais também pelo mamão e abacaxi.

Na meta Apesar da pressão no início do ano, o governo está convencido de que a inflação deste ano não vai estourar o teto da meta, de 6,5%. Entre os integrantes da equipe econômica, a convicção é de que março terá a pior taxa do ano, perto de 0,80%, o que trará o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para próximo de 6%, no acumulado de 12 meses, nível que deverá se manter até o fim do ano. (CM)


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