Vista geral da Bienal do Livro, no Riocentro

Inaugurada na sexta-feira passada, a feira prossegue até o próximo dia 10, distribuída por três pavilhões, no Riocentro

Bienal do Livro/Divulgação

Rio de Janeiro
- Conceição Evaristo, Carla Madeira, Paula Pimenta e Ana Maria Gonçalves são os nomes de Minas Gerais mais badalados na 40ª edição da Bienal do Livro do Rio de Janeiro, que começou na última sexta-feira (1/9) e segue até o próximo dia 10, no Riocentro, na Zona Oeste da capital fluminense. 

Ana Maria Gonçalves foi homenageada na abertura do evento, que contou com a participação da bateria da Portela - o enredo da escola de samba para 2024 é baseado no romance “Um defeito de cor”, de Gonçalves. 

Elas, no entanto, não são as únicas escritoras mineiras que integram a programação do festival, que conta com a participação de 380 escritores e personalidades, e cerca de 500 expositores. Quem passar pelos pavilhões Laranja, Azul e Verde, que ocupam quase 100 mil metros quadrados do centro de eventos, vai se deparar com autores de Minas - veteranos, estreantes ou independentes - que abordam em sua escrita as mais diversas temáticas.

Fantasia

Se Evaristo e Gonçalves contam com obras que são ao mesmo tempo poéticas e viscerais, com temas ligados à violência contra os negros, em especial contra as mulheres negras; a booktoker e escritora independente de Governador Valadares Dianne Guerson, de 30 anos, opta pela fantasia em seu romance “Reino - O despertar das chamas”. 

Numa espécie de releitura de “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll, o livro narra a história de uma garota que repentinamente vai parar em um reino encantado e conhece criaturas zoomórficas que servem como alegoria para reflexões a respeito da importância do tempo e do silêncio em meio ao caos da vida contemporânea.
O livro de Guerson foi lançado em 2020, no auge da pandemia de COVID-19. Em agosto do mesmo ano, figurou como um dos mais vendidos da plataforma Amazon, passando à frente de nomes populares do gênero, como a série literária “As crônicas de Nárnia”, de C.S. Lewis.

O sucesso na recepção do público, explica ela, vem do TikTok, plataforma em que Guerson conta com cerca de 50 mil seguidores e compartilha com eles dicas literárias. 

“Muita gente que passou por aqui disse que veio por causa do TikTok. São seguidores ou mesmo gente que não me segue, mas assistiu a algum vídeo meu”, conta.

Visitantes da Bienal do Livro

Além da venda de livros, programação tem encontro com autores e sessões de autógrafo

Bienal do Livro/Divulgação

Jogos e HQs

Outro autor independente na Bienal é o cartunista Antonio Junior. Embora seja natural do Rio de Janeiro, ele vive em Juiz de Fora há alguns anos e já assumiu a mineiridade. Seu trabalho difere muito do de Guerson. Junior criou em HQs o Gato Burguer, personagem com o qual o cartunista lança mão de recursos lúdicos para ensinar aos pequenos noções de lógica, matemática e história.

Seu personagem já saiu dos quadrinhos e virou jogos de cartas e tabuleiros, cujo objetivo é precisamente o ensino por meio da brincadeira.

“As pessoas não falam muito sobre isso, mas acho que é muito importante sabermos alinhar os jogos com o ensino. Isso estimula a criança a querer aprender. Ela não vai achar, por exemplo, matemática uma coisa chata, se souber que pode adivinhar o número que alguém está pensando somente por meio de exercícios e lógica”, diz Junior.

Outro que estreia este ano na Bienal do Livro é o são-joanense radicado em Belo Horizonte Márcio Oliveira, de 27 anos. No festival, ele lança o romance “Ainda vale a pena”, pela editora Caligari. O livro, segundo palavras do próprio autor, é um romance gay, repleto de clichês, que fala sobre amores que não deram certo, mudanças e recomeços. “É uma história muito especial para mim e da qual eu tenho muito orgulho”, afirma.

Incentivo

Veterana na Bienal e em outros eventos literários do gênero, Paula Pimenta é uma das principais incentivadoras de novos escritores. No sábado (2/9), ao dividir a mesa “Páginas na Tela - Um conto e ano inesquecível” com Thalita Rebouças, Bruna Vieira, Babi Dewett e Lázaro Ramos, a autora mineira foi ovacionada por um auditório lotado de garotas entre 13 e 17 anos. Muitas delas, inclusive, abordaram a escritora, dizendo que haviam começado a escrever depois de ler algum livro dela.

“Eu acho isso muito gratificante”, afirma Pimenta. “A minha escritora preferida é a Meg Cabot (da saga “O diário da princesa”). Então, lembro que quando comecei a criar minhas histórias, elas eram com base no que li da Meg. E, em 2013, quando conheci a Meg - eu tive o prazer de dividir com ela o livro das princesas, em que cada uma escreveu um conto - e disse que ela era minha inspiração, ela me respondeu dizendo que, como escritora, eu já deveria estar notando que não incentivamos apenas a leitura, mas também a escrita de quem lê a gente. Isso é de uma responsabilidade muito grande”, comenta.

Toda essa diversidade de autores reflete bem a proposta dos organizadores da Bienal. A programação desta 40ª edição foi pensada para ser diversificada, inclusiva e com temas que pudessem interessar distintas faixas etárias e padrões de gosto, num leque que refletisse as variadas faces do mercado editorial e da sociedade.

“A Bienal, além de ser um grande festival de literatura, cultura e entretenimento, é um polo propulsor das inovações, do que vem acontecendo no mundo e no mercado editorial”, diz Tatiana Zaccaro, diretora da GL Events Exhibitions, empresa que realiza o festival em parceria com o