Xuxa vestida como o cantor Boy George

A fada Tatu (Xuxa Meneghel) se veste como os ídolos pop dos anos 1980 - entre eles, o cantor Boy George

Blad Meneghel/divulgação
 

Histórias de fadas madrinhas que surgem para ajudar garotas em apuros podem até parecer algo antiquado para as novas gerações, acostumadas às dancinhas do TikTok. Mas todo gênero pode receber uma roupagem contemporânea.

 

É isso que "Uma fada veio me visitar", dirigido por Vivianne Jundi e inspirado no livro homônimo de Thalita Rebouças, tenta fazer.


Se transpor o conto de fadas para os nossos dias não é nenhuma novidade, a sacada é apostar na força narrativa do confronto de gerações, acirrado pela internet, na qual tios do pavê, millennials e integrantes da geração Z se encontram e se desencontram.


Para explorar esse assunto, é ótima a escalação de Xuxa Meneghel, ícone de décadas passadas, em uma história voltada a novos baixinhos. A apresentadora faz o papel de Tatu, fada que passou décadas congelada e vem ao mundo cumprir uma missão.


A tarefa em si não é clara de pronto. Ela quer a ajuda da protagonista Luna, interpretada por Tontom Périssé, a quem pede que fique amiga de Laura, papel de Vitória Valentim, que vive a garota mais metida da escola.

Piada com Angélica

O choque de gerações está representado na relação das duas. A fada fala gírias como "chocrível" e aparece vestida como ícones dos anos 1980 – Madonna, Cyndi Lauper, Boy George e She-Ra. A piada chega ao auge em uma impagável cena na qual Xuxa surge fantasiada de Angélica, com peruca loira e pinta na coxa.


O que o filme faz com essas cenas é apelar tanto aos jovens quanto a seus pais, numa tentativa de fazer ambos rirem. Mas o humor fica ancorado quase que totalmente nesses momentos com Xuxa. Ou seja, os jovens, principal público do longa, talvez não entendam as referências oitentistas, e os adultos não serão entretidos pelo roteiro sem muito brilho.

 

 


Importante lembrar que apesar do diálogo com o conto de fadas, este é um filme do gênero "high school", no qual os jovens se deparam com conflitos que levam a seu amadurecimento.


Um dos temas recorrentes do gênero é o embate entre os fortes e os fracos. Os "bullies", muitas vezes personificados na figura da patricinha malvada, costumam estar entre os principais vilões desse tipo de narrativa.


"Uma fada veio me visitar" parece ir por esse caminho no começo. Afinal, Laura, a menina de quem a protagonista precisa ficar amiga, é a garota popular do colégio cruel com os demais. Mas o longa toma um caminho diferente ao tentar dar uma lição de moral sobre um tema mais contemporâneo: o cancelamento.


Se você não quiser saber spoilers, é melhor parar por aqui. A irmã de Laura é acusada de um crime fora do Brasil e, de repente, a patricinha malvada vira alvo de todos os outros estudantes – inclusive os que ela tinha maltratado, capazes de crueldades ainda piores do que a inimiga. Eles exigem uma punição exemplar.


No fim, era essa a missão da fada, tornar a vilã e a mocinha amigas para que esta pudesse ajudar a rival a sobreviver ao cancelamento.


Diante da bondade de Luna, a patricinha se transforma e revela que sua maldade era fruto de fraquezas muito humanas, comuns a cancelados e canceladores.


A cancelada encerra o conflito com um pedido público de desculpas, como se só a imolação pública diante da comunidade pudesse purificar o pecador.


Não é um assunto desprezível, ainda mais para um público que se expõe na internet sem a bagagem psíquica do adulto para lidar com o julgamento do outro. Mas o filme subestima a inteligência dos jovens ao tratar o tema como uma lição de moral pueril.

“UMA FADA VEIO ME VISITAR”

(Brasil, 2023, 100min, de Vivianne Jundi, com Lô Politi e Dandara Ferreira, com Xuxa Meneghel, Dani Calabresa e Tontom Périssé) – Estreia nesta quinta-feira (12/10) em BH, nas redes Cineart, Cinemark, Cinépolis e Sercla.