O isolamento social despertou o interesse de muitos pela alimentação. Cada vez mais vemos pessoas cozinhando em casa e, como consequência, preocupadas em escolher com mais consciência os ingredientes que vão levar à mesa. Um mercado que se beneficia desta mudança é o de orgânicos, formado por empresas que fazem a ponte entre o pequeno produtor rural e o consumidor da cidade que quer se alimentar melhor. A vantagem é que estes negócios já trabalhavam com delivery.
Para começar, é bom explicar: orgânicos são cultivados sem agrotóxicos ou adubos químicos (só podem usar esta nomenclatura os produtos identificados com o selo de orgânico). Existem também alimentos não certificados, normalmente de produtores bem pequenos, mas que também são produzidos sem o uso de substâncias tóxicas. Nesse caso, são chamados de agroecológicos.
Uma das fundadoras da Casa Horta, a engenheira de produção Clara Santiago (que tem como sócia Fernanda Rocha Vidal) enxerga várias vantagens no consumo de alimentos orgânicos. De imediato, ela aponta o benefício para a saúde (aqui não estamos falando de emagrecimento, mas de uma alimentação nutritiva e livre de substâncias tóxicas). “Tem também a questão de fazer parte de um sistema alimentar mais justo, permitindo que o pequeno produtor permaneça no campo com dignidade. A pessoa que consome orgânico está fomentando a agricultura familiar, e eles precisam desse incentivo”, analisa.
Os orgânicos ganharam destaque na pandemia por outro motivo: não passam por várias mãos (literalmente), o que aumenta o risco de contágio. “O produto convencional sai do campo, passa por um armazém, chega à central de abastecimento e só depois vai para o consumidor final. Aqui trazemos tudo direto do produtor para o consumidor. Além de chegar mais fresco, o orgânico é muito menos manipulado, então tem mais segurança.” Segundo Clara, a quarentena também aqueceu o mercado porque as pessoas estão cozinhando mais em casa e têm a chance de escolher melhor os ingredientes.
Desde o início da pandemia, houve aumento de 30% nas vendas da Casa Horta, principalmente pelo site. Na loja virtual, o cliente escolhe os produtos, faz o pagamento, agenda o horário da entrega e pode até inserir comentários (por exemplo, ser quer a banana verde ou madura). As duas lojas físicas, uma na Savassi e a outra no Sion, estão abertas para compras com, no máximo, dois clientes por vez.
A sazonalidade define a oferta. No momento, os cítricos estão no auge, incluindo laranja (campista, pera, sangria, lima), mexerica e limão. Clara também destaca a batata-baroa, uma raridade entre os orgânicos, e a abóbora, que nos dias frios pode virar um caldo. “Ensinamos receitas explorando os ingredientes da estação e estimulando o aproveitamento integral dos alimentos, talo, casca, que são bem nutritivos. Você consegue fazer render e o orgânico não fica tão mais caro assim.” Além de frutas, verduras e legumes, a loja vende itens de mercearia, como arroz, feijão, molhos e farinhas.
Como só trabalha com orgânicos certificados, a Dahorta não tem limite de divisas. Trabalha com produtores de Minas e de fora do estado e do país para ter diversidade. “Os agricultores vão se especializando em um tipo de produto e, para ter um mix maior, temos que buscar em vários lugares”, aponta o engenheiro-agrônomo Danilo Chaves, fundador da Cooperativa de Alimentos Saudáveis (Copas), que em fevereiro se juntou à marca Dahorta.
LATICÍNIOS
Há mais de 150 produtos disponíveis no e-commerce, que vai virar aplicativo. Os laticínios, entre eles manteiga ghee e creme de leite, são produzidos por Euler e Iara (criadores da marca Da- horta e agora sócios de Danilo), em Entre Rios de Minas. Capim Branco e Gonçalves são outras cidades mineiras parceiras. Já o abacaxi vem do Ceará, laranja e ovos de São Paulo e maçã da Itália. O cliente pode montar a cesta ou pedir uma das três opções de cestas prontas com o que tem de melhor na safra. O morango, um dos campeões de contaminação por agrotóxicos, está numa safra boa.
