(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas AGORA É NACIONAL

Prêmio Gastronomia Preta abre inscrições e criador exalta 'pretagonismo'

Segunda edição do evento tem como tema 'Mulheres Pretas' e busca valorizar culinária de pessoas pretas, pardas e indígenas


05/04/2023 16:08 - atualizado 11/04/2023 13:38

Breno é um homem preto e magro de olhos e cabelos escuros. Ele usa uma camiseta cinza e, por cima, um avental com o logo do prêmio
Breno Cruz é professor doutor e idealizador do Prêmio Gastronomia Preta (foto: Arquivo Pessoal/Reprodução)

A segunda edição do Prêmio Gastronomia Preta abriu o processo seletivo para pessoas pretas, pardas e indígenas. O evento, que busca valorizar a culinária brasileira com foco em diversidade e inclusão, terá 25 categorias que, além de chef, cozinheiro e garçom, também incluem merendeira, pesquisador e fotógrafo. É possível indicar personalidades até o dia 30 de abril e o evento ocorrerá no dia 27 de novembro.

No ano passado, o Prêmio foi um sucesso com 21 pessoas contempladas. As novidades deste ano são que, ao contrário da edição anterior, que foi limitada ao Rio de Janeiro (RJ), pessoas do Brasil inteiro poderão participar, e quatro novas categorias foram incluídas à premiação: barista, boulanger (panificação), coletivo de pretagonismo e empreendedor(a) social.

O tema escolhido para 2023 é “Mulheres Pretas”. Para Breno Cruz, idealizador do Prêmio Gastronomia Preta, “é importante considerar que, na Gastronomia, ainda existe o machismo e o assédio, então é uma estratégia colocar as mulheres em destaque. É sobre nossa ancestralidade e sobre o entendimento de que aquelas que vieram antes [de nós] lutaram para sobreviver e construir o espaço do povo preto na Gastronomia”. De acordo com ele, cerca de 80% de seu júri da edição passada foi composto por mulheres.

O Prêmio


Original de Viçosa (MG), o professor doutor Breno Cruz é graduado em Administração pela UFLA (Universidade Federal de Lavras) e, atualmente, faz parte do corpo docente do curso de Gastronomia na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) com a disciplina de Gestão. Em entrevista ao DiversEM, ele conta sobre sua trajetória e quando tomou a decisão de criar o Prêmio Gastronomia Preta.

“Eu comecei a me entender como homem preto há quatro ou cinco anos, mais ou menos. E também foi quando percebi que exaltar a cultura preta é essencial para a valorização dessas pessoas”, conta ele.

De acordo com o professor, o Prêmio foi criado para evidenciar as pessoas pretas na Gastronomia sem a limitação da cozinha. Por isso, dentre as categorias que o evento destaca, estão garçom e garçonete, maitre (responsável pela organização de estabelecimentos comerciais, como restaurantes, hotéis e cruzeiros), hostess (responsável por recepcionar os clientes), entre outras ocupações.

“Eu parto do pressuposto de que Gastronomia é sobre gente. A Gastronomia é plural, mas ainda é uma área muito eurocentrada, então caiu a ficha de que eu precisava, enquanto homem preto dentro de uma universidade federal, visibilizar pessoas pretas na Gastronomia, porque você abre jornais e revistas especializadas na área e não encontra chef preto. É muito raro”, declara.

Viabilidade do evento

Por enquanto, o Prêmio é produzido com o dinheiro do bolso de Breno. Ele conta que, apesar de as grandes empresas multinacionais demonstrarem gostar da ideia, nunca chegaram a patrocinar o evento.

“Não consegui patrocínio em espécie para poder arcar com os custos, mas consegui permutas que, sim, foram importantes para a realização do Prêmio”, explica ele, que conta com várias parcerias no Rio de Janeiro.

A primeira edição do Prêmio Gastronomia Preta aconteceu no MUHCAB (Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira), localizado na capital carioca. A grande repercussão do evento fez com que a expansão fosse inevitável.

“Quando eu criei o Prêmio, foi numa perspectiva regional aqui no Rio, mas em 48 horas, tive mais de 420 compartilhamentos e pessoas do Brasil inteiro falando ‘Poxa, queria me inscrever, mas não sou daí’. Então, realmente tem muita gente querendo ser vista, do Brasil inteiro”, declara.

Este ano, a previsão é de que o Prêmio aconteça em Salvador (BA), onde Breno também organiza o Circuito Gastronomia Preta. A estreia acontece em maio, no Pelourinho, Centro Histórico da capital baiana, e contará com dez bares e restaurantes para evidenciar o conceito de “Economia Pretagonista”, criado por Breno.

“É importante colocar pessoas pretas em posições de protagonismo a partir de suas histórias e trajetórias com um recorte racial, além de trazer para o público a ideia da importância de colocarmos nosso dinheiro em negócios geridos por pessoas pretas”, diz o professor.

Breno já conversa com a Secretária de Promoção da Igualdade Racial da Bahia,  Angela Guimarães, sobre a viabilidade de conseguir patrocinadores na região.

Perspectivas futuras em MG

Para além do Prêmio, Breno busca ampliar a visibilidade da Gastronomia preta pelo Brasil. Numa retomada às suas raízes, lançou a proposta para a Secretaria de Turismo de Minas Gerais de criar o Circuito Gastronomia Preta no estado.

“A gente sabe que o turismo em Minas também gira em torno da questão da Gastronomia. Então, se a gente pensar sobre a valorização da comida mineira, podemos escolher algumas cidades ou regiões do estado para exaltar a comida desses lugares”, explica.

Para ele, o valor afetivo da culinária regional também contou muito quando pensou na criação do projeto.

“[A culinária mineira] obviamente tem influência da África. O quiabo, por exemplo, é um insumo muito consumido na África e que, aqui, comemos muito com frango. Pelo menos para mim, essa é uma receita afetiva”, completa.

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)