menina segura espiga de milho

Imagem feita em Cristália (MG) e incluída no livro, que reúne fotos de pessoas e lugares, além de imagens da natureza, produzidas ao longo da trajetória do coletivo

Nitro / divulgação
Ao longo de 20 anos, a Nitro Histórias Visuais – coletivo formado pelos fotógrafos Bruno Magalhães, João Marcos Rosa, Leo Drummond e Marcus Desimoni e pelo escritor Gustavo Nolasco – realizou diversos projetos que têm como premissa o encontro, a observação e a escuta. Para marcar as duas décadas de atividades, esse percurso foi compilado no livro “Tramas: Sobre caminhos e encontros” e no curta-metragem homônimo, que serão lançados em Belo Horizonte neste sábado (28/10), no UNA Cine Belas Artes.

Mais que abordar as veredas percorridas ao longo desse tempo, os registros que agora chegam compilados falam das possibilidades narrativas da imagem, de uma fotografia que é ferramenta para conhecer e se aproximar das pessoas. A despeito de celebrarem uma efeméride, livro e filme não se preocupam em abordar o trabalho do coletivo de maneira cronológica. No livro, aliás, as fotos sequer são creditadas individualmente – todas aparecem apenas sob a chancela Nitro.

Para realizar a imersão em seu vasto acervo e fazer a seleção das imagens, o coletivo convidou a crítica de fotografia, professora e jornalista italiana radicada em São Paulo Simonetta Persichetti. O trabalho de curadoria foi realizado conjuntamente. “Somos cinco cabeças, então tínhamos definido que queríamos uma pessoa externa, um olhar de fora, que não tivesse apego pelo nosso conteúdo. No primeiro encontro com a Simonetta, ela perguntou o que queríamos”, conta Leo Drummond.

Ele destaca que um critério básico de seleção foi o foco nos projetos autorais. “A Nitro é um coletivo, mas também uma empresa, que trabalha com projetos institucionais. Quando fomos olhar para essa história de 20 anos, entendemos que o importante era priorizar nossas próprias iniciativas, criadas e gestadas internamente, porque consideramos que isso teria mais apelo para o livro”, diz.

Apesar de os cinco profissionais terem olhares heterogêneos, as escolhas das imagens revelam uma comunhão entre suas criações, característica simbolizada no projeto editorial do livro, que não é separado por capítulos. As histórias – imagens e textos – são apresentadas de maneira fluida; estão misturadas umas às outras, interligadas como uma trama, como o próprio título indica.

carro percorre estrada de terra

Registro de Ponto Chique (MG); as imagens são creditadas com o nome do coletivo, do qual fazem parte quatro fotógrafos e um escritor, e não atribuídas individualmente aos autores

Nitro / divulgação

Brasil profundo 

A ideia inicial de que houvesse um equilíbrio entre a produção dos quatro fotógrafos acabou escamoteada ao longo do processo de feitura do livro e do filme, de acordo com Drummond. “Quando começamos a montar, de fato, os conteúdos, fomos perdendo esse apego. O critério passou a ser a relação das imagens com o discurso. Foi consensual, ninguém sofreu, porque quanto mais bonita é a foto e mais inserida no contexto, melhor o livro fica”, diz.

Esse “discurso” de que fala diz respeito a um olhar sobre o Brasil – não o Brasil épico das manifestações ou dos grandes acontecimentos, mas aquele do dia a dia, o Brasil profundo das localidades ermas e das pessoas comuns. “Também um olhar sobre a preservação do meio ambiente, que nos leva a muitos lugares e personagens que estão ali, em suas atividades cotidianas, e que, muitas vezes, têm histórias interessantíssimas para contar”, afirma.

O fotógrafo explica que o livro se distingue do filme na medida em que este flagra os processos de trabalho na Nitro. “É uma produção que nos mostra em campo, falando de nós mesmos. O filme é a história dos contadores de histórias. Ele tem muito mais a nossa voz, falando dos projetos, de fotos específicas, da coisa do respeito aos personagens, que entendemos como os donos das narrativas que transmitimos”, explica.

Simonetta conta que, quando foi convidada para a curadoria do projeto, propôs que não fosse um livro só de fotografias ou que parecesse um produto “da empresa”, institucional. Ela diz que se baseou na identidade que os próprios integrantes do coletivo criaram ao longo de 20 anos, de narradores de histórias visuais. “Eles realizaram vários projetos e, a partir disso, pensei em criar um livro fluido, onde sequer ficasse claro o que é o trabalho de cada um”, aponta.

Ela entrevistou cada um dos integrantes da Nitro, perguntando o que gostariam de apresentar no livro e no filme. As respostas, conforme diz, foram “brasileiro”, “trabalho”, “gente”. “Fomos por esse caminho. As fotografias do João, por exemplo, focam muito no meio ambiente, mas entendi que também era um olhar sobre personagens. Pensei num livro em que as pessoas tivessem o prazer de mergulhar nas imagens, podendo criar suas próprias narrativas.”

Sobre o que mais chama a atenção no trabalho da Nitro, ela considera que é o grande poder de escuta de seus integrantes. “Eles não querem falar; eles ouvem, e acho que isso é uma coisa rara no jornalismo atual, onde, talvez por causa das redes sociais, cada um quer ter sua opinião, e não ouvir a dos outros. Eles se colocam como mediadores de histórias cujos protagonistas são as pessoas, o mundo, a natureza”, pontua. Livro e filme também terão um lançamento em São Paulo, no dia 22 de novembro. 

“TRAMAS: SOBRE CAMINHOS E ENCONTROS”
Lançamento do livro e do filme do coletivo Nitro Histórias Visuais, neste sábado (28/10), das 10h às 14h, no UNA Cine Belas Artes (Rua Gonçalves Dias, 1.581, Lourdes), com exibição do média, que tem duração de 25 minutos, em três sessões, às 11h, 12h e 13h. Entrada franca.