O negócio cria um canal de comercialização para os agricultores, ao mesmo tempo em que amplia o acesso dos consumidores aos orgânicos. Danilo explica que segue um movimento internacional de conectar os dois lados sem atravessadores. “Como somos uma cooperativa de consumidores, buscamos ao máximo democratizar o acesso e reduzir preços. Esse traballho reduz o custo, melhora a qualidade do produto e o agricultor tem garantia de produzir o ano todo.” Os pedidos dobraram na quarentena e a expectativa é de que o serviço de delivery de orgânicos continue em alta.
Supermercado on-line
Há dois anos no mercado, a Orgânico do Chico quer ser vista como um supermercado on-line orgânico e saudável. Desde o início da quarentena, a empresa conseguiu “vender” a ideia para um público maior, tanto que os pedidos dobraram. “O isolamento acabou sendo um gatilho para as pessoas verem que é bom pedir on-line. Acredito que essa cultura vai se manter por oferecer um serviço diferenciado. Temos uma equipe de seleção de produtos e as pessoas confiam”, diz o sócio Guilherme Maciel.
O negócio começou como um clube de assinatura de orgânicos. Guilherme e Chico, seu pai, buscavam os produtos de madrugada direto com os agricultores e os distribuíam em BH. Logo, eles perceberam que o problema do mercado não estava na oferta, mas na distribuição, e desenvolveram um modelo que deu certo. “A colheita é programada com os fornecedores de acordo com o que vendemos, então a perda é muito pequena e os produtos chegam muito frescos na casa da pessoa.”
Os alimentos mais perecíveis vêm de cidades próximas a BH, como Capim Branco, Lagoa Santa e Nova Lima. Eles são colhidos poucas horas antes da entrega, por isso existe a ideia de que os orgânicos duram mais. “Os produtos convencionais já chegam ao supermercado dois ou três dias depois da colheita, ficam um tempo na gôndola para só depois a pessoa comprar. Nós reduzimos a cadeia inteira, fazemos a ponte direta entre produtor e consumidor.”
As cestas são 100% customizáveis. Com o tempo, Guilherme e Chico perceberam que o cliente queria ter liberdade de escolha, então pode comprar a quantidade e a variedade que quiser. Toda semana, há mais de 40 opções de hortifrútis e mais de 100 produtos de empório no site, incluindo ovo, temperos, cogumelos, sorvete, pão e, mais recentemente, carne orgânica. Morango, banana e ovo são recordistas de vendas. “São produtos que ficam com sabor diferente se comparamos o tradicional e o orgânico.”
SERVIÇO
Casa Horta
(31) 99730-0950
Dahorta
(31) 99989-0511
Orgânico do Chico
(31) 97348-3265
Caldo de abóbora assada com maçã verde e gengibre
Casa Horta
>> Ingredientes
1 kg de abóbora cabotiá com a casca cortada em fatias; 2 cebolas médias sem casca e cortadas ao meio; 4 dentes de alho; 3 colheres de sopa de azeite; 1 maçã verde com casca cortada em cubos pequenos; 10cm de gengibre fresco picado fino; 5cm de cúrcuma fresca ralada; páprica, cominho, azeite, sal e pimenta a gosto
>> Modo de fazer
Pré aqueça o forno por cerca de 15 minutos. Em uma assadeira, coloque a abóbora, as cebolas e 3 dentes de alho com casca. Tempere com sal, pimenta, cominho, páprica e azeite. Leve para assar por cerca de 50 minutos ou até que a abóbora esteja macia. Em um liquidificador, coloque a abóbora, o alho sem a casca e a cebola. Bata até ficar bem homogêneo. Aqueça um fio de azeite em uma panela e adicione o gengibre, a cúrcuma, 1 dente de alho picado e a maçã em cubos. Refogue. Adicione o creme de abóbora batido e mexa até que tudo esteja bem incorporado. Acerte o sal e a pimenta. Coloque em bowls e finalize com um fio de azeite, as sementes crocantes dessa mesma abóbora e enfeite com capuchinha. Se quiser, adicione pequenos pedaços de gorgonzola (eles derretem e ficam super cremosos).