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Estado de Minas

Concorrência e queda do dólar faz carro 0km ficar até 13,8% mais barato


postado em 01/07/2011 08:33 / atualizado em 01/07/2011 09:25

O dólar em baixa e a concorrência de carros — baratos e completos — das chinesas Jac Motors e Chery e da coreana Hyundai fizeram com que os preços de veículos novos fabricados no Brasil despencassem. Alguns modelos tiveram até 13,79% de queda. É o caso do Siena, da Fiat, que, no início do ano, valia R$ 33 mil e, agora, é vendido por R$ 29 mil. A baixa foi motivada pelo próprio consumidor, que passou a comparar os valores e a exigir descontos. O Honda Fit fabricado aqui é vendido por, no mínimo, R$ 59 mil. No México, o mesmo veículo pode ser encontrado por menos da metade, R$ 25 mil. Para segurar o cliente, as montadoras tiveram de recuar.

A queda já se refletiu na inflação do país. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo — 15 (IPCA-15), prévia do indicador oficial, mostrou que, no acumulado do ano, os veículos novos ficaram 2,29% mais baratos. Em 12 meses, o recuo chegou a 5,03%. Apenas em junho, os preços dos carros novos caíram 1,71%. Em consequência, automóveis nacionais e importados ficaram mais acessíveis ao consumidor. O motorista Rafael Alves dos Reis, 25 anos, sentiu no bolso o efeito positivo da mudança. Ele conseguiu comprar um Siena novo por quase R$ 4 mil a menos. “Vinha pesquisando e notei que estava mais barato. Aproveitei o momento”, comemorou.

O diretor comercial da Estação Fiat, Fernando Moreira, confirmou a redução dos preços em sua loja. “A concorrência realmente gerou uma baixa nos valores cobrados pelos carros da nossa marca. Isso não ocorre só em veículos de modelo antigo. Os lançamentos também vieram mais baratos”, disse. Ele frisou que outros fatores estão relacionados com a queda. “Houve uma restrição de crédito e algumas mudanças nos critérios de financiamento. Os autônomos não têm como comprovar renda e agora não conseguem parcelar. Isso nos fez perder alguns clientes. Além disso, o fim da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis flexpower ajudou”, completou.

Outro modelo que sofreu redução expressiva foi o Voyage, da Volkswagen. O preço do carro teve queda de 11,17%. Com direção hidráulica e vidros elétricos, passou de R$ 38.010 para R$ 34.690 nas últimas semanas. “Nesse caso, fizemos uma promoção para aumentar a rotatividade e queimar o estoque”, esclareceu Hélio Aveiro, diretor da Brasal, revendedora da Volks em Brasília, e do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos do Distrito Federal (Sincodiv). Com tantas opções nos pátios das concessionárias, o consumidor não pode se intimidar. Deve negociar, ao máximo, preços melhores.

Credibilidade

Embora a maior competição entre as montadoras tenha gerado ganhos para o consumidor, as marcas importadas ainda não conquistaram a confiança do brasileiro. Os chineses, recém-chegados ao Brasil, geram desconfianças no motorista Rafael Reis. “É preciso esperar para ver o desempenho deles, que ainda não têm credibilidade”, completou. O dentista Clayton Cantaren, 26 anos, não abre mão dos modelos nacionais. “Tive um importado e fiquei insatisfeito. A manutenção é mais cara”, argumentou. Ele destacou que a baixa dos preços não é a única vantagem do aumento de concorrência. “O consumidor também tem mais opções”, observou.

Para o diretor da Nara Mistubishi Roberto Carvalho, os importados têm qualidade: “O comprador descobre que o carro que vem de fora é melhor e acessível”. Sua dica para as montadoras brasileiras é não remar contra a maré. “O consumidor regula o mercado”, ensinou.

