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Estado de Minas

Para especialistas, medidas para conter queda do dólar têm curto alcance


postado em 28/07/2011 06:00 / atualizado em 28/07/2011 10:05

Tânia Maria e José Zica na casa de câmbio para enviar dinheiro para o filho que mora nos EUA:
Tânia Maria e José Zica na casa de câmbio para enviar dinheiro para o filho que mora nos EUA: "aumenta muito pouco" (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Inócuas, burocráticas, arrecadatórias e paliativas. Os adjetivos usados por especialistas em mercado financeiro para classificar as medidas anunciadas nessa quarta-feira pelo governo para conter a desvalorização do dólar não são dos mais generosos. A proposta do Ministério da Fazenda, com foco no mercado de derivativos, conseguiu estancar a queda vertiginosa da cotação da moeda dos EUA, mas o efeito, a exemplo de tentativas anteriores do BC, não deve ser duradouro. “É como um tiro de canhão para matar uma mosca. Mas a mosca é mais ágil que a bala”, exemplifica Alex Agostini, economista chefe da Austin Rating, agência classificadora de risco de crédito.

Na opinião do especialista, as variáveis que determinam a flutuação do câmbio são muito mais estruturais que conjunturais: “A desvalorização do dólar é processo que vem de pelo menos 10 anos, quando as grandes empresas de internet quebraram. A verdade é que depois disso, com o atentado de 2001 e as guerras no Oriente Médio, os Estados Unidos ainda não se recuperaram plenamente”. Nesse sentido, cresce a expectativa com relação à decisão do Congresso dos Estados Unidos quanto ao aumento do teto da dívida daquele país. O risco de calote aumenta o nervosismo e joga a moeda para baixo.

O economista da corretora de investimentos MBK Vermont Fabrício Candra concorda: “Não vai ser uma medida interna do governo brasileiro que vai conseguir resolver o problema decisivamente. Nada indica alta consistente do dólar no curto prazo, é preciso esperar para ver como serão resolvidas as questões fiscais da Europa e dos EUA”. Segundo Candra, para impedir efetivamente a entrada de dólares, só mesmo medidas mais duras, como a improvável redução das taxas de juros. Medidas heterodoxas reverteriam o processo, mas arrumariam problema 100 vezes maior”, pondera Agostini, ressaltando que, na opinião dele, o real forte não é problema assim tão grande para a economia brasileira: “O câmbio barato estimula investimentos de máquinas e equipamentos, o que pode ser essencial na preparação do país para a Copa do Mundo, por exemplo, na construção de estádios”.

Empresas

A decisão dessa quarta-feira deve afetar diretamente as empresas exportadoras que fazem operações financeiras no mercado de derivativos, para se proteger da variação cambial, segundo o professor de finanças do Ibmec Eduardo Coutinho. “Mesmo aquelas que não têm intenção de especular, as que estão fazendo apenas o hedge (seguro) da posição cambial, serão tributadas”, explica, ressaltando que o mercado é muito dinâmico e as empresas têm simultaneamente posições vendidas e compradas em aberto.

Nas casas de câmbio, a leve alta dessa quarta-feira, depois das sucessivas quedas dos últimos dias, não chegou a impactar o movimento, já aquecido pelas férias de julho. “Aumenta muito pouco, ainda não faz diferença”, opina o engenheiro civil José Zica Pimentel sobre o impacto das medidas no preço do dólar. Na tarde dessa quarta-feira , ele e a esposa, Tânia Maria Pimentel, enviaram dinheiro para o filho Pedro, de 15 anos, que está em Orlando, na Disney. “Para fugir das variações, é comum optarem pelo cartão de débito internacional, depositando o dinheiro em real aqui de uma vez, em vez de pagar as altas taxas do cartão de cédito e ficar refém da flutuação do câmbio”, diz Marivaldo Chaves, diretor financeiro da corretora de valores Picchioni.


ECONOMÊS/PORTUGUÊS

Mercado de derivativos

Um derivativo é um contrato financeiro cujo valor deriva de outro ativo. Em outras palavras, o valor deste contrato é derivado do preço de um outro bem ou direito, como uma ação, um título, uma commodity, uma moeda ou uma taxa de juro. Firmado entre duas partes, esse contrato define pagamentos futuros baseados no comportamento dos preços de um desses ativos. Esse contrato pode se inserir nos mercados a termo (de ações com prazo fixo), de futuros (com concretização em data futura), de opções (negócios com direitos de compra ou venda de ativos) ou de swap (troca de ativos). Em qualquer um deles, o investidor poderá negociar tanto commodities quanto ativos financeiros, como taxas de juro, índices de mercado etc. É comum investidores buscarem operações com derivativos para especular ou para se proteger de perdas. Esta segunda atitude caracteriza o investidor como um hedger.

FIQUE POR DENTRO

» Como funciona o mercado de derivativos?
Um derivativo é um contrato financeiro com base no preço de um ativo que pode ser negociado em mercados de balcão (diretamente entre as partes) ou em mercados de Bolsa (BM&F). No mercado de balcão, os participantes negociam diretamente entre si e com máxima flexibilidade. Na bolsa, existem regras e normas definidas, e os contratos são padronizados.

» Que tipos de derivativos existem?
Contratos a termo: contratos que asseguram antecipadamente um preço de compra ou venda de determinado ativo numa data futura. São negociados no mercado de balcão.

Contratos futuros: asseguram antecipadamente um preço de compra ou venda de determinado ativo numa data futura. São negociados no mercado de bolsa.

Swaps: acordos de troca de indexadores entre as partes.

Opções: direito, mas não a obrigação, de adquirir ou vender ativos por um preço determinado, em uma quantidade e um período preestabelecidos.

» Quais são os objetivos das operações com derivativos?
Hedge ou Arbitragem: consiste em assumir posições em determinado ativo hoje e no futuro para obter ganhos sem risco decorrente de uma distorção dos preços em um dos lados. Exemplo: um determinado ativo está com preço à vista baixo e mais alto no futuro; o investidor pode comprá-lo hoje mais barato e vendê-lo no futuro mais caro, assegurando o lucro.

Especulação: o investidor assume o risco da operação. Ele pode auferir lucro se o mercado se mover para o lado previsto. Exemplo: apostar na alta da bolsa de valores.

» O que é alavancagem, muito usada em derivativos?
Uma das questões fundamentais na utilização dos derivativos envolve o uso da alavancagem e os impactos sobre o valor econômico de liquidação dos contratos. Alavancagem é assumir uma exposição (risco) em valor superior ao patrimônio disponível para investimento.

Exemplo: Um investidor tem R$ 5 mil para aplicar e está com expectativa positiva sobre a bolsa de valores. Com o objetivo de aumentar os seus ganhos, ele resolver investir R$ 10 mil na bolsa. Como dispõe de somente R$ 5 mil de patrimônio, ele resolve contrair um empréstimo de R$ 5 mil para alavancar a sua posição.

Possíveis resultados: Se a bolsa realmente tiver valorização, o investidor terá ganhos sobre os R$ 10 mil investidos e liquidará o empréstimo com os resultados obtidos e ainda terá lucro. Caso a bolsa apresente desvalorização, o investidor terá perdas também sobre os R$ 10 mil. Além disso, terá que arrumar recursos para liquidar o empréstimo feito.


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