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Estado de Minas

Brasileiros sem medo do desemprego

Em 14 anos, índice que apura o medo de perder o emprego cai 31,4%. Formalização reduz insegurança e profissionais não receiam procurar vagas com salários mais robustos


postado em 05/08/2013 00:12 / atualizado em 05/08/2013 08:29

Em 20 meses, Bárbara Assis mudou de emprego três vezes e tem salário 33% maior(foto: Maria Tereza Correia/EM/DA Press)
Em 20 meses, Bárbara Assis mudou de emprego três vezes e tem salário 33% maior (foto: Maria Tereza Correia/EM/DA Press)
Em busca de qualidade de vida, Bárbara Mayer Assis de Souza, de 22 anos, acaba de trocar de emprego. Com isso, aumentou o seu salário em 33% e ainda por cima deixou de trabalhar nos fins de semana e feriados. Sonhando com novos desafios, Rosenilda Ferreira da Silva, de 35, largou um emprego no qual permaneceu por 15 anos e procurou uma nova profissão, incrementando seu salário em 47,4%. Além do contracheque mais robusto, a inquietude profissional de Bárbara e Rosenilda mostra que a instabilidade da economia ainda não abalou a confiança dos brasileiros no mercado de trabalho. Em março de 1999, quando a Confederação Nacional da Indústria (CNI) começou a medir o Índice Medo do Desemprego, o indicador estava em 108,5 pontos. Em junho deste ano, encolheu para 71,3 pontos, o que significa uma queda de 31,4%.

Não é que as pessoas não estejam sentindo os solavancos da economia, particularmente materializados em junho com a valorização do dólar, a queda da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e o tenso quadro inflacionário. Em março, o indicador da CNI para o mercado de trabalho tinha sido ainda menor do que o de junho (69 pontos). “O fato é que o medo do desemprego encontra-se num patamar histórico baixíssimo. O aumento da formalização reduziu a insegurança.

O mercado de trabalho desacelerou, mas continua aquecido e os brasileiros se sentem mais seguros”, explica Marcelo Azevedo, economista da CNI. Estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que de 2003 a 2012 o percentual de empregados com carteira assinada no setor privado, considerando toda a população do país, cresceu 53,6%, passando de 7,3 milhões para 11,3 milhões, enquanto a expansão do total dos ocupados foi 24% (de 18,5 milhões para 23 milhões).

Nos últimos 20 meses, Bárbara mudou de emprego três vezes. Ela trabalhou na Leitura do Shopping Del Rei por quatro meses. Antes, tinha ficado por sete meses como vendedora em loja da Arezzo no Pátio Savassi, e anteriormente por outros nove meses na Vírus, do BH Shopping. “Fui trocando de emprego porque estava buscando uma coisa melhor. Não tive medo de ficar desempregada”, explica. Nesses três empregos, ela trabalhava de segunda a sábado, domingo sim, domingo não, e também nos feriados. “Não tinha vida social. Aliás, não tinha vida”, desabafa. Agora, ela jogou o último emprego para o alto e passou a trabalhar como atendente na loja dos Correios da Avenida Bandeirantes, na Zona Sul de Belo Horizonte. O salário subiu e a qualidade de vida melhorou.

A trajetória de Rosenilda em busca de um emprego melhor envolveu idas e vindas. Ela trabalhou por 15 anos como empregada doméstica numa casa de família, mas conta que estava infeliz no emprego. “Ficava fazendo as mesmas coisas. Lavando, passando, cozinhando. Fiz um curso de babá, gostei, mas achei que não seria a pessoa ideal para trabalhar com crianças”, explica. Rosenilda deixou o emprego, voltou e depois saiu de novo. Hoje, trabalha como cuidadora de idosos. Seu rendimento subiu de um salário mínimo registrado em carteira para R$ 1 mil. Mas a mudança não foi fácil. “Claro que tive medo de deixar um emprego tão antigo, mas minha vida estava todo dia a mesma coisa, eu precisava mudar. Hoje trabalho feliz. O mercado aquecido me ajudou a tomar coragem.”


CONQUISTA MAIS RÁPIDA Segundo Plínio Campos Souza, coordenador técnico da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) realizada pela Secretaria de Estado de Trabalho e Emprego (Sete), Fundação João Pinheiro (FJP), Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) e Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), as pessoas já levaram 60 semanas para conseguir emprego. Porém, entre junho de 2012 e 2013, o tempo médio despendido pelos desempregados na procura por trabalho diminuiu de 26 para 22 semanas. “Mesmo com a turbulência da economia, os brasileiros continuam otimistas, tanto que estão procurando trabalho”, sustenta.

Entre maio e junho, o desemprego caiu de 7,4% para 6,7% na capital mineira e seu entorno. Nesse período, 23 mil pessoas encontraram ocupação. Por outro lado, o número de desempregados caiu 9,3% em junho na comparação com maio. “A rotatividade é grande porque muita gente pega experiência e vai embora, em busca de um emprego melhor”, explica Plínio Souza. Nos últimos 12 meses, houve aumento do contingente de desempregados (52 mil pessoas) como resultado do acréscimo de ocupações (45 mil), em número insuficiente para absorver as pessoas que passaram a fazer parte do mercado de trabalho da região (97 mil).

Quanto menor o ganho, maior ica a confiança


Segundo o levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o medo do desemprego é menor entre mulheres do que entre homens, entre pessoas acima de 50 anos e entre jovens de 16 a 24 anos, com grau de instrução até a 4ª série do ensino fudamental, seguidos pelos que têm de 5ª a 8ª séries e ensino médio, um contraste com as pessoas que têm nível superior.

O Índice Medo do Desemprego mostra que o temor de ficar fora do mercado de trabalho é maior nas regiões Norte e Centro-Oeste e mais contido no Sudeste. Além disso, deixa claro que esse sentimento cresce à medida que o nível salarial aumenta. Entre as pessoas com rendimento de até um salário mínimo, ele fica em 69,5 pontos e entre aqueles com renda superior a 10 salários mínimos sobe para 76,7 pontos.

“Com certeza, os trabalhadores da indústria não devem estar encorajados a mudar de emprego, mas no setor de serviços essa possibilidade está colocada”, afirma Cláudio Salvadori Dedecca, professor do Centro de estudos Sindicais e da Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Na avaliação dele, como a economia brasileira está crescendo pouco, mas avança, o desemprego continua baixo e não há quadro de deterioração no mercado de trabalho para os próximos meses, já que historicamente o segundo semestre do ano é um período de mercado aquecido no Brasil. “Toda a expectativa nesse sentido vai ser jogada nos primeiros meses de 2014”, avisa.

MANUTENÇÃO “Neste exato momento, acho que o medo do desemprego aumentou, mas não de forma explosiva. Para este temor aumentar significativamente, só se entrássemos numa queda no nível de emprego muito significativa”, sustenta Dedecca. De acordo com ele, se não houver recessão no semestre que se inicia, a tendência é de manutenção no quadro de empregos, já que os consumidores liquidaram dívidas no primeiro trimestre e o Natal e o 13º vão estimular a economia.
“Se o meu medo de ficar desempregado encontra-se no mesmo patamar de seis meses atrás, não acredito que vou perder meu emprego, mas neste exato momento não estou tão disponível para mudar de emprego como há seis meses eu poderia estar”, explica de Dedecca. (ZF)


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