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Estado de Minas

Juros em baixa reduzem ganhos e empresas trocam aplicações por aporte de recursos


postado em 08/10/2012 07:25 / atualizado em 08/10/2012 07:29

Diretor da Greengold, Carlos Damasceno diz que empresa deixou mercado financeiro para abrir filial no Rio de Janeiro, negócio com maior rentabilidade(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A/Press)
Diretor da Greengold, Carlos Damasceno diz que empresa deixou mercado financeiro para abrir filial no Rio de Janeiro, negócio com maior rentabilidade (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A/Press)


Com as portas do paraíso dos altos ganhos financeiros fechadas pela drástica queda dos juros básicos da economia (Selic) no país, os investidores brasileiros que querem salvar o seu rico dinheirinho da desvalorização já estão aplicando, direta ou indiretamete, no setor produtivo. Na tentativa de defender a remuneração do capital, cada um se vira como pode. Passada a fase do susto, a jornada por rendimentos superiores aos da renda fixa inclui fundos de private equity e fundos imobiliários – que rendem em geral inflação mais 10% ao ano – , os riscos da bolsa de valores, hotelaria, ampliação do próprio negócio e início de participação societária em empresas. Bem-vindos ao Brasil do empreendimento e do risco.

O consultor de finanças pessoais Erasmo Vieira que o diga. Especialista em aconselhar investidores, ele vive viajando pelo estado para ministrar palestras que ensinam as pessoas a cuidarem de suas economias. Mas agora resolveu diversificar sua atividade e aplicou R$ 70 mil num delivery de comida chinesa no Bairro Caiçara, Região Noroeste de Belo Horizonte, o Uai China. Para tomar essa iniciativa ele fez cálculos. “Se deixasse esse dinheiro numa aplicação financeira, ele renderia R$ 350 ao mês. É muito pouco. Por isso me liguei a um sócio que já tem duas lojas de delivery de comida chinesa e que, portanto, conhece bem o negócio”, explica. Isso só foi possível porque ele não tem urgência em ter o dinheiro de volta.

“Posso esperar pelo retorno. Mas acredito que no ramo da alimentação não há muito erro. Sei que o mercado está competitivo e que uma pequena empresa não consegue sobreviver sem boa gestão e administração. Por isso tentei minimizar os riscos me associando a uma empresa que já está funcionando. Se eu fosse começar do zero, teria grande chance de não dar certo. Não dá mais para ficar dependendo de aplicação financeira”, diz Erasmo Vieira. Carlos Augusto Damasceno, diretor comercial da Greengold Engenharia e Projetos, especializada em projetos de instalações elétrica, hidrossanitária e de telecomunicação, entre outros, também viu na geração de trabalho e de renda a possibilidade de um retorno maior do capital da empresa, que estava no banco à espera por uma decisão de investimento.

A aposta, considerada um sucesso, foi abrir uma filial no Rio de Janeiro, com investimentos previstos entre R$ 600 mil e R$ 800 mil no ano. “No fim de 2011, antes mesmo da queda da Selic, quando as melhores aplicações financeiras nos bancos estavam rendendo pouco mais de 1%, contratamos um consultor de finanças in company e, com isso, nossa percepção dos lucros ficou muito fina”, explica Damasceno. Diante da constatação de que era impraticável manter o dinheiro no banco, a sugestão da consultoria foi a abertura de uma filial na capital fluminense. A meta era, em três anos, produzir no Rio o mesmo que é produzido na sede, em Belo Horizonte.

Mas em apenas três meses a filial fechou 10 projetos, faturando R$ 4 milhões. Com isso, os objetivos fixados para a nova unidade deverão ser cumpridos em menos de um ano. “Hoje, falar em poupança ou em fundo de renda fixa para remunerar o capital é brincadeira. Não existe retorno, a rentabilidade máxima é de 7,5% ao ano. Para quem é empreendedor, isso é jogar dinheiro no lixo. Prefiro abrir um negócio, movimentar a cadeia produtiva, gerar emprego e renda da ficar com dinheiro no banco rendendo o mínimo”, explica o empresário. Segundo ele, a decisão de abrir a filial foi tomada com base numa expectativa de rentabilidade de quase 300% ao ano. “Quando você pega o seu dinheiro e empreende, o retorno que recebe é muito maior. Só que os brasileiros ainda não têm visão do empreendedorismo. Fiz MBA em Boston (EUA) e fiquei impressionado de ver como os americanos empreendem.”

A migração dos recursos investidos no mercado financeiro para o setor produtivo é uma realidade sem volta. Muita gente ainda vai seguir esse caminho, alguns se arrependerão porque o passo foi maior do que a perna, outros vão comemorar. Faz parte do jogo. Antigamente, para viver de juros, bastava aplicar o dinheiro no banco, ir para a praia, estender uma rede e deitar. “Agora, a opção é não só investir na atividade produtiva, mas também correr mais riscos em troca da possibilidade de ganhos maiores na bolsa de valores. O mercado de ações, antes de ser especulativo, é um investimento indireto em empresas”, observa Paulo Vieira, consultor e professor de finanças.

Oportunidade


Para Miguel Daoud, sócio-diretor da Global Financial Advisor, a mudança de cenário ocorre em função da oportunidade única que o Banco Central (BC) teve de reduzir a taxa de juros básica da economia (Selic), amparada pela recessão no cenário externo. “Quando há uma situação de enfraquecimento da economia mundial e da economia interna, isso permite a queda de juros em tempo bem curto. Trata-se de uma redução decorrente de mudanças conjunturais e nessa situação a taxa real de juros que remunera os investimentos também cai. Por isso, no Brasil, boa parte dos investimentos estão com rendimento real negativo”, explica.


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