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Estado de Minas

Indústria empaca na falta de modernização, de inovação e de mão de obra preparada

A despeito dos bilhões de reais em isenção de impostos e da ajuda dos bancos públicos que, a mando do Palácio do Planalto, a indústria encolheu nos três primeiros anos do governo Dilma


postado em 02/01/2014 07:56 / atualizado em 03/01/2014 15:21

Ainda não será em 2015, quando o próximo presidente da República tomar posse, que a indústria retomará o papel de motor do crescimento econômico. Apesar de os candidatos ao Palácio do Planalto, incluindo a presidente Dilma Rousseff, apostarem todas as fichas de que, com o dólar mais alto, as fábricas brasileiras ficarão mais competitivas, há um longo caminho a ser percorrido para que o setor, que fechou mais de 200 mil postos de trabalho nos últimos dois anos, dê o salto desejado a fim de ajudar o Brasil a se livrar da triste sina de crescer pouco.

Primeiro: não foi apenas o real que perdeu valor ante o dólar, o que, em tese, barateia os nossos produtos destinados ao mercado internacional. Todas as demais moedas de países emergentes, com forte presença no comércio internacional, também se desvalorizaram frente à divisa norte-americana. Ou seja, as mercadorias da Coreia do Sul, da Índia, da Tailândia, da Indonésia e do México também ganharam competitividade. Segundo: para realmente decolar, a indústria terá de passar por um choque de modernidade, com foco em inovação e em pesquisa, e pela qualificação e pelo aumento da produtividade da mão de obra. Mesmo com mais anos de estudo que há uma década, o trabalhador brasileiro permanece pouco produtivo.

Os analistas são unânimes em dizer que o modelo de crescimento escolhido pelo Brasil nos últimos anos, baseado no consumo, se esgotou. “Por isso, a indústria se tornou vital no processo de tirar a economia do atoleiro”, diz o economista Paulo Rabello de Castro, coordenador do Movimento Brasil Eficiente. A retomada da produção passa pela volta dos investimentos, que minguaram ante a falta de um horizonte mais claro e mais amigável ao capital.

Não à toa, durante os três primeiros anos de governo Dilma, a indústria encolheu, a despeito dos bilhões de reais em isenção de impostos e da ajuda dos bancos públicos que, a mando do Palácio do Planalto, passaram a oferecer linhas de crédito a juros camaradas. Nesse período, a produção reportou perdas de quase 9%, devolvendo todo o avanço conquistado nos dois mandatos de Lula, quando houve incremento de 0,4% e de 7,2%, respectivamente, a cada gestão.

Sendo obrigado a desligar parte das fábricas, o empresariado botou o pé no freio dos investimentos. A taxa de expansão da chamada formação bruta de capital fixo (FBCF), que chegou a crescer 130% no segundo mandato de Lula, desacelerou para 23%, nos últimos três anos. “Esse é um legado do qual o governo Dilma não deve se orgulhar. E, certamente, o futuro presidente terá de fazer um esforço enorme para mostrar que realmente vale a pena tirar da gaveta os projetos parados”, acrescenta Rabello de Castro.

Clique para ampliar(foto: Arte: CD/D.A.Press)
Clique para ampliar (foto: Arte: CD/D.A.Press)
Mas não é só: sem os investimentos necessários do governo para reduzir os gargalos logísticos do país e destravar a infraestrutura, a indústria viu os custos dispararem. Entre o fim de 2010 e o terceiro trimestre de 2013, o encarecimento da produção chegou a 12,1%, conforme a Confederação Nacional da Indústria (CNI). “Essa, talvez, seja a maior decepção dos investidores hoje com o atual governo. Quando acabou a euforia em relação aos países emergentes, os problemas dessas nações se evidenciaram. E o Brasil, infelizmente, foi pego de calças curtas”, diz um importante auxiliar da presidente Dilma.

Para ele, as carências estruturais da economia, que não tinham sido atacadas quando o mundo crescia e o capital vinha para cá achando que tudo estava maravilhoso, reduziu dramaticamente a nossa competitividade.

Busca por culpados
Com a campanha eleitoral se intensificando nos próximos meses, não faltarão candidatos para apontar erros. Mas, dada a frágil situação da indústria, o melhor será apresentar propostas concretas que contribuam para levar o país à elite da economia mundial, como se deseja. “É fundamental preservar a base industrial. Afinal, uma nação como a nossa não pode depender apenas de agricultura, que, ressalte-se, é altamente competitiva, e do setor de serviços”, assinala o economista Paulo Nogueira Batista Júnior, diretor executivo para o Brasil e mais 10 países do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Ex-ministro da Fazenda e um dos principais conselheiros da presidente Dilma, o economista Delfim Netto ressalta que o longo período de real forte frente o dólar, se ajudou a conter a inflação, destruiu uma parte significativa da indústria brasileira, especialmente a exportadora. Ao mesmo tempo, com a moeda local mais forte, os produtos nacionais ficaram mais caros e os importados inundaram o país. O resultado foi a queda brutal do superavit na balança comercial.

Com menos dinheiro entrando no país, o rombo nas contas externas atingiu o recorde de US$ 80 bilhões em 2013, número que deve se repetir neste ano e em 2015, ficando próximo de 4% do Produto Interno Bruto (PIB), índice de países próximos de crises cambiais. Para os especialistas, o que mais assusta não é o tamanho do rombo, mas a rapidez com que ele vem avançando. Em 2008, auge da crise mundial, esse buraco era de 1,7% do PIB. Desde então, mais que dobrou.

“O aumento do deficit externo é um sintoma do excesso de demanda da economia brasileira, que ocorreu simultaneamente ao enfraquecimento da indústria nacional. Assim, como o consumo das famílias continuou a ser estimulado pelas medidas governamentais, o resultado foi a exportação das riquezas brasileiras para outros países, via importações”, explica o ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Alexandre Schwartsman.

Dólar a R$ 3
A piora do quadro externo se torna mais preocupante diante dos desafios que estão por vir. O dólar, que vinha ajudando no controle de preços, poderá ser o vilão do consumidor. Pelas projeções mais conservadores, a moeda norte-americana poderá bater em R$ 2,50 ao fim de 2014. Mas há quem prevê um cenário mais adverso. Para Mário Mesquita, ex-diretor de Política Econômica do Banco Central, caso a autoridade monetária não prolongue o pacote de intervenções diárias no câmbio até dezembro próximo, o dólar poderá romper os R$ 3.

“As decisões do governo Dilma tiveram um preço e a conta, certamente, será paga em 2015. Só não será quitada em 2014 porque, para ganhar as eleições, o governo empurrará com a barriga todos os problemas do país”, diz o economista-chefe para o Brasil do holandês Rabobank, Robério Costa.

Ao mesmo tempo, a elevação das taxas de juros nos Estados Unidos, que estão zeradas desde 2009, marcará o fim da era de dinheiro barato para os mercados emergentes. O Brasil será obrigado a pagar prêmios de risco maiores para atrair investidores estrangeiros. “Assim, em um momento em que muda a política monetária norte-americana, não é aconselhável ter deficit tão alto em conta-corrente”, resume Nogueira Batista.

Nesse contexto, o Tesouro Nacional deve se preparar para um teste de fogo. Entre 2014 e 2015, vencerá um terço da dívida externa brasileira — são US$ 157,2 bilhões. Para rolar essa deficit, governo, empresas e bancos terão de emitir títulos nas condições que o mercado exigir ou quitar integralmente os débitos. “Um possível quadro de alta de juros nos EUA vai, diretamente, resultar em um custo maior para o Tesouro”, diz um integrante da equipe econômica. Situação que tende a piorar se houver o rebaixamento da nota do país depois das eleições. A contagem regressiva já começou.

Concorrência forte
Divulgado em meados do mês passado, a edição especial do Informe Conjuntural da CNI prevê que a indústria crescerá 2,0% em 2014, na comparação com a previsão do 1,7% em 2013 — para a confederação, a economia nacional terá expansão de 2,1% neste ano, abaixo dos 2,4% estimados para o anterior. O presidente da entidade, Robson Braga de Andrade, reconheceu que a indústria tem muitos obstáculos e que as exportadoras sofrem mais por causa da forte concorrência externa.


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