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Estado de Minas

Crise força diversificação de produtos para exportação

Queda na demanda por minério é compensada por alta na procura por outros produtos e pelo crescimento de mercados como Omã, Suíça e Dinamarca no balanço das exportações de Minas


postado em 19/07/2012 06:00 / atualizado em 19/07/2012 07:12

No rastro da queda das exportações de Minas Gerais, provocada pelo desaquecimento das economias europeia e americana e o crescimento menor da China, novos destinos no exterior e produtos sem a tradição do minério de ferro e do café ganharam espaço no primeiro semestre. Os embarques de carnes de boi, porco e frango e de açúcar mostraram farto crescimento, reforçando a participação de países como a Rússia, Arábia Saudita e os Emirados Árabes, e de regiões a exemplo de Hong Kong, na lista dos principais parceiros do comércio do estado no mercado internacional. O avanço de medicamentos também contribui para contrabalançar o recuo das vendas de ferro e de café e marcar a presença da Dinamarca na lista dos clientes mineiros.

Suíça e Omã, da mesma forma, conquistaram degraus no ranking dos principais destinos das exportações mineiras, em decorrência de outro fenômeno observado entre janeiro e junho: o deslocamento das vendas de minério de ferro de áreas com demanda menor, como é o caso da China. As compras do gigante asiático, concentradas na matéria-prima, caíram 15,33% no primeiro semestre, uma perda de US$ 905 milhões, comparada ao resultado do mesmo período do ano passado. Ainda assim representaram 30,8% do total de US$ 16,211 bilhões da receita obtida pelo estado no exterior.

A despeito de responderem por percentuais bem inferiores das exportações do estado, em alguns casos inferiores a 2% do total, os embarques para Dinamarca, Arábia Saudita e Hong Kong mais que dobraram, com taxas de crescimento de 171,3%, 126,9% e 103,5%, respectivamente. Essa espécie de dança das cadeiras nos destinos das exportações e entre os produtos mais vendidos vai além do reflexo da valorização recente do dólar sobre o real, que incentiva as exportações. O câmbio mais favorável impulsionou exportadores que já vinham desenvolvendo políticas para conquistar mercados no exterior, como é o caso dos fabricantes mineiros de alimentos Pif Paf e Clap, dona da marca Maricota.

Trabalhando há seis anos para aumentar as exportações, a Clap Alimentos já contabiliza no Oriente Médio vendas de pão de queijo e de toda a linha de lazanhas, pizzas e salgados fabricados em Luz, no Centro-Oeste de Minas, informa Camila Ozório, gerente da área internacional da empresa. Para a Arábia Saudita, são embarcados quatro a cinco conteineres por mês. “Até 2015 queremos exportar 20% da produção e alcançar grandes redes de varejo, principalmente na África e no Oriente Médio”, afirma. Fruto desse esforço da Clap, a fábrica recebeu, só neste mês, visitas de cinco grupos de empresários muçulmanos e árabes. As vendas externas cresceram de 5% da produção no ano passado para os atuais 8%.

Na Pif Paf, o gestor de marketing Flávio Starling Braga observou aumento significativo de consultas de importadores da Rússia e de embarques efetivos para Hong Kong. “A valorização do dólar teve efeito importante para o resultado, fazendo com que nossos produtos ficassem mais competitivos no mercado internacional”, disse o executivo. A empresa melhorou a sua performance no exterior em mercados considerados velhos conhecidos, como Japão, Filipinas, Cingapura e Cuba.

DIVERSIFICAÇÃO As carnes foram a grande vedete das exportações de Minas para a Rússia, respondendo pela quase totalidade da receita de US$ 71 milhões apurada nas vendas ao país no primeiro semestre, conforme levantamento feito pelo economista Alexandre Brito, do Centro Internacional de Negócios do Instituto Euvaldo Lodi, vinculado à Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). Nas compras da Arábia Saudita, que somaram R$ 108,2 milhões, um incremento de 126,9%, pesaram carnes e açúcar.

As compras maiores da Suíça e de Omã refletem um redirecionamento das exportações de minério de ferro, que recuaram de 47% de tudo o que o estado exportou em dezembro do ano passado para 42% no fim de maio, observou Alexandre Brito. Para o economista, houve uma diversificação, a rigor, natural das exportações mineiras em razão da própria queda das vendas do carro-chefe da pauta mineira de comércio com o exterior, o minério de ferro. “Há uma tendência de diversificação lenta e contínua das exportações de Minas. Espero é que ela seja duradoura”, afirma.

Estado perdeu 55% com a Europa

As exportações mineiras no primeiro semestre indicam reflexos da crise mundial que podem surpreender os próprios analistas da área de comércio exterior, considerando-se uma pauta do estado muito centrada nas chamadas commodities, os produtos agrícolas e minerais com preços cotados no mercado internacional. Errou quem imaginava que a desaceleração da China fosse o maior problema para as vendas externas de Minas. E as incertezas do crescimento dos Estados Unidos? O cenário teve impacto, mas talvez não tenho sido o esperado.

Um estudo detalhado para o período de janeiro a maio feito pela pesquisadora Elisa Maria Pinto da Rocha, da Fundação João Pinheiro, mostrou que Minas deixou de apurar US$ 1,7 bilhão no mercado internacional. A turbulência na economia da Europa foi responsável por 55% da perda, o equivalente a US$ 945 milhões. Os clientes dos Estados Unidos diminuíram as compras em US$ 25 milhões, cifra que justificaria 1,4% do que o estado deixou de ganhar. Já a conta da China minguou US$ 666 milhões, representando 38,7% da redução das vendas.

“É um resultado que, com certeza, merece ser melhor investigado”, diz Elisa Rocha. Num cenário ruim, por exemplo, o estudo identificou um lado positivo nas vendas aos Estados Unidos, que envolvem produtos mais sofisticados em comparação ao predomínio do minério de ferro nas compras da Ásia.. Entre as vendas para os clientes norte-americanos, a maior queda se deu nos embarques de café, de 36%, enquanto cresceram de US$ 45 mil para US$ 64 milhões – aumento de 142.000% – as exportações de veículos e equipamentos aeroespaciais, itens com tecnologia de última geração embarcada. A substituição de produtos, portanto, foi positiva.

Alexandre Brito, do IEL/Fiemg, lembra que, junto às carnes e o açúcar, cresceram as receitas das exportações mineiras de ouro, pedras, artefatos de ferro e aço e de etanol. O problema da concentração das commodities nos embarques ao exterior preocupa não só em Minas como no país. Conforme projeções da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), a participação dos produtos básicos nas exportações brasileiras deverá ser reduzida de 47,82% em 2011 para 45,58% neste ano, devido à redução dos preços no exterior. O presidente em exercício da AEB, José Augusto de Castro, destaca que a dependência brasileira das commodities continuará alta, tendo em vista que elas são 18 dos 20 principais produtos exportados pelo país. A lista é liderada pelos óleos combustíveis. (MV)


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