(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Professores estão na lista das profissões com baixa oferta de mão de obra qualificada

Com escassez de mão de obra qualificada, faltam professores em diversas áreas. Ausência de estímulo à formação é apontada como causa. Problema vai se agravar nos próximos anos


postado em 22/09/2013 07:00 / atualizado em 22/09/2013 08:24

Marinella Castro e Marta Vieira

Neozelandesa, Kim Morre dá aula de inglês em BH e avalia que momento é bom para profissionais de fora(foto: ANGELO PETTINATI/ESP. EM )
Neozelandesa, Kim Morre dá aula de inglês em BH e avalia que momento é bom para profissionais de fora (foto: ANGELO PETTINATI/ESP. EM )
Comparados a “moscas brancas”, jargão do mercado de recursos humanos para definir profissionais difíceis de serem encontrados, “aqueles que existem, mas ninguém vê”, professores estão na lista das profissões com baixa oferta de mão de obra qualificada. Os primeiros são os docentes de física, matemática, química e geografia. No setor privado há até mesmo o temor de que se repita a situação vivida pelo país há 35 anos, quando profissionais do mercado, sem formação na docência, eram recrutados para dar aulas. “Nos preocupamos muito com a dificuldade de contratação enfrentada pelo setor. Se continuar nesse ritmo o país poderá chegar ao cúmulo de ter que importar também professores”, alerta Emiro Barbini, presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG).
O apagão em áreas específicas da docência, segundo especialistas ouvidos pelo Estado de Minas, está mais relacionado às condições de trabalho na educação e baixos salários que tornam a profissão pouco atrativa do que com a incapacidade do país de formar professores. “É preciso melhorar não só os salários, mas todo o ambiente de trabalho para atrair os jovens”, diz Naércio de Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper). Segundo ele, os estudantes de áreas como física, matemática, química, preferem seguir carreira acadêmica a se dedicar ao magistério.

Diretor presidente da Rhumo Consultoria e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Sérgio Campos, defende a importação de mão de obra estrangeira como intercâmbio positivo para o país já que o Brasil também exporta seus profissionais. No entanto, no caso da educação ele diz que é preciso ter maior investimento na área ou até mesmo na educação infantil professores qualificados poderão se transformar em moscas brancas. “A formação nessas áreas está diminuindo em proporção maior que a taxa de natalidade.”

O professor Alexandre Freitas Barbosa, da USP, que desenvolveu o tema Formação do mercado de trabalho no Brasil como tese de doutorado, considera fundamental que o país crie uma política de formação de mão de obra em sintonia com a demanda da sua economia, tanto no nível do ensino superior quanto no do técnico. “Que seja sem reserva de mercado, mas o país não pode ficar dependente de mão de obra estrangeira”, alerta.

Anderson Caires é um brilhante estudante de física na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ele se formou no mês passado e já está começando o mestrado. Na graduação desenvolveu projeto de aplicação da nanotecnologia na medicina. A turma da qual ele participava é um exemplo da crise que se reflete nas salas de aula. De 40 alunos que começaram o curso, apenas Anderson se formou. “A maioria de meus colegas migrou para outros cursos, engenharia principalmente.” Como teve ótimo desempenho na graduação, no meio do ano que vem Anderson inicia o doutorado, seguindo a trajetória apontada pelo especialista do Insper. “Vou seguir carreira acadêmica porque adoro ciência e ser pesquisador. Além disso, a situação da licenciatura é muito complicada. Estudei em escola pública e sei que a estrutura é ruim. Essa também foi a opinião da maioria de meus colegas.”

Desafio

Emiro Barbini, do Sinep, diz que de modo geral, pública ou privada, a escola enfrenta dificuldades de contratação. “Do porteiro ao diretor está difícil, mas em áreas ligadas às ciências o quadro é pior.” Barbini considera que esse é um grande desafio que o setor enfrenta e que será acirrado nos próximos anos. “Existe uma legislação que nos permite contratar professores de outras áreas, engenheiros por exemplo para ensinar matemática, caso seja publicado edital e ninguém se candidate às vagas.” Segundo ele, o Brasil já viveu a situação no passado, o que não é a melhor saída para a docência.
A pressão da demanda não atinge apenas as escolas de ensino fundamental ou médio, mas também as instituições especializadas. Ana Regina de Araújo, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da Rede de Franquias Number One diz que as multinacionais, redes de hotelaria, empresas de diversos setores passaram a recrutar os professores de inglês. “Encontrar profissional qualificado está muito difícil.” Ela diz que com a crise europeia foi ampliada a oferta de nativos, o que tem feito o percentual de professores estrangeiros crescer. “Mesmo assim eles precisam passar por treinamentos.”

Kim Moore nasceu na Nova Zelândia e mudou-se para o Brasil no ano passado. Antropóloga e estilista, e professora de inglês no Brasil, ela não encontrou dificuldades para dar aulas. “O mercado está bom, há muita oferta para professor, o que é uma oportunidade para estrangeiros”, avalia.

 

Valorização dos técnicos
Profissionais valorizados de nível técnico entraram no rol dos trabalhadores mais disputados pelas empresas e que em virtude do descompasso entre oferta e procura futuramente poderão ter de conviver com colegas estrangeiros. “A importação vai chegar a esses cargos. É uma questão de mercado, em que existe uma lacuna, como consequência das discrepâncias de um país em desenvolvimento, como o nosso”, afirma Edmar Alcântara, gerente de Educação Profissional do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de Minas Gerais (Senai-MG).

A indústria mineira cumpriu no ano passado o maior programa de treinamento de nível técnico da sua história, mas ainda assim, a escassez em determinas áreas preocupa. Até dezembro, o Senai-MG espera ultrapassar um contingente de 180 mil alunos matriculados, o que será novo recorde. São 70 cursos técnicos e mais de 300 tipos de qualificação nas 92 escolas espalhadas pelo estado, com capacidade total ocupada. Edmar Alcântara diz que a instituição identificou déficit de três unidades na capital mineira. O polo industrial de Betim necessita de uma segunda unidade de ensino profissionalizante e outras três cidades mineiras terão escolas no ano que vem: Sete Lagoas e Itabirito, na Região Central, e Uberlândia, no Triângulo.

 

História que se repete?

Nos anos 1930, os primeiros imigrantes vindos da Itália à procura de trabalho desembarcaram nas regiões agrícolas do interior de São Paulo. A rigor, eles não eram mais qualificados que os brasileiros; a diferença é que não tinham os vícios de uma sociedade que sofreu as consequências do regime de escravidão. Nas cinco décadas seguintes, o Brasil formou mão de obra nas escolas técnicas e universidades, quando, então, enfrentou a crise do setor público, que parou de investir em qualificação profissional e passou, inclusive, a demitir. Agora, o país vive um novo fluxo migratório, caracterizado por profissionais com mais qualificação.

 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)