(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Antigas cadernetas ainda resistem em pequenos estabelecimentos de BH


postado em 21/03/2011 06:34 / atualizado em 21/03/2011 06:57

A caderneta representa 20% das vendas. É o dobro das compras feitas com cartões de crédito e débito. Só perde mesmo para os produtos quitados à vista, Nivaldo Bicalho, dono de mercearia no Bairro Santa Tereza(foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
A caderneta representa 20% das vendas. É o dobro das compras feitas com cartões de crédito e débito. Só perde mesmo para os produtos quitados à vista, Nivaldo Bicalho, dono de mercearia no Bairro Santa Tereza (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)

O impacto das compras feitas por meio da boa e velha caderneta de papel é tão pequeno no comércio de Belo Horizonte que sequer aparece nas pesquisas das entidades representativas do setor, mas tanto os desgastados bloquinhos quanto os amassados caderninhos usados para anotar as vendas a prazo ainda garantem lucros formidáveis a pequenos empresários. Se, no passado, a antiga forma de pagamento sobreviveu à febre dos cheques pré-datados, atualmente, ela resiste com bravura ao avanço dos cartões de crédito. Mais do que isso: há estabelecimentos em que o faturamento atraído pela caderneta só perde para o das compras à vista.

É o que ocorre na tradicional Mercearia Bicalho, em frente à arborizada Praça Duque de Caxias, um dos pontos mais nobres do tradicional Bairro Santa Tereza, na Região Leste. “A caderneta representa 20% das vendas. É o dobro das compras feitas com cartões de crédito e débito (10%). Só perde mesmo para os produtos quitados à vista (70%)”, explica o proprietário, Nivaldo Benedito Bicalho, que há 25 anos atua no ramo. Nestas duas décadas e meia ele conquistou o carinho de muitos clientes. Atualmente, 80 deles têm o nome no caderninho.

A liderança da caderneta sobre os cartões de crédito e débito na mercearia de “seu” Nivaldo ganha maior peso em razão de a moeda de plástico, hoje, responder por 70% das compras a prazo, como indica a última pesquisa da Federação do Comércio de Minas Gerais (Fecomércio), divulgada semana passada. O cheque pré-datado ficou com 18%, seguido de longe pelas modalidades boleto/financeira (7%) e cartão de crédito próprio (5%). Os antigos bloquinhos garantem uma vantagem a Nivaldo: o comerciante não perde o percentual de 2,5% cobrado pelas operadoras da moeda de plástico.

“Além de ficar livre da taxa, vendo mais, pois o titular da caderneta, geralmente, libera os filhos e a empregada para comprar no caderninho. Com o cartão de crédito é diferente, pois o titular não costuma emprestá-lo a ninguém”, acrescenta o comerciante.

Especialista no assunto, Marco Aurélio Lins, consultor e professor da Faculdade de Tecnologia do Comércio (Fatec), braço educacional da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-BH), avalia que a antiga forma de compra é uma excelente estratégia para alguns empresários. “Trato do assunto na disciplina que leciono, marketing de relacionamento. Os empreendimentos de menor porte precisam de estratégias de relacionamento em razão da concorrência com os grandes. E uma delas é a fidelização do consumidor por meio do crédito sem burocracia”.

A tal fidelização rende bons lucros à padaria Ki-Pão Joia, no Bairro Alto dos Pinheiros, Região Noroeste. “Ter a caderneta significa que o cliente é um amigo especial”, diz Marciléia Lotte, sócia do estabelecimento, onde a antiga forma de pagamento responde por 10% das vendas. O percentual é inferior ao abocanhado pelo cartão de crédito (40%), mas, no fim do mês, injeta uma boa cifra ao caixa do empreendimento. “Temos 40 clientes com cadernetas. Há quem deixe R$ 1 mil aqui, mas a média é de R$ 450. Compramos a padaria em 1998 e nunca tivemos problemas com eles”.

Longe dali, na movimentada Avenida Francisco Sá, no Bairro Prado, Região Oeste, a Mercearia Miscelânia também ajuda a manter a tradição. “Os consumidores da caderneta pagam, em média, R$ 250”, conta o funcionário Josimar Santos de Oliveira. Um dos clientes do local é o promotor de eventos Sérgio Teodoro, de 42, que não dispensa uma cervejinha nas horas de folga. “Frequento a mercearia há 20 anos e tenho a caderneta há uma década e meia. A vantagem é poder ter o produto na mão e pagá-lo depois”, justifica.

Risco de calote

A caderneta também tem o outro lado da moeda. Por mais que a estratégia aproxime o comerciante do consumidor, há o risco do calote. “Há cinco anos, vendíamos muito pela caderneta. Hoje, temos apenas três clientes”, afirma Joel Batista, funcionário de uma mercearia no Alto dos Pinheiros. Ele conta que alguns consumidores se mudaram do bairro e deixaram a conta em aberto. “É um acordo de cavalheiros”, alerta o consultor Marco Aurélio Lins.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)