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Estado de Minas

Expositores contam histórias de sucesso na Feira Shop


postado em 09/11/2008 13:13 / atualizado em 08/01/2010 04:04

Maurício é um dos expositores mais antigos: há 14 anos está na feira(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Maurício é um dos expositores mais antigos: há 14 anos está na feira (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Na Avenida Augusto de Lima, um dos corredores mais movimentados de Belo Horizonte, próximo ao Fórum e ao clube de lazer do Cruzeiro, no número 1.400, uma antiga fábrica de pneus se transformou num templo de consumo de moda popular: a Feira Shop. O empreendimento, idéia inspirada em modelo paulista, completa 15 anos e o que não falta são histórias de quem apostou na novidade. Figura marcante por lá, um dos mais antigos, alto, corpo longilíneo, agitado e comunicativo, é Maurício Eugênio Peito Alves.

Conhecido de todos, com 14 anos de feira, Maurício passou de vendedor de uma loja de artigos esportivos e sacoleiro para a condição de microempresário. Encarou muitos percalços neste caminho. A falência da loja da mulher, o casamento desfeito, dois filhos para criar, João Pedro e Tiago, e o desânimo pela falta de perspectiva. De repente, num dia qualquer, passando de ônibus pela Augusto de Lima, viu a feira e teve um clique: se tinha a experiência como sacoleiro e o dom para vender, por que não se arriscar e montar um estande? Arriscou. Ele é mais uns 20 expositores: “Foi duro. Num espaço enorme, para 100 estandes ficávamos perdidos por lá. Era deserto. Demorou a pegar”.

Com tino empreendedor, Maurício logo encontrou uma saída. Assumiu o papel do velho camelô ou vendedor das feiras livres e pôs a garganta para trabalhar. Aos gritos, ia para a rua chamar o freguês. E deu certo: “Apesar da peleja. Vendedor é a profissão de quem não estudou. Tem de saber conversar e como sempre fui comunicativo conquistei meu espaço”. O tempo passou, as pessoas compraram a idéia e sua grande sacada foi pegar roupa consignada nas lojas do Barro Preto, que só vendiam no atacado, e repassá-las no varejo dentro da feira: “Vendia modinha. Com força de vontade, aprendi a fabricar e assim vivi por três anos. Mas veio a separação e me vi sozinho e com dois filhos para criar. Sem poder abaixar a cabeça, fiz curso de modelagem e fui tocando as coisas”, assim tudo começou, formando clientela e investindo no futuro.

No entanto, prova maior estava por vir. Em 2000, a Feira Shop sofreu um incêndio e Maurício perdeu tudo. Ele se viu sem produto para vender e dívida com fornecedor. Para piorar, aviso de despejo da feira e, em casa, ficou sem a babá dos filhos de 6 e 3 anos. Teve de começar do zero. A saída que encontrou, até se levantar de novo, foi aceitar encomendas. Foi quando levou outra rasteira: “Uma mulher me encomendou calças de elanca para ginástica. Fiz e ela não quis ficar com a mercadoria, desistiu”. Quando tudo parecia dar errado, a tal encomenda foi a salvação de Maurício. Ele pôs as peças no estande pela manhã e, à tarde, não tinha mais nenhuma: “Logo depois do incêndio bateu o desespero, mas a feira nos ajudou. Não com indenização, mas deu desconto no aluguel (proporcional durante três anos), melhorou o visual e reerguemos. Acreditei no dono, voltamos motivados e com alta valorização. No final, a elanca encalhada acabou me apontando o caminho. Depois dela, descobri o cotton e o suplex e decidi investir no ramo da roupa de ginástica. A concorrência era menor, apesar de ser uma linha complicada, já que a facção não tem o mesmo zelo. Para fazer um produto de qualidade, investi sério. Comprei maquinário e formei uma fábrica com três funcionários (um cortador e duas costureiras) e venci”. Hoje, a Exitus’s Fitness produz nada menos do que 1.700 peças/mês.

Agora, com os filhos criados, ele tem a assessoria da mulher, Cristiane, na parte administrativa e se orgulha de a Feira Shop ter lhe proporcionado uma reviravolta na vida. O empreendimento o ajuda a criar com conforto e segurança para os quatro filhos (dois do primeiro casamento, mais Laura e Bernardo do segundo), que estudam em escola particular, a ter plano de saúde, ele comprou carro, reformou toda a casa, que herdou da família, tem crédito na praça e conta jurídica no banco. Ganhou qualidade de vida e um salto financeiro: “Com 10 anos de feira, que é meu alicerce, consegui ter a minha loja. Agora, estou capitalizando porque pretendo expandir. No futuro, quero que a Exitus’s Fitness esteja em áreas consumidoras da roupa de academia como nas avenidas Silva Lobo e Bandeirantes e no Bairro Caiçara. Preciso de capital de giro e estou lutando dia-a-dia para isso”.

Depois de tantos percalços, calotes, cheques sem fundo, a única reclamação de Maurício é quanto aos tributos: “Sou registrado, paga uma carga tributária absurda, tem DAS, que é de R$ 500, o supersimples, sem falar do INSS, FGTS e por aí vai. Esta é a maior dificuldade, é muito pesado para mim. A maioria não tem esse gasto porque se dizem artesãos, estão livres da legalização. Seria justo um preço equilibrado para todos”.

