Cidade Industrial de Contagem se rende às empresas do varejo

Criada, por decreto, em 1941 para receber grandes indústrias, a Cidade Industrial Coronel Juventino Dias, em Contagem, na Grande Belo Horizonte, está se transformando no eldorado do comércio. Quase sete décadas depois de inaugurado o distrito industrial, a região não para de atrair importantes redes do varejo, cada vez mais ávidas pela multidão que transita e trabalha diariamente ali e, claro, pelo aumento do poder aquisitivo da chamada nova classe média. O cartão-postal da Cidade Industrial ilustra bem o que ocorre por lá. Trata-se das quatro chaminés erguidas na extinta fábrica de cimento Itaú, uma das maiores do estado na primeira metade do século passado e responsável pelo fornecimento de boa parte da matéria-prima às obras de construção de Brasília. Hoje, as chaminés compõem os jardins do maior centro comercial da cidade, o ItaúPower Shopping.

“O setor de serviços (que engloba o de comércio) tem uma particularidade em relação às outras atividades, que é conseguir ‘participar’ (do ritmo) delas. Uma cidade industrial necessita das empresas de serviços para atender tanto os funcionários que lá trabalham quanto os moradores. É uma área que cresceu muito e, quando isso ocorre, a tendência é de que o comércio siga no mesmo caminho”, explica o economista Gabriel de Andrade Ivo, da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Minas (Fecomércio Minas).

A rede Supermercados BH percebeu tal tendência e se apressa para inaugurar, até o fim do ano, a segunda unidade na região – e a 124ª filial do grupo. “O crescimento da região nos levou a concluir que a área comporta outra loja, a qual demandará R$ 5 milhões em investimentos. Vamos gerar 120 postos de trabalho diretos”, comemora Pedro Lourenço, sócio-diretor da empresa. Aliás, os postos de trabalho no comércio da Cidade Industrial e adjacências ajudaram Contagem a ampliar as vagas formais em toda a cidade.

No acumulado dos últimos 12 meses, encerrados em setembro, a geração de vagas no comércio do município cresceu 4,99%, com 2,8 mil oportunidades. O percentual é maior do que o registrado pela indústria de transformação, de 930 postos, uma expansão de 1,65%. Em números absolutos, o comércio abriu 2,8 mil vagas e a indústria de transformação, 930 postos. Não há estatísticas só da Cidade Industrial.

A Vilma Alimentos, que na década de 60 deixou o Barro Preto (Região Centro-Sul de BH) para se instalar na Cidade Industrial, aproveitou a demanda aquecida na área e inaugurou, há duas semanas, sua primeira loja própria, que ocupa um espaço de 850 metros quadrados, com recursos da ordem de R$ 3 milhões.

Perto de lá, o ItaúPower Shopping, o das chaminés que pertenceram a uma das mais antigas fábricas mineiras de cimento, também coleciona bons números. Inaugurado em outubro de 2003, a ocupação é total. São 170 lojas e seis cinemas. Nos dias úteis, recebe entre 35 mil e 40 mil consumidores e nos fins de semana esse universo salta para até 50 mil clientes.

Privilégio Com o desenvolvimento da Cidade Industrial, a região recebeu o primeiro outlet do estado e, hoje, já abriu um segundo empreendimento do ramo, que tem como mote a venda de produtos de moda de coleções passadas com descontos. O Sómarca ocupa nove mil metros quadrados desde 2009, oferecendo itens de grifes como Calvin Klein, Nike, Puma e outras 17 marcas de renome. Segundo o dono da loja, Mário Valadares, 60% dos clientes são da nova classe média, cujo rendimento familiar oscila de R$ 1.024 a R$ 2.564,99. O outro outlet, aberto em 2010 e que demandou aporte de R$ 1,1 milhão, é o da Lider Interiores, uma das maiores empresas de móveis e decoração do país. “Estamos num local privilegiado, rodeado por outras grandes redes, o que beneficia o fluxo de clientes”, disse Tiago Nogueira, gerente de marketing da Lider Interiores.