(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas DIA DA MULHER

Você sabia? Trânsito de BH é comandado somente por mulheres; confira

Júlia Gallo, Deusuite Mattos e a tenente-coronel Cláudia integram uma pequena parcela de mulheres que fazem parte da gestão no setor de trânsito brasileiro


08/03/2023 15:37 - atualizado 08/03/2023 17:15

Colagem com as fotos de Júlia Gallo (mulher branca de cabelos escuros e curtos), Ten.Cel. Cláudia (mulher branca, usa um boné da PM e uniforme) e Deusuite Mattos (mulher parda de cabelos castanhos e longos)
Conheça as mulheres que fazem parte da gestão do trânsito de BH: (Da esquerda para a direita) Júlia Gallo, Ten.Cel. Cláudia e Deusuite Mattos (foto: BHTrans/BPTran/Divulgação)

“Mulher no volante, perigo constante” é uma das frases que, gradativamente, cai em desuso, mas ainda é muito reproduzida, principalmente por motoristas homens que questionam uma suposta falta de habilidade das mulheres no trânsito. Dados sobre acidentes de trânsito, no entanto, dizem o contrário: dos quase 16 mil casos de vítimas, sem mortes, em Belo Horizonte (MG) no ano de 2019, 11.571 foram homens.

Atualmente, dos 80,1 milhões de Carteiras Nacionais de Habilitação (CNH) válidas no país, apenas 28,43 milhões (35,5%) são de motoristas mulheres, de acordo com dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran). Em Minas Gerais, o Departamento Estadual de Trânsito (Detran-MG) informa que a porcentagem de mulheres habilitadas é 34,8% do total de pessoas habilitadas, número que sobe para 39,92% com recorte em Belo Horizonte.

Para Mércia Gomes, especialista em Direito de Trânsito, a discriminação machista é um dos principais motivos para que essa diferença entre gêneros exista, impactando no pouco incentivo que as mulheres recebem para dirigir e em como elas encaram a mobilidade urbana.

“O preconceito é um dos fatores que impedem a plena inclusão das mulheres nesse ambiente, limitando sua liberdade de mobilidade e até dificultando sua inserção no mercado de trabalho. O panorama também impacta a economia”, aponta Mércia.

De acordo com a advogada, por conta da pressão em cima das mulheres, quase inexistente sobre os homens, a prudência delas no trânsito acaba sendo maior. Uma pesquisa da um mapeamento da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) mostra que, dos 2 milhões de motoristas brasileiros que têm medo de dirigir, 80% são mulheres. Dados da Quality Planning, empresa de pesquisa para companhias de seguros, complementam a estatística: os homens têm 3,4 vezes mais chances de serem multados por imprudência, e 3,1 mais possibilidades de serem presos por dirigirem embriagados.

Os números refletem na quantidade de acidentes de trânsito – envolvendo motoristas e pedestres – que possuem vítimas masculinas: de acordo com a BHTrans (Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte), dos 105 acidentes com vítimas fatais em Belo Horizonte no ano de 2019, 87 eram homens; e em relação a vítimas não fatais, dos 15.765 casos registrados, 11.571 homens estiveram envolvidos.

Apesar de os dados mostrarem que o trânsito é praticamente dominado pela lógica masculina e pela influência que homens exercem sobre as percepções das mulheres em relação ao trânsito, ainda é possível encontrar personalidades femininas que fazem parte de uma pequena parcela de mulheres que comandam o setor de trânsito em Minas Gerais e trabalham para que a desigualdade e o preconceito sejam reduzidos aos poucos.

Nesta reportagem, o DiversEM conversou com Júlia Gallo, presidente da BHTrans; com Deusuite Mattos, diretora de operações da BHTrans; e com a Tenente-Coronel Cláudia Kuchenbecker, comandante do Batalhão de Trânsito (BPTran) de Minas Gerais para entender melhor como funciona o cotidiano e o trabalho das mulheres que fazem parte da gestão em um setor predominantemente masculino.

Visão cuidadosa sobre a gestão

Mulher branca de cabelos escuros e curtos
Júlia Gallo, presidente da BHTrans (foto: BHTrans/Divulgação)
 
“A gente pensa muito na forma como a mulher trabalha na gestão de empresas. É uma forma de trabalho diferente da masculina; temos mais cuidado, mais prudência, e traduzimos isso em um planejamento mais cuidadoso dentro das instituições”, explica Júlia Gallo, que é presidente da BHTrans há 11 meses.

Ela é psicóloga e chegou à BHTrans em 2021 como diretora de Recursos Humanos. Com um longo histórico no setor de trânsito, já trabalhou em empresas do setor privado e na Secretaria de Planejamento do Estado de Minas Gerais e dá ênfase a um aspecto que sempre notou na gestão comandada por mulheres: a prudência.

“As mulheres são consideradas ‘barbeiras’, mas não acho que seja esse o nome que deve ser dado a elas. Essa visão de que as mulheres dirigem pior [que os homens] pode ser equivocada, e não é por acaso que os seguros de carro são mais baratos para elas, uma vez que somos mais cuidadosas”, afirma a presidente da BHTrans.

De acordo com Júlia, a segurança trazida pela imagem da mulher é muito importante quando se trata de trânsito. “E eu falo tanto de uma segurança física quanto emocional, seja na gestão, seja no trânsito da cidade. E quando a gente fala de trânsito, é importante lembrar que não estamos falando apenas de quem está atrás do volante”, explica.

Simpatizante do prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), Gallo fala da importância de se estimular o protagonismo feminino na gestão de políticas públicas.

“O governo dele [Fuad] já traz muitos incentivos pelos discursos. É clara a preocupação dele em ter, na liderança, no comando das políticas públicas, mulheres. Esse diferencial, que é o cuidado de colocar a mulher em postos de comando, faz a diferença, então é um privilégio fazer parte deste governo”, diz ela.

A presidente da BHTrans também afirma que é uma agente de um fenômeno ainda maior, que é o crescimento das mulheres em setores predominantemente masculinos. “Acho que todas nós estamos trilhando um caminho para ficar mais fácil para as próximas que vêm no futuro”, declara.

Conquistas de uma minoria

Mulher parda de cabelos castanhos e longos
Deusuite Mattos, diretora de operações da BHTrans (foto: BHTrans/Divulgação)

“As mulheres sempre foram minoria na minha área, então a gente sempre teve que se esforçar mais, seja para se inserir no mercado de trabalho, seja na escola, ou em qualquer atividade que ela se proponha a fazer”, conta Deusuite Mattos, diretora de operações da BHTrans.

Nascida em Felisburgo, cidade pequena no Norte de Minas Gerais, Deusuite é formada em Engenharia Civil e possui especialização em Transporte. Na Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte, onde trabalha há quase 30 anos, lidera uma equipe de quase 500 pessoas e é responsável por toda a operação de trânsito na capital mineira.

Para além de uma conquista pessoal, ela conta que ter atingido seu cargo também é um ganho para todas as mulheres. “Quando comecei o meu curso, eu sabia que queria seguir na área de trânsito e transporte, e consegui fazer minha carreira dentro da BHTrans. Apesar de eu nunca ter sofrido nenhuma discriminação por conta de gênero dentro da empresa, talvez por conta da maturidade profissional dentro da empresa, eu vejo que as mulheres ainda enfrentam muitas dificuldades ao longo do caminho profissional”, explica Deusuite.

A diretora de operações da BHTrans também exemplifica alguns dos contrastes que encontra em seu dia a dia no trabalho. “Para se ter uma noção, na área de operações, temos em torno de 30% de agentes femininas. Às vezes, quando vamos desenvolver algum trabalho, sentamos numa mesa e só tem homens”, conta.

Fora da área administrativa, os números também são discrepantes. Deusuite ilustra a situação com números do serviço de mobilidade urbana. “Em Belo Horizonte, apenas 8,2% dos motoristas de táxi são mulheres, e esse número não diz respeito de uma questão de habilidade na condução do trânsito, mas sim sobre a própria vulnerabilidade da profissão. Uma mulher tem muito mais riscos quando é motorista, ela está muito mais suscetível à violência”, explica ela.

“No transporte escolar, são 32% de motoristas mulheres, mas a pessoa que recebe e embarca a criança, que está na cozinha e na casa cuidando dela, mais de 70% delas são mulheres. No transporte coletivo, apenas 9% dos motoristas são mulheres, porcentagem que cai nas linhas suplementares, que gira em torno de 5%”, complementa.

Liderança e força feminina

Mulher branca, usa um boné da PM e uniforme
Ten.Cel. Cláudia, Comandante do Batalhão de Trânsito da PMMG (foto: BPTran/Divulgação)

“Eu faço parte de uma quebra de paradigmas”, afirma a tenente-coronel Cláudia Kuchenbecker, primeira mulher a chegar ao cargo de Comandante do Batalhão de Trânsito (BPTran) da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG). Ela é, hoje, inspiração para outras mulheres que almejam crescer na carreira militar.

Para ela, que entrou para o Curso de Formação da PMMG assim que saiu do Ensino Médio aos 18 anos, sua posição como comandante é, além de uma representatividade simbólica para outras mulheres, um dos resultados do fortalecimento delas em cargos melhores e mais representativos.

“Liderar é comandar, e não tem como separarmos essas duas palavras e ações. Hoje, tenho uma grande responsabilidade para além do meu cargo, porque é com a minha posição que posso representar outras mulheres, e comandar algo tão tradicional mostra a importância da mulher nesse mercado e em grandes cargos.”, afirma ela.

Antes de chegar ao cargo de Comandante do BPTran, Kuchenbecker já havia conquistado posições de destaque em unidades operacionais da PMMG, onde ficou por seis anos: executou o Comando de Policiamento Rodoviário; de Agrupamento Rodoviário; do Grupo Especial de Policiamento em Áreas de Risco; e do Tático Móvel.

Na área administrativa, fez parte da Diretoria de Apoio Logístico e do setor de orçamentos e finanças da frota de viaturas da Polícia Militar de Minas Gerais. Foi subindo de cargo até chegar ao comando do Batalhão e, apesar de a PM ser considerada uma instituição comandada predominantemente por homens, a Ten.Cel. Cláudia afirma que, nos Cursos de Formação da PM, são as mulheres que mais se destacam.

“Nunca sofri com nenhum tipo de discriminação no trabalho por ser mulher. Nos Cursos de Formação, a gente vê que as mulheres, muitas vezes, ocupam os primeiros lugares. Elas são muito competentes. Dentro da minha instituição, nunca passei por qualquer situação em que minha competência e minha capacidade tenham sido colocadas em xeque; não tenho problemas com o relacionamento com a tropa”, explica.

Para Kuchenbecker, entender e valorizar a participação feminina em espaços majoritariamente masculinos é importante, e afirma que sua trajetória também é inspiração. “Eu sirvo como forma de incentivar outras mulheres que têm sonhos, mas não acreditam no próprio potencial. Vocês podem ocupar o espaço que quiserem”, diz ela.
 

Ouça e acompanhe as edições do podcast DiversEM




podcast DiversEM é uma produção quinzenal dedicada ao debate plural, aberto, com diferentes vozes e que convida o ouvinte para pensar além do convencional. Cada episódio é uma oportunidade para conhecer novos temas ou se aprofundar em assuntos relevantes, sempre com o olhar único e apurado de nossos convidados.

 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)