Telma e Jésus cresceram com a feira e inauguram este mês a quinta loja da marca Banana Chips, de moda feminina e masculina(foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press)
Telma e Jésus cresceram com a feira e inauguram este mês a quinta loja da marca Banana Chips, de moda feminina e masculina (foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press)
Mudança social


Outra história de superação envolve um casal que está junto há 15 anos. De representante comercial (vendedor de remédios) e artesã com barraca na Feira da Afonso Pena, Jésus Clelberth e Telma Otati Costa investiram tudo na Feira Shop, dedicação de 24 horas. A ponto de os filhos Thiago e Lucas disputarem atenção com o trabalho. Com um se apoiando no outro, eles bateram cabeça até acertarem, garantirem lucro e o sustento da família. As coisas não deram certo na primeira tentativa, em 1998. Com estande só de roupa infantil, não tinham capital para investir, a procura foi baixa e desistiram.

Na verdade, deram um tempo, foram se estruturar melhor e voltaram três anos depois. Este mês (novembro), o casal inaugura a quinta loja na Feira Shop. Agora, têm uma “rede” de moda feminina e infantil, a Banana Chips: “No começo, foi difícil. Não tínhamos como produzir direito, sem clientela e capital. Hoje, vendemos para o Brasil todo. Temos compradores até de Belém, no Pará”, conta Jésus. Nem nos melhores sonhos imaginava chegar tão longe, tão rápido. Ainda que com sacrifícios. Agora, tem clientes como de Lagoa da Prata que compra mil peças por semana. Sem falar que, para abastecer as suas lojas, a produção semanal da fábrica gira em torno de 2,5 mil peças.

O salto de qualidade na vida do casal é visível. Além das lojas, eles têm uma fábrica em Contagem com 20 funcionários, fora os da facção. A moda que vendem é a popular das revistas e novelas. Telma se emociona ao falar das conquistas desde então: “Adquirimos muitas coisas. Quitamos nosso apartamento, compramos três carros, temos crédito em bancos e nossos filhos têm todo conforto, segurança e desejos realizados. Não tudo que querem, mas têm acesso ao que não tivemos. Nós os criamos cientes da realidade e ensinamos a valorizar o que ganham. Nada veio fácil, e sim com sacrifícios. Graças a Deus, conquistamos uma vida farta, não nos falta nada”, agradece Telma.

Mas até conquistar essa tranqüilidade, Jésus e Telma penaram. Ela lembra que, logo ao ganhar Thiago, abriram a primeira loja sem qualquer experiência, passaram pela mudança de plano na época do governo Collor, muitas pessoas quebraram, e eles perderam os investimentos que tinham. Sem dinheiro, fecharam o negócio, ficaram sem crédito no mercado e enfrentaram uma barra pesada: “Só com fé em Deus, muita oração e trabalho conseguimos voltar. A Feira Shop nos levantou de novo. E tenho o maior orgulho em dizer que com nosso primeiro dinheiro pagamos nossa casa. O bem-estar da nossa família”, lembra Telma. Outro susto, já na Feira Shop, foi o cano que levaram de um contador: “Durante um ano, ele assegurava estar recolhendo o INSS e FGTS dos funcionários. Um dia, baixou a fiscalização e estava tudo irregular. Sofremos um prejuízo violento”, lembra Jésus.

Com os pés no chão, Jésus e Telma são comedidos nos gastos. Enfatizam que são responsáveis e têm 20 famílias nas costas, que dependem do sucesso deles. Sem falar que o comércio oscila muito e não podem dar o passo maior que a perna. Com as tarefas bem divididas, ele na administração e ela na produção, o casal tem o ensino médio e tino para o comércio. Jésus se tornou um gestor e Telma aprendeu até a costurar com a avó e a sogra. Agora, além de definir os modelos, modela e cria. E o trabalho é de segunda a segunda, com algumas horas de descanso. Daí a reclamação dos filhotes. No entanto, esse ritmo só diminuirá daqui a alguns anos se nenhum imprevisto causar turbulência. Estão vacinados contra crises.

No momento, com a inauguração da quinta loja, Jésus e Telma só têm a comemorar. Além de todas as conquistas já mencionadas, ela tem uma em especial: este ano, viajaram pela primeira vez de avião, curtiram as férias em Porto Seguro (BA).

Telma tem planos. Quer a sua “loja de rua”. Jésus, pelo contrário, vive um dia de cada vez. Apesar das diferenças, um completa o outro. Certeza, o casal tem de uma coisa: “Em 10 anos de Feira Shop mudamos nossa vida. Trabalhamos num ambiente organizado, limpo, seguro e que nos dá prazer. Atendemos o público de A a Z, de promotores de Justiça a donas-de-casa, temos clientela estável e fiel, além de sermos bem conhecidos e recebermos elogios pelo nosso produto”. Com tantos pontos a favor, eles só podem sonhar cada vez mais alto.


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