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Estado de Minas DEZ ANOS DE COTAS RACIAIS

Livro sobre impacto da Lei de Cotas no Brasil é lançado nesta quarta (18)

Escrito por jornalistas mineiros negros, 'Vidas Inteiras' traz investigação sobre a ação afirmativa que mudou o perfil das universidades brasileiras


18/10/2023 17:05 - atualizado 18/10/2023 18:06
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Da esquerda para a direita: Vinicius Luiz é um homem negro de cabelos pretos e crespos com bigode e barba que sorri para a foto e usa uma camisa branca estampada; Márcia Maria Cruz é uma mulher negra de cabelos cacheados castanhos na altura dos ombros que sorri para a foto; e Gabriel Araújo é um homem negro de cabelos crespos castanhos e bigode que sorri para a foto.
Os jornalistas (da esquerda para a direita) Vinicius Luiz, Márcia Maria Cruz e Gabriel Araújo lançam hoje (18/10) livro celebrando os 10 anos da Lei de Cotas (foto: Acervo Pessoal)

O livro ‘Vidas Inteiras - Histórias dos 10 anos da Lei de Cotas” será lançado nesta quarta-feira (18/10) na Livraria Jenipapo, em Belo Horizonte (MG). Para celebrar uma década de implementação da Lei de Cotas (Lei n° 12.711/12), a obra apresenta histórias de pessoas que foram beneficiadas pela legislação, ao mesmo tempo em que reconstrói a trajetória de lutas até a sua aprovação.

Os autores Márcia Maria Cruz, Gabriel Araújo e Vinicius Luiz integram o Coletivo Lena Santos de Jornalistas Negras e Negros e esperam que sua investigação traga contribuições para as discussões sobre políticas afirmativas para a população negra no Brasil.

“Quando a gente pensa na política de cotas, a gente pensa de uma maneira ampla. Durante esses dez anos, vemos muitos números, muitas análises de uma forma muito macro, então acho que o livro se diferencia por olhar para o micro dessas histórias; por entender [como as cotas impactaram] na vida de uma pessoa que mora numa comunidade quilombola no Pará. Qual foi a importância das cotas para ela? E para a família dela? Qual foi a transformação da entrada na universidade naquele espaço predominantemente negro?”, declara Gabriel.

Mudanças de cenário 

As cotas raciais mudaram o perfil das universidades brasileiras, e o livro aborda o fato de que, atualmente, mais da metade das matrículas no ensino superior da rede federal já são de pessoas pretas e pardas. De acordo com Márcia, “Vidas Inteiras” vai além de contar a história dos cotistas e recupera as lutas travadas no parlamento e nas universidades por políticas de reparação para a população negra, em que aparecem personagens como Abdias Nascimento, Benedita da Silva, Zélia Amador e Carlos Alberto Oliveira dos Santos, o Caó.

“A gente entendia que era importante mostrar histórias de vida, então esse livro tem esse caráter de entrevistar e buscar pessoas que tiveram alguma relação com as cotas, e percebemos que era importante, para além de falar dos cotistas, também falar de professores nas universidades públicas que lutaram para a implementação das cotas raciais e das ações afirmativas muito antes da legislação. Percebemos a importância de destacar o papel do movimento negro nessa luta, que não vem de hoje”, afirma Márcia.

O percurso que o livro constrói vai desde a abolição da escravatura até os desdobramentos da implementação da Lei de Cotas. O livro conta histórias que permeiam a primeira turma de cotas raciais na UnB, que foi em 2004 – quase uma década antes da implementação da lei –; os cursos de Medicina, historicamente ligados às elites; e a conquista de jovens negros em campos de produção simbólicos no Brasil.

“As cotas trazem uma dificuldade a menos dentro de todas as dificuldades que são colocadas na vida de uma pessoa negra, então o importante de trazermos essas histórias é mostrar que são potenciais e que estão indo para o lugar que deveriam ir, que estão sendo desenvolvidos e que são talentos que estão chegando nas universidades, e enriquecendo esses espaços”, conta Vinicius.

Expectativas para o projeto

Os três autores já tinham um desejo em comum quando começaram a desenvolver o livro: ampliar o debate sobre as cotas raciais no Brasil. E o momento é propício: no mesmo dia em que o livro é lançado, discute-se no Senado o processo de revisão da Lei de Cotas.

“Por incrível que pareça, apesar dos resultados positivos que as cotas têm dado, ainda existem segmentos e grupos que querem acabar com elas. Então, precisamos de uma mobilização permanente e constante para que essa política afirmativa continue e para que ela não possa regredir”, afirma Márcia.

“A nossa investigação mostrou que as cotas representam pequenas grandes revoluções no Brasil. Elas transformam a vida familiar dessas pessoas. Em muitos casos, os universitários cotistas são os primeiros da família a ingressar no ensino superior e fazer uma revolução na comunidade”, acrescenta ela.

“São diferentes histórias e, portanto, diferentes abordagens para registrar e contar essas histórias. Cada uma delas, querendo ou não, apresenta também uma questão diferente para se pensar a importância da política de cotas, uma decisão que, aos poucos, vem causando uma revolução gigantesca na nossa sociedade”, complementa Gabriel.

“Espero que esse livro traga não só um apontamento para a manutenção das cotas no país, mas também para a necessidade de que se avance ainda mais. Nós tivemos muitos séculos de escravidão e, depois disso, não tivemos nenhum grande projeto de reparação. Talvez as cotas sejam essa grande reparação sobre o que foi feito no país até hoje, mas ainda é pouco”, diz Vinicius.

“Quando se considera a presença de negros em espaços de decisão e em espaços de poder, [a proporção] ainda é pequena. Eu espero que esse livro, ao mostrar o que deu certo dentro das universidades, possa apontar, também, para aquilo que pode dar certo para além das universidades, colocando mais pessoas pretas em todos os espaços da sociedade que as pessoas quiserem”, completa ele.

Serviço

Lançamento do livro “Vidas Inteiras - Histórias dos 10 Anos da Lei de Cotas”
Quando: quarta-feira (18/10), às 19h
Onde: Livraria Jenipapo (Rua Fernandes Tourinho, 241 - Savassi)

* Estagiária sob supervisão da editora Ellen Cristie. 
 

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