Cena do espetaculo Rinoceronte nao da em arvore

Inspirado nas pipas, espetáculo 'Rinoceronte não dá em árvore' interage com o Sol e a natureza urbana

Guilherme Morais/divulgação

A primeira vez que chegamos lá, vimos aquela multidão de gente soltando pipa. Falei: é isso, não é mais sobre os corpos, nós temos que dialogar com o espaço. O protagonista aqui é o vento

Guilherme Morais, coreógrafo


 
No Parque Ecológico da Pampulha, oito pessoas dançam com o vento em “Rinoceronte não dá em árvore”, que terá sessões às 10h e às 11h30 deste domingo (15/10).
 
Idealizada pelo projeto 2 em 1, comandado pelo coreógrafo Guilherme Morais, a proposta é expandir os horizontes da interpretação além dos palcos. A performance dá continuidade à peça “Morte vida sonho”, apresentada este ano pelo grupo.
 
Se antes a ideia era explorar a psiquê e os mistérios da mente por meio da dança, agora os movimentos se juntam à natureza urbana, tirando o corpo do centro das atenções.
 
“O espetáculo é um convite para que as pessoas consigam ver, com propriedade, as forças que sabemos que estão aqui entre nós o tempo todo”, afirma Guilherme.
 
A escolha do Parque Ecológico da Pampulha como “palco” é motivada por uma brincadeira muito conhecida da maioria dos brasileiros: a pipa.
 
“A primeira vez que chegamos lá, vimos aquela  multidão de gente soltando pipa. Falei: é isso, não é mais sobre os corpos, nós temos que dialogar com o espaço. O protagonista aqui é o vento”, conta o coreógrafo. Foi assim que nasceu “Rinoceronte não dá em árvore”.
 
O nome curioso deste espetáculo é resultado de suas primeiras idealizações, há alguns anos. Inicialmente, ele seria encenado dentro do teatro.
 
“Quando tomou o corpo que tem agora, falei que rinoceronte não tinha nada a ver, deveria ser algo relacionado com o vento. Porém, o elenco, que é muito parceiro na criação, não aceitou. Disseram que se apaixonaram por aquele título. Ficou como estava”, comenta Guilherme. “Mesmo não tendo conexão direta com a criação atual, ele continua dialogando com o deslocamento do natural que acontece na peça”, pondera.

Lonas bailarinas

Sob as ondulações de grandes lonas, os artistas se movimentam de acordo com a vontade da natureza. “No teatro, temos o apelo técnico da iluminação e da música, o que cria todo um ambiente. No parque, a luz vem do próprio Sol e o ambiente é a natureza”, explica Guilherme.
 
O processo de criação foi divertido tanto para a equipe quanto para as pessoas que deparavam com os imensos suportes utilizados para “materializar” o vento. “Perguntavam qual esporte estávamos praticando, se aquilo (as lonas) eram pipas gigantes”, relembra o coreógrafo.
 
Sem condições de visitar a Pampulha todos os dias da semana para ensaiar, o grupo utilizava espaços da Região Central da cidade. A coreografia, conta Guilherme, chegava a encantar quem passava pela Praça Floriano Peixoto, Parque Municipal e espaços embaixo do Viaduto Santa Tereza.
 
“Quase todos os dias o ensaio virava performance. As pessoas paravam para observar. Depois, davam notícias do tipo ‘nossa, vi vocês com umas lonas gigantes no Centro”, diz. 
 
“Acontecia essa coisa interessante de todo mundo vir falar com a gente. Inclusive, escolas começaram a se interessar em levar as crianças para assistir. Perguntavam: ‘Vocês vão voltar semana que vem?’”.
 
O coreógrafo ressalta a potência dessas interações. “É muito importante o processo ser assim. Quando o espetáculo vai para a rua, vira o que ele é de verdade. Começamos a ensaiar no teatro e tínhamos percepção completamente diferente daquela que a coreografia veio a se tornar. Estamos muito felizes e encantados com o resultado”, conclui. n

RINOCERONTE NÃO DÁ EM ÁRVORE

Espetáculo de dança. Neste domingo (15/10), às 10h e às 11h30, no Parque Ecológico da Pampulha (Avenida Otacílio Negrão de Lima, 6.061, Pampulha). Entrada franca. 
 

* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria