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Estado de Minas

Executivo argentino já comanda a Usiminas

Executivo argentino substitui Wilson Brumer na presidência da empresa. Hoje ele vai à usina, em Ipatinga, e se encontra com empregados, políticos e empresários da região


postado em 18/01/2012 06:00 / atualizado em 18/01/2012 07:20

Indicado como novo presidente da Usiminas, depois de oficializado o acordo de acionistas da empresa mineira, o argentino Julián Alberto Eguren, de 48 anos, executivo de carreira do grupo ítalo-argentino Techint, assumiu ontem mesmo o comando da siderúrgica, e inicia hoje uma agenda carregada de reuniões, em Ipatinga, no Vale do Aço mineiro. Sem surpresas para o mercado financeiro, o ex-presidente-executivo da Ternium México substitui Wilson Brumer, que estava no cargo desde abril de 2010. A troca não teve repercussão importante sobre as ações da companhia, que viveu um dia morno na bolsa de valores. Por meio de nota distribuída à imprensa, Eguren disse que ter acionistas do setor é um diferencial para a capacidade da Usiminas de competir. “Iremos trabalhar em equipe na melhoria da eficiência operacional, oportunidades de mercado e melhoria da competitividade”, afirmou.

(foto: Deiwis Fontes/Divulgação )
(foto: Deiwis Fontes/Divulgação )
O recado do novo presidente da Usiminas é uma resposta à baixa avaliação dos analistas, que têm destacado o fraco resultado operacional da empresa no ano passado. No último balanço, relativo ao terceiro trimestre de 2011, o lucro líquido de R$ 154 milhões foi 70% inferior ao resultado apurado entre julho e setembro de 2010. Pelo novo acordo de acionistas oficializado ontem, e que vale até 2031, o bloco de controle da siderúrgica passa a ser composto pelo Grupo Nippon, com 29,44% do total das ações ordinárias – com direito a voto –, pelas empresas Tenaris e Ternium, do grupo Techint, detendo 27,66% dos papéis, e pela Caixa de Empregados da Usiminas, com 6,75%.

A parcela do capital da siderúrgica Ternium, que inclui a subsidiária Siderar e a Confab Industrial, subsidiária da Tenaris do Brasil, é formada pela aquisição de participações da Caixa de Empregados da Usiminas e das cotas dos grupos Camargo Corrêa e Votorantim, empresas que saíram da composição acionária da companhia mineira. Os novos acionistas compraram 139,7 milhões de ações ordinárias, ao preço de R$ 36 por ação, totalizando uma injeção de recursos de R$ 5,030 bilhões.

Mudanças Além da troca de presidentes, um comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) pela Usiminas informou a indicação pelo grupo Ternium/Tenaris dos executivos Daniel Agustín Novegil, Roberto Caiuby Vidigal e Alcides José Morgante como seus representantes no conselho de administração. Saíram os conselheiros Albano Chagas Vieira, Francisco Caprino Neto e Luiz Aníbal de Lima Fernandes, que representavam os grupos Camargo Corrêa e Votorantim. A nota da Usiminas diz, ainda, que ter acionistas focados no negócio do aço “abre caminhos para a consolidação de sua liderança no mercado brasileiro de aços planos.”

Ver para crer parece ser a disposição dos analistas do mercado financeiro, representantes dos empregados e de empresas com algum tipo de ligação com a Usiminas, ante a repercussão das mudanças no companhia. “Agora é esperar para sabermos como a nova diretoria vai fazer para que esse negócio (a Usiminas) se torne novamente rentável e remunere o investimento no menor tempo possível”, disse o analista de mineração e siderurgia do Banco Geração Futuro, Rafael Weber. O cenário ruim para a indústria siderúrgica, ante o excesso de estoques no mundo e o ingresso agressivo do aço chinês e de países emergentes, dificuldade particularmente grande no Brasil, aumenta o problema.

Rafael Weber lembra que não há justificativa razoável para a empresa apresentar margem operacional tão baixa. Medido pela margem Ebtida, o indicador ficou abaixo de 10% no terceiro trimestre de 2011, quando entre as concorrentes a rival Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) tem exibido margens de 36% a 40%. A expectativa é de que o novo presidente imprima decisões estratégicas com foco em bons resultados na siderurgia, reavaliando ativos não mais atrativos aos olhos dos analistas financeiros, como a produção de máquinas, equipamentos e vagões, por meio da Usiminas Mecânica, e no fornecimento ao setor automotivo, com a Automotiva Usiminas.

Somente nessa hipótese de se desfazer de ativos é que, em tese, Weber acredita em medidas como enxugamento de pessoal na Usiminas. Imaginando algum tipo de sinergia com a Ternium, a siderúrgica argentina é que tenderia a ganhar a partir do fornecimento de semiacabados pela usina mineira. Pontos positivos são a criação da Mineração Usiminas e as inversões para autossuficiência em energia elétrica.

Dia morno para as ações

Num dia fraco de movimentações de papéis da Usiminas, a boa notícia foi que as ações não perderam valor. Às 17h15, as ações preferenciais da companhia (USIM5) apresentavam ligeira valorização de 0,10%, cotadas a R$ 11,13 quase no fechamento das negociações. A alta representou R$ 0,01 a mais na comparação com segunda-feira, um dia de baixa para os investidores, em decorrência de feriado nos Estados Unidos. Os papéis ordinários da Usiminas valorizaram modestos 0,65% .

“Falta de interesse dos investidores e decisões que não trouxeram surpresas”, resumiu Daniel Ribeiro, operador da Ativa Corretora, ao comentar a repercussão das mudanças na Usiminas. Ele destaca que não há, mesmo depois de oficializado o novo acordo de acionistas, motivação para os investidores reforçarem suas posições na companhia.


Quem é

Uma carreira a indústria

(foto: Deiwis Fontes/Divulgação )
(foto: Deiwis Fontes/Divulgação )
Dono de larga experiência na indústria siderúrgica latino-americana, Julián Eguren (foto) tem ocupado funções na Organização Techint no México, Argentina e Venezuela há 25 anos. O executivo iniciou a carreira no grupo como trainee, em 1987, na TenarisSiderca, na Argentina, e em 1993 marcou no currículo a primeira atividade internacional. Ocupou diversos cargos na TenarisTamsa, no México, e assumiu em 1998 a presidência da Sidor, na Venezuela, empresa considerada a maior siderúrgica do subcontinente. Naquela época conheceu a Usiminas e se aproximou dos sócios japoneses da companhia mineira.  Eguren chegou ao comando da Ternium, no México, em 2008. A siderúrgica mantém processo integrado de fabricação do aço, desde a mineração própria a centros de serviços para a indústria, com operações na Colômbia e na Guatemala. O novo presidente da Usiminas militou também no setor como diretor do antigo Instituto Latino-Americano de Ferro e Aço, hoje denominado Alacero, e presidente da Junta Diretiva Tenigal, empresa criada em parceria pela Ternium e a Nippon Steel.  Ele se formou em administração de empresas e concluiu mestrado em direção de empresas no Massachussets Institute of Tecnology (MIT), nos Estados Unidos. Casado e pai de quatro filhos, Eguren é um praticante de esportes, tendo participado de maratonas internacionais e competições de triátlon. 

Expectativa no Vale do Aço

Uma coleção de pedidos está à espera de Julián Eguren em Ipatinga, no Vale do Aço. As empresas locais do comércio, indústria e prestação de serviços querem intensificar a política que o presidente anterior adotou de estímulo à participação delas nas compras da siderúrgica. “Embora a cidade dependa menos da Usiminas, a companhia continua sendo uma grande âncora de negócios e irriga uma série de atividades paralelas na economia local”, afirma Gustavo Augusto Ataide Souza, presidente da Associação Comercial, Industrial e Agropecuária de Ipatinga.

Na reunião que terão hoje às 15h com o novo presidente da Usiminas, os empresários vão pedir que a companhia apoie a briga com o governo federal para licitar o projeto de duplicação da BR-381 no trecho entre a cidade e Belo Horizonte. Gustavo Souza afirma que há expectativa de uma gestão mais agressiva para que a Usiminas cresça e leve com ela os fornecedores locais, embora ele reconheça que esse cenário requer nuvens azuis sobre o horizonte da siderurgia brasileira.

O prefeito de Ipatinga, Robson Gomes da Silva, pretende enfatizar a importância dos negócios da siderúrgica não só para a arrecadação municipal de impostos mas também na geração de empregos. Estima-se que o trabalho de pelo menos 20 mil pessoas, de uma população de 240 mil habitantes, gire em torno da usina. “Esperamos que a empresa se disponha a manter uma relação estreita com o município, para trabalhamos juntos na melhoria dos indicadores da vida na cidade”, afirma.

Mais direto, o deputado federal Luiz Carlos de Miranda, que se mantém no posto de presidente do sindicato local dos metalúrgicos desde que a siderúrgica era uma estatal, diz que espera de Eguren uma política de valorização dos empregados, que teriam perdido prestígio e voz nas últimas duas administrações. “Estamos com a bandeira branca levantada. Que eles (os novos acionistas) venham com investimentos e motivem os empregados, aprendendo a cantar a seresta mineira”, brinca.

A agenda de Julián Eguren começa cedo em Ipatinga, quando ele visitará a usina da Usiminas, falará com gerentes e empregados em geral. À tarde, o executivo receberá os representantes da comunidade no escritório central, que funciona dentro do parque industrial da companhia. Eguren estará acompanhado de Wilson Brumer, que permanece na companhia por mais uma ou duas semanas para a transição.


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