Financiamentos de R$ 8,7 bilhões

A despeito das tentativas do Banco Central de frear a venda de carros no país, o brasileiro tem comprado como nunca. Apenas em maio foram R$ 8,7 bilhões destinados ao financiamentos de automóveis. Comparado a igual mês do ano passado, houve um incremento de 10,9% nessa modalidade de crédito; frente a abril, 14,7%. Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), em maio, chegaram às ruas 318,5 mil veículos novos, volume 26,9% superior ao mesmo mês de 2010. A fatia de importados também aumentou, passou de 22,2%, em abril, para 23,5% no mês seguinte, num claro reflexo do dólar mais baixo reduzindo preços no país.

Na visão de Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), além do dólar, a chegada de uma marca chinesa no mercado brasileiro, a Jac Motors, balançou a concorrência, que se viu obrigada a baixar preços para não perder a clientela. “A concorrência aumentou, então, nos últimos meses observamos uma série de promoções e liquidações para atrair o consumidor. Com isso, o volume de financiamento de veículos cresceu bastante”, avaliou.

As regras do BC que tornaram menos acessíveis os parcelamentos de veículos, na visão de alguns especialistas, estão sucumbindo à guerra entre as montadoras por vendas. As empresas reduzem a margem até o limite para garantir que os consumidores não parem de comprar carros novos. No acumulado do ano, as vendas de automóveis alcançaram 1,41 milhão de unidades, 3,7% mais que em igual período de 2010.

Dólar cai ao nível de 1999

O dólar derreteu nessa quinta-feira, pelo quarto dia seguido, e fechou o primeiro semestre do ano a R$ 1,562, com queda de 0,64%, no menor patamar desde 19 de janeiro de 1999, quando foi negociado a R$ 1,559. Apenas seis dias antes, em 13 de janeiro daquele ano, o governo havia mudado o sistema cambial brasileiro, de fixo para taxas flutuantes. Segundo os analistas, a aprovação do arrocho fiscal na Grécia e a decisão dos países europeus em estender as mãos aos gregos reduziram o nível de ansiedade dos investidores, que se sentiram mais à vontade para assumir riscos. Com isso, tanto o real quanto o euro apontaram valorização. No acumulado do ano, o dólar aponta baixa de 6,2%, apesar das constantes intervenções do Banco Central no mercado comprando os excessos de divisas (ontem, foram duas).

Para os turistas que pretendem ir ao exterior, o dólar mais barato representa um incentivo a mais — neste ano, por sinal, os brasileiros deverão fazer um estrago nas contas externas, ao deixarem um rombo de US$ 15 bilhões com os gastos em viagem. Do ponto de vista da indústria, no entanto, o real supervalorizado representa uma ameaça e tanto, pois incentiva a importação de todos os tipos de bens de consumo. Não à toa, o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, expressou toda a preocupação do governo com o tema durante almoço com empresários portugueses em São Paulo.

Ele jogou, porém, parte da culpa pela forte alta do real frente ao dólar para o BC, que vem aumentando a taxa básica de juros (Selic) desde janeiro último para conter a escalada da inflação. “No longo prazo, só tem uma forma de barrar a entrada de recursos no país: reduzir a taxa de juros”, afirmou. Pelos seus cálculos, mais de US$ 40 bilhões ingressaram no país nos primeiros seis meses do ano, o que tem empurrado a moeda norte-americana ladeira abaixo. “Temos de recuperar nossa competitividade sem contar com a ferramenta do câmbio. O jeito é aproveitar os nossos recursos naturais e a inovação.”

Derretimento

Os analistas estão convencidos de que, tão cedo, não haverá reversão no derretimento do dólar. A mudança só acontecerá quando os Estados Unidos aumentarem as taxas de juros, o que deve ocorrer apenas em meados do ano que vem. “Enquanto os juros continuarem muito baixos nos países ricos, os investidores vão aceitar um pouco mais de risco. E isso tem impacto sobre a cotação do dólar e sobre as bolsas de valores”, avaliou Márcio Cardoso, diretor da Título Corretora de Valores.


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