Ghilherme Lobo no filme Hoje eu quero voltar sozinho

No filme 'Hoje eu quero voltar sozinho', com Ghilherme Lobo, adolescente cego descobre sua sexualidade

Vitrine Filmes/Divulgação

Em curso no Cine Humberto Mauro até o próximo dia 25, a mostra “Deficiência em tela” oferece programação que aborda vários aspectos relativos ao tema. São filmes que exaltam a diversidade de corpos e experiências, representantes de diversas épocas, gêneros e lugares, feitos por pessoas com e sem deficiência. Praticamente todas as sessões contam com recursos de acessibilidade.

A cada dia, são apresentadas obras que compõem grupos temáticos. Nesta quinta-feira (21/9), Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência, o mote é “Autonomia e sexualidade”; amanhã (22/9), o foco recai sobre a relação “Deficiência e terror”; no sábado (23/9), “Deficiência e arte” é o fio que costura as produções que serão apresentadas; no domingo, o tema é “Neurodiversidade”; e, na segunda (25/9), “Oralidade e escrita nos cinemas de mulheres”.

A curadoria da mostra é assinada por Sara Paoliello, produtora do Cine Humberto Mauro. Ela diz que teve um cuidado especial quanto à seleção de filmes, de modo a incluir obras que não apenas representassem a diversidade atual, mas também apontassem para as perspectivas de futuras produções. A mostra destaca, ainda, a relevância de se permitir que as próprias pessoas com deficiência ocupem o centro da narrativa, compartilhando suas histórias e perspectivas.

“Os grupos temáticos da mostra vieram a partir da minha própria experiência. Sou uma pessoa com deficiência e, ao longo da minha trajetória como cineasta e curadora, percebi que alguns gêneros e abordagens predominam em filmes que tratam dessa questão. Foi uma forma de mostrar um painel diverso a partir desses agrupamentos possíveis”, diz.
 
 

Dia de luta

Sara Paoliello observa que não é por acaso que o tema da sexualidade foi escolhido para marcar o Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência. A curadora considera que esse é um tabu distante de ser desconstruído. “Falar de deficiência ainda é tabu; falar de sexualidade de forma séria ainda é tabu; juntar as duas coisas é quase que inimaginável para a maioria das pessoas, que normalmente não concebem uma pessoa com deficiência se relacionando sexualmente”, destaca.
 

Chama a atenção, também, a recorrência com que o gênero terror toma como mote a questão da deficiência. Sara diz que essa relação, que norteia a programação de amanhã, deriva de uma ideia muito antiga, construída na Idade Clássica e ainda muito explorada na atualidade. Estão programados, dentro desse grupo temático, os longas “Um clarão nas trevas” (1967), de Terence Young, “Monstros” (1932), de Tod Browning, e “Hush: a morte ouve” (2016), de Mike Flanagan.

“A deficiência no âmbito do terror tem muitas vezes a ver com a representação do grotesco, algo que causa repulsa. Nós tentamos trazer títulos que desconstroem esse lugar estereotipado da pessoa deficiente vista como um monstro, como a vítima ou como o vilão. São várias as nuances que essa temática carrega. O interessante é a gente agrupar esses filmes podendo colocar pessoas com deficiência para discuti-los”, pontua a curadora.
 

'A deficiência no âmbito do terror tem muitas vezes a ver com a representação do grotesco, algo que causa repulsa. Nós tentamos trazer títulos que desconstroem esse lugar estereotipado da pessoa deficiente vista como um monstro'

Sara Paoliello, curadora

 

Acessibilidade total

Com efeito, as sessões comentadas compõem boa parte da programação, com os recursos de acessibilidade aplicados tanto às obras apresentadas quanto aos debates relativos a cada uma. 

“A ideia foi trazer pessoas que tivessem deficiência e pudessem ter um olhar sobre os filmes a partir dessa perspectiva pessoal, colocando a questão como centro da narrativa. São, também, estudiosos e pesquisadores dessas temáticas”, ressalta a curadora.

Neste quarto dia de mostra, Daniel Gonçalves, diretor e protagonista do documentário “Meu nome é Daniel” (filme exibido na programação), participa de debate sobre o longa “Hoje eu quero voltar sozinho” (2014), de Daniel Ribeiro. “É um cineasta que ganhou muita projeção com 'Meu nome é Daniel', uma presença marcante dentro da nossa programação”, destaca Sara. 

NESTA QUINTA (21/9)

Tema: “Autonomia e sexualidade”

15h – Filme “Margarita com canudinho” (De Shonali Bose, Índia, 2014)

17h – Filme “Hoje eu quero voltar sozinho” (De Daniel Ribeiro, Brasil, 2014). Sessão comentada por Daniel Gonçalves, cineasta e produtor. Sessão com audiodescrição. Debate com intérprete de libras

20h – Filme “Rain man” (De Barry Levinson, EUA, 1988)

“DEFICIÊNCIA EM TELA”

Mostra de cinema até 25 de setembro, no Cine Humberto Mauro do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). Entrada gratuita, com retirada de ingresso a partir de 1 hora antes de cada sessão. Programação completa em www.fcs.mg.gov.br. Informações: (31) 3236-7400