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Estado de Minas CENSO 2022

Metade da população Yanomami corre risco de não ser recenseada

Apib afirma que governo vetou voo de helicóptero para áreas de difícil acesso para os recenseadores do IBGE, o que impede a contagem nesses locais


15/12/2022 10:00 - atualizado 15/12/2022 10:38

Indígenas Yanomami com pinturas corporais típicas
Apib afirma que sem o recenseamento não será possível dimensionar as mortes causadas pelo garimpo ilegal nas terras Yanomami (foto: Reprodução/Instagram)


Mais de 50% da população Yanomami pode não ser recenseada e incluída no Censo 2022. O Governo Federal não disponibilizou horas de voo de helicóptero para os recenseadores acessarem regiões de difícil acesso nas terras indígenas do Amazonas. A denúncia foi feita pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). 

“O assassinato de parentes Yanomami tem sido constante devido à intensa presença de garimpeiros, cerca de 50 mil. O governo genocida não quer que o número de mortes seja contabilizado, em mais uma de suas ações contra a vida, desrespeitando nossos territórios, nossos povos, nossos corpos”, afirmou a Apib em postagem no Instagram.

O principal motivo apontado pela Apib para o impedimento do recenseamento do povo Yanomami é para que não sejam levantados os dados das mortes de indígenas ligadas ao garimpo ilegal, e que essas informações não se tornem públicas.

“A história se repete. Em 1991 o censo não entrou na Terra Indígena Yanomami, com isso não foi possível saber quantos parentes foram assassinados no massacre de Haximu, que ocorreu em 1990”, escreveu a Apib.

Acesso a terras Yanomami

As terras Yanomami estão localizadas em Roraima e no Amazonas. Nas áreas onde há acesso por avião, como na região conhecida como Demini, o censo conseguiu fazer seu trabalho sem intercorrências. Porém, em áreas montanhosas como Tootobi e Balawau, no Amazonas, não existe pista de pouso e o acesso só se dá por helicóptero ou a pé.

Segundo a Apib, uma ida de helicóptero havia sido programada para esses territórios para levar os recenseadores, assim como é feita a entrega de vacinas. Entretanto, a viagem foi cancelada de última hora.
 
Ainda de acordo com a Apib, o Ministério da Saúde chegou a oferecer algumas horas de voo, mas a oferta foi retirada e a tentativa de contratação de um helicóptero pelo IBGE, mas a mesma foi barrada por um parecer contrário da Advocacia Geral da União.

Para viabilizar a chegada às comunidades a pé é necessário que os recenseadores sejam preparados, que eles estejam acompanhados pelos indígenas, ter logística e levar alimentação.

O que diz o IBGE

Em nota enviada ao Estado de Minas, o IBGE afirmou que já foram recenseadas 60,44% das terras indígenas. O instituto afirmou ainda que a contratação direta do helicóptero está fora das hipóteses legais e constitui crime segundo o Código Penal e, por isso, a AGU emitiu parecer negando a contratação e afirmando que a situação não tem caráter de urgência. 

“O Conselho Diretor, junto às áreas responsáveis pela demanda em questão, está buscando alternativas legais para recensear a população indígena. O IBGE segue comprometido a concluir e honrar a missão do Censo. Deixar de recensear parte dos povos indígenas nunca foi considerado pelo IBGE”, afirma o instituto em nota.

Além disso, o IBGE declarou que dentre as 632 Terras Indígenas (TIs) existente no Brasil, a coleta do Censo Demográfico 2022 já chegou a 605 dessas áreas (95,73%) e que em 60,44% das mesmas, a coleta do Censo já foi totalmente finalizada.
 

Leia a nota do IBGE na íntegra 

 Sob consulta do IBGE, a AGU analisou os autos da proposta de contratação direta em regime de urgência. A contratação direta fora das hipóteses legais constitui crime tipificado no art. 337-E do Código Penal. Por isso a AGU emitiu parecer no sentido de que a situação não se enquadra em hipótese de urgência. 

Entendendo se tratar de questões jurídicas relacionadas e avaliadas em conformidade com as responsabilidades inerentes à administração pública e exigidas dos agentes públicos, o Conselho Diretor do IBGE acolheu o parecer da AGU.

E, desde então, o CD, junto às áreas responsáveis pela demanda em questão, está buscando alternativas legais para recensear a população indígena. O IBGE segue comprometido a concluir e honrar a missão do Censo. Deixar de recensear parte dos povos indígenas nunca foi considerado pelo IBGE.

Com esse intuito, espírito e determinação, do universo de 632 Terras Indígenas (TIs) no Brasil, a coleta do Censo Demográfico 2022 já chegou a 605 dessas áreas (95,73%). Em 382 TIs (60,44%), a coleta do Censo foi totalmente finalizada. Em 223 TIs (35,28%), a coleta está em andamento, com dados parcialmente apurados. As TIs não iniciadas são 27 (4,27%). O número de domicílios coletados é de 138.832 (72,1% em relação ao total estimado). A operação tem média de 1.108 domicílios coletados por dia em TIs. Esses dados são referentes aos trabalhos realizados até o último dia 01 de dezembro.

*Estagiária sob a supervisão de Márcia Maria Cruz 

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