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Estado de Minas

Casarões antigos de BH estão na mira das construtoras

Com escassez de terrenos, construtoras investem alto para comprar casas e prédios antigos de bairros da Zona Sul e erguer grandes edifícios residenciais


postado em 16/07/2011 06:00 / atualizado em 16/07/2011 07:26

 

Procura-se terreno de pelo menos 1,2 mil metros quadrados na Zona Sul de Belo Horizonte. Paga-se bem, em torno de R$ 6 mil a R$ 8 mil por metro quadrado. As imobiliárias e construtoras estão dispostas a desembolsar entre R$ 7 milhões e R$ 9 milhões por um terreno para construir prédios de luxo na região, com boas garagens e área de lazer. Só há um problema: esse terreno não existe na Zona Sul. O que há são casas, casarões e pequenos edifícios antigos que poderiam ser derrubados para dar espaço aos arranha-céus de luxo. Por isso, os proprietários desses imóveis estão sendo assediados como nunca por investidores e construtoras. Mas o velho ditado de que o dinheiro compra tudo não vale para esses moradores, geralmente pessoas idosas, que não abrem mão de morar no mesmo bem há décadas.

Construções são demolidas na Rua Santa Rita Durão, na Região da Savassi, para dar lugar a prédio residencial (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press-20/6/11)
Construções são demolidas na Rua Santa Rita Durão, na Região da Savassi, para dar lugar a prédio residencial (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press-20/6/11)
O aquecimento do mercado imobiliário fez o preço dos terrenos dar salto nos últimos dois anos na capital. Em bairros como Lourdes, Funcionários, Sion e Anchieta, o valor do metro quadrado custa hoje até duas vezes mais do que há dois anos. E, mesmo com preço tão alto, muitos negócios estão emperrados. “O mercado praticamente travou. De um lado temos o dono do terreno, que está pedindo valor muito alto. Do outro temos a construtora, que muitas vezes não pode fechar a compra porque inviabiliza as vendas das unidades depois”, afirma Ariano Cavalcanti de Paula, presidente da Câmara do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI-MG).

A especulação de preços tem prejudicado os lançamentos, avalia Teodomiro Diniz, diretor da Diniz Camargos e vice-presidente da Câmara da Construção da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). “A única forma de construir algum edifício na Zona Sul seria com a demolição de outro. Não existe terreno virgem mais em Belo Horizonte. Mas a especulação está solta. As ofertas, quando acontecem, inviabilizam os negócios pelos preços elevados”, diz. Ele conta que os terrenos oferecidos a preços entre R$ 2 mil e R$ 2,5 mil há dois anos hoje custam em torno de R$ 6 mil.

Alguns negócios são fechados com permutas por unidades ou lojas nos novos arranha-céus, alternativa que nem sempre agrada aos donos dos imóveis. “Eu sempre preferi alugar a minha casa, pois as construtoras me ofereciam lojas ou salas para entregar em dois, três ou quatro anos. Não me interessa”, afirma a aposentada Maria Augusta Mendes Pirfo, proprietária de uma das maiores casas que restaram na Região da Savassi, na Rua Sergipe. O imóvel, de 700 metros quadrados, tem uma ampla área ao redor da casa, com 17 vagas de garagem.

Maria Augusta morou no imóvel durante 10 anos e há 20 colocou para alugar. Ela conta que já foi assediada por todas as grandes construtoras para vender a unidade, como PHV, Patrimar e Somatos. “Acho que essa história de Copa do Mundo influenciou muito o mercado. As firmas de construção passaram a se interessar mais pelos imóveis”, analisa. A casa estava em oferta para locação por R$ 25 mil desde janeiro. Mas Maria Augusta e seus filhos acabaram cedendo e fecharam a venda do imóvel. O valor do negócio e o nome do comprador ela prefere manter em sigilo. Mas reconhece que o preço pago foi bom. “A Região da Savassi está muito valorizada. Há três anos a casa custaria a metade do preço.”

O arquiteto Marcos Moysés é dono de um casarão construído em 1896 na Savassi, antes da inauguração da capital. A unidade é tomada pelo patrimônio histórico e no ano passado Moysés pediu socorro com faixas na parte de frente da casa, com dizeres “Esta casa pede socorro”. Na época, ele reclamou que as estruturas estavam abaladas pelo bate-estaca das obras de luxuoso prédio residencial, de 23 andares, que estava sendo erguido no terreno dos fundos, na Rua Pernambuco.

Donos resistem a vender a moradia

O assédio de construtoras acontece não só com casas. Os edifícios menores, em pontos mais nobres da Zona Sul, também viraram alvo do mercado imobiliário. O aposentado Clésio Pontes mora há 30 anos em um apartamento de quatro quartos na Avenida Getúlio Vargas, no coração da Savassi, em prédio de seis apartamentos. Ele conta que de dois em dois meses o edifício tem recebido propostas de compra de imobiliárias. A oferta, em geral, é feita também ao prédio vizinho, que tem o mesmo número de unidades. “Cresceu muito a oferta de gente querendo comprar os apartamentos. Mas pagam pouco, não vale a pena”, diz. Os apartamentos, segundo ele, têm cerca de 160 metros quadrados. “A oferta geralmente é de R$ 600 mil pelo imóvel. É muito pouco”, pondera Pontes.

A artista plástica Emira Cadar mora em uma casa em terreno de 1,35 mil metros quadrados no Bairro Funcionários. A casa, que tem seis salas e cinco quartos, foi construída pelos pais, Antônio Cadar e Rosinha Cadar. “Fomos e somos muito assediados para vender o imóvel, mas não temos interesse. Somos sete irmãos, todos nascidos e criados aqui”, diz.

A MIP Edificações é focada em empreendimentos de luxo dentro da região da Contorno. A empresa acaba de demolir quatro casas na Rua Santa Rita Durão, no Funcionários, em área próxima à Avenida Afonso Pena. No lugar, vai entrar um edifício residencial com apartamentos de três quartos e duas vagas de garagem. Para sair do imóvel, as famílias ganharam em troca apartamentos no novo edifício. Cada uma vai receber de duas a seis unidades, de acordo com a área do terreno da casa. “A única opção viável nas negociações dos terrenos é a permuta”, avalia Marco Antônio Andrade Carneiro, diretor-presidente da MIP Edificações.

Palavra de especialista
Valor dificulta negociação

Bráulio Franco Garcia
diretor da área imobiliária do Sinduscon-MG

“Depois da Lei 9.959, de Uso e Ocupação do Solo, o potencial construtivo dos terrenos foi reduzido entre 20% e 30%. Antes da lei, as construtoras tinham área maior para construir e podiam até pagar valor acima do preço de mercado pelo terreno. E os donos dos lotes compravam um imóvel melhor. Hoje, se o dono do terreno reduzir o preço cobrado, não consegue comprar outro na mesma região ou similar. A equação ficou mais difícil de fechar. Nem as construtoras estão conseguindo comprar os terrenos e nem os proprietários vender. Com isso, muitos negócios estão parados, só acontecem os já fechados na lei antiga. A exceção fica por conta dos hotéis, cujo o potencial construtivo aumentou em cinco vezes. Mas há um prazo para conclusão, até dezembro de 2013”

Análise da notícia
Imponência com discrição

O cadeado nos portões dos casarões e a campainha em local escondido mostram que os imóveis estão fechados para intrusos, desconhecidos e, principalmente oferta de compras, não importa o valor. Esses imóveis têm algumas características comuns: varanda, jardins, arquitetura antiga e moradores mais idosos. Na maioria das vezes essas pessoas criaram os filhos ou cresceram na casa, conhecem toda a vizinhança e querem viver o resto da vida com tranquilidade e comodidade no mesmo bem, sem ser importunados por corretores e investidores. O contato foi difícil até mesmo com a reportagem, pois só o assunto da venda é motivo de desgosto para os proprietários desses imóveis. Alguns aceitaram falar sobre o assédio aos casarões, mas pediram o sigilo do nome e da divulgação da foto da casa.


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