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Estado de Minas

Profissionais preferem qualidade de vida em vez de altos salários

Para muitos, um bom salário não garante felicidade. Fatores como desenvolvimento da carreira e qualidade de vida têm atraído profissionais brasileiros. E as empresas precisam se virar para manter seus funcionários


postado em 02/08/2011 09:41 / atualizado em 02/08/2011 11:50

O que levaria você a mudar de emprego? Para a maioria dos profissionais brasileiros que ocupam cargos gerenciais, novas possibilidades de desenvolvimento da carreira, mais qualidade de vida e maior apoio à formação seriam as principais respostas a esse questionamento. É o que dizem os especialistas e atesta uma pesquisa realizada este ano pela empresa de recrutamento norte-americano Robert Half, que ouviu executivos de 11 países, entre eles o Brasil. Frente a esse quadro, cada vez mais as corporações daqui investem em programas motivacionais para reterem os trabalhadores em seus quadros.

De acordo com a coach e diretora técnica do escritório Homero Reis e Consultores, Thirza Reis, a remuneração é muito importante nessa questão, porém outros elementos têm ganhado mais relevância entre os profissionais do país. “Uma proposta financeira estruturada é fundamental, mas hoje muita gente troca de emprego por mais bem-estar”, avalia. “Quando a pessoa chega a postos gerenciais e já tem alguma estabilidade econômica, ela começa a colocar em xeque se vale a pena o volume de estresse.” O gerente sênior da Robert Half, Sócrates Melo, completa: “Hoje os profissionais estão

bem mais seletivos, estão olhando para todos esses quesitos, especialmente as oportunidades que a empresa dá para ele atingir seus objetivos na carreira”.

Os números da pesquisa quantificam o que dizem os especialistas (ver gráfico). Para 34% dos entrevistados no Brasil, o principal fator que os levaria a escolher uma corporação em detrimento de outra seria o “desenvolvimento de carreira/ maiores responsabilidades”, ou seja, a possibilidade de crescimento profissional. A média dos 11 países participantes do estudo ficou em 24%, o que significa que os brasileiros dão mais importância a esse ponto que, por exemplo, os austríacos (17%) e os holandeses (16%).

Em segundo lugar no ranking, o quesito qualidade de vida foi a resposta de 32% dos entrevistados daqui. Na Bélgica, esse tópico recebeu citação de 42% dos executivos ouvidos e, na França, ele mereceu ainda mais atenção: 44% dos indagados colocaram esse elemento no topo da lista. No geral, ele recebeu 37% das indicações. Segundo Thirza Reis, esse ponto é o que mais vem ganhando força entre os brasileiros nos últimos anos. “A qualidade de vida é o grande tema nas discussões hoje em dia, até porque ela é o objetivo final de todo mundo”, comenta a coach, que explica em que consiste essa expressão tão utilizada atualmente: “Dizemos que a ideia é ter os três pilares fundamentais da vida — trabalho, relacionamentos e lazer — equilibrados. Então, o objetivo é ter um emprego que não consuma os demais pilares.”

Um outro ponto mereceu destaque por parte dos profissionais brasileiros: o apoio à formação e aprendizagem. Enquanto países como Luxemburgo (1%) e Itália (6%) colocaram esse tópico no fim da lista, o Brasil concedeu-lhe o terceiro lugar, com 10% das respostas, quatro pontos percentuais acima da média. Para os especialistas, esse incentivo à capacitação é visto como um estímulo pelos trabalhadores por acarretar em ganhos ao currículo, à carreira e, consequentemente, aos rendimentos.

A pesquisa da Robert Half também avaliou os contrastes entre os sexos no mercado de trabalho e concluiu que as mulheres levam mais em conta do que os homens fatores como qualidade de vida e apoio à formação na hora de escolher entre um emprego e outro. Quanto ao primeiro tópico, foram 35% de menções delas contra 27% deles. Já em relação ao incentivo à capacitação, ele foi a escolha de 13% das trabalhadoras e de apenas 5% dos trabalhadores brasileiros. O presidente do Conselho Federal de Administração (CFA), Sebastião Luiz de Mello, explica o resultado com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): “As mulheres estudam mais do que os homens. Elas têm, em média, 7,4 anos de estudos. Já o sexo oposto dedica-se cerca de 6,9 anos aos bancos escolares”. Além disso, Thirza Reis diz que “a mulher ainda é mais voltada para a família, para o cuidado e para a estética, enquanto o homem é muito educado para o resultado”.

Programas

Diante desses anseios dos profissionais brasileiros, as empresas têm ampliado os programas motivacionais para manterem os trabalhadores em seus quadros. “A escassez generalizada de mão de obra, qualificada ou não, criou um círculo virtuoso de valorização profissional, em que as empresas buscam a todo custo segurar seus funcionários”, conta Mello. Nesse processo, vale quase tudo: de bônus generosos até cursos e viagens para o exterior, passando por flexibilidade de horários e premiações por metas alcançadas.

É o caso da perfumaria brasiliense Lord, que mantém muitos projetos para a empresa ser atraente aos olhos dos colaboradores. Entre os benefícios que a loja oferece, estão prêmios por cotas de vendas, que podem chegar a viagens nacionais e internacionais, cursos de atualização semanais, dinâmicas de motivação, descontos em salões de beleza e festas de confraternização. “Esse investimento realmente funciona. Todos os nossos trabalhadores estão há bastante tempo na casa”, comenta a diretora de marketing da rede, Luciana Lucena, que participa da elaboração das campanhas motivacionais.

Um exemplo do que diz a diretora é a atual gerente da filial da Asa Sul, Ana Lúcia Rezende, 30 anos. Há 12, ela chegou à rede para trabalhar como empacotadora. Pouco depois, largou o emprego e foi para uma multinacional de cosméticos, mas só ficou cinco meses por lá. “Senti falta de tudo que tinha no grupo, tanto o relacionamento com o diretores quanto os cursos e as viagens”, lembra. Ana Lúcia voltou para a Lord e não se arrepende. Além de todo o apoio que recebeu para fazer sua pós-graduação e vários outros cursos, ela diz ter realizado um sonho graças à perfumaria. “Conheci Paris e Marrocos, com tudo pago, depois de atingir umas metas de vendas”, conta, orgulhosa.

Artifício aprovado pelos especialistas, as premiações também são a aposta da Beiramar Imóveis. “Temos programas de incentivo mensais, metas curtas premiadas com carros, motos, Ipads”, fala o diretor comercial da imobiliária, Paulo Fernandes. Além disso, o grupo investe no espaço físico e em cursos de formação para os colaboradores, alguns até realizados em spas. De acordo com Fernandes, o esforço vale a pena. “Nosso índice de satisfação é muito alto, o que implica diretamente uma baixa rotatividade”, conta o diretor.

Troca-troca

Os últimos dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) apontam que a rotatividade — ou seja, a troca de emprego — é alta no Brasil. Em 2009, ela atingiu a marca de 39%. Os números mostram que, em 2009, 42,7% dos desligamentos ocorreram com até seis meses de contrato. De 2000 a 2009, cerca de 80% dos desligamentos foram de vínculos com menos de dois anos de duração.


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