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Estado de Minas

Estiagem foi a principal vilã da colheita

Helicoverpa armigera era apontada como a responsável pela quebra, mas não foi o que ocorreu


postado em 17/03/2014 09:30 / atualizado em 17/03/2014 09:39

Geraldo Prizon foi surpreendido pela seca: plantio dentro da normalidade(foto: Arquivo pessoal )
Geraldo Prizon foi surpreendido pela seca: plantio dentro da normalidade (foto: Arquivo pessoal )

Mais que a lagarta Helicoverpa armigera – praga já conhecida pelo produtor, que configurava como maior ameaça para a produção deste ano, por ter levado perdas de até R$ 33 milhões para a safra de algodão 2012/2013 em Minas –, o longo período de estiagem despontou como o principal vilão da safra de soja 2013/2014. Embora alguns produtores tenham tido ganhos satisfatórios no plantio precoce, cuja colheita encontra-se encerrada, outros ainda temem pelos resultados do cultivo tardio, que será colhido até o início de abril e pode ser abatido pela ausência ou excesso de chuvas.

Geraldo Emanuel Prizon, agricultor em Coromandel, no Alto Paranaíba, lembra um início de plantio dentro da normalidade, mas também recorda a severa estiagem que atingiu a lavoura. “As expectativas não só não foram alcançadas como também, no meu caso, haverá uma quebra na produtividade da ordem de 20%”, afirma. A expectativa inicial era colher de 60 sacas por hectare, mas devido ao clima seco a safra deve fechar com produtividade média de 50 sacas por hectare. “Estou falando de quebra em lavouras implantadas em terras férteis, onde foi utilizada alta tecnologia de plantio. Tenho vizinhos com terras menos férteis onde a quebra será maior ainda”, garante ele, que investe em profissionalização e mais conhecimento para driblar os impactos da sazonalidade sobre a cultura.

A pesquisadora da Embrapa Soja Divânia de Lima explica que enquanto os primeiros plantios sofreram, em algumas regiões, com a falta de chuva, os tardios podem ser impactados também pelo excesso de água. “No caso do Mato Grosso, as máquinas não conseguem entrar na lavoura, por exemplo, e isso compromete a qualidade do grão”, comenta. De acordo com ela, quando há altas temperaturas seguidas de estresse hídrico o resultado é um grão pequeno e malformado. E quando o problema é a chuva, a qualidade industrial do grão, além da colheita, fica comprometida.

Os prejuízos com a Helicoverpa armigera, segundo Divânia, só não foram maiores em função de uma estratégia de combate montada pela Embrapa e outras instituições de pesquisa e assistência técnica, que capacitaram profissionais para o conhecimento e monitoramento da praga no campo. “No Paraná, segundo maior produtor, a praga foi relativamente bem controlada e monitorada, de forma que não tivemos perda de produtividade”, argumenta.

Com as atenções voltadas para a Helicoverpa, os agricultores, no entanto, acabaram sendo surpreendidos pelo surgimento de outra praga: a lagarta Falsa medideira, que apresentou maior incidência em estados como Mato Grosso e tem controle difícil por atacar a parte inferior da planta, onde a ação do defensivo é menos eficaz. Uma das explicações para o surgimento dessa outra lagarta em regiões específicas pode ser o clima com grande incidência de chuvas durante a aplicação dos defensivos. Já a incidência de ferrugem da soja foi baixa, justamente pela falta de chuvas continuadas, que de forma geral está entre as principais causas para o surgimento do fungo.

(foto: Fonte: IBGE/LSPA FAO/FAOSAT)
(foto: Fonte: IBGE/LSPA FAO/FAOSAT)
DIAS PIORES

Claudionor Nunes de Morais, presidente da Comissão de Grãos da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg) e coordenador da câmara setorial de grãos do estado, que também é produtor, está com 75% da produção de soja colhida e garante que os números são desfavoráveis em relação ao ano passado. “A quebra no plantio precoce ficou próxima de 10% e acreditamos que o pior está por vir na lavoura tardia”, comenta. Os ataques de pragas e doenças, segundo ele, não foram agressivos pela pouca umidade. “O monitoramento e combate geraram custos, mas não trouxeram danos à produção”, afirma. O problema, segundo ele, foram realmente os veranicos prolongados, com até 35 dias sem chuva.
Olavo Condé, que é prefeito de Paracatu e também produtor de soja, do Grupo Elo Forte, com 4,7 mil hectares de soja, destaca uma quebra pequena até agora, com resultados melhores que no ano passado. Até o início de abril, no entanto, o cenário pode mudar, já que começa a colheita do sequeiro tardio. “Não temos como controlar o clima”, considera. Os preços, segundo ele, são atrativos para o produtor e podem melhorar diante de uma safra menor. “Temos muita liquidez na venda, que é mais rápida que em outros produtos, como milho, feijão e trigo”, comenta. Em sua opinião, o cenário para a soja é positivo pelas boas perspectivas de exportação e preços frente a concorrentes como o milho.

Tecnologia que salva

O desenvolvimento de novas tecnologias tem auxiliado o trabalho do produtor no campo. Cultivares têm sido desenvolvidas para diminuir perdas com pragas e doenças, mas também para aumentar produtividade da soja e popularizar o grão. A Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), em parceria com a Embrapa e a Fundação Triângulo, tem investido em pesquisas e criação de novas variedades que prometem aliar sabor e aparência, com o objetivo de popularizar o consumo da soja in natura no Brasil.

Segundo a agrônoma e doutora em genética e melhoramento de plantas Ana Cristina Juhász, depois de 11 anos de pesquisa, o resultado é a soja BRSMG 800A, também conhecida como soja marrom, voltada para a alimentação humana. Entre as características, ela destaca o sabor mais suave, semente maior e elevado teor de proteína. “É um grão semelhante ao feijão”, compara. A cultivar tem ainda produtividade média de 3.000kg/ha. Ana lembra que o principal desafio foi o teste da panela e que o resultado agradou. Outra variedade é a soja Minas Fit Soy, a BRSMG 790A, de cor amarela, utilizada em saladas e produtos derivados, como extrato de soja que, pode ser utilizado no preparo de sucos.

No caso das lagartas que vêm alarmando os produtores, dados da consultoria Kleffmann apontam que o número médio de aplicações foliares com inseticidas para o controle de lagartas na soja no Brasil aumentou de 3,6 por hectare na safra 2010/11 para 4,6 na safra 2012/13, levando ao aumento no gasto de inseticida de 107% em dois anos. De olho nisso, a Monsanto lançou no ano passado a tecnologia Intacta RR2 PRO, com primeira safra de plantio comercial este ano. A cultivar combina três soluções: produtividade, tolerância ao herbicida glifosato e controle contra as principais lagartas. Entre elas, a lagarta-da-soja, Falsa medideira, a broca-das-axilas, também conhecida como broca-dos-ponteiros e lagarta-das-maçãs – e supressão às lagartas do tipo elasmo e do gênero Helicoverpa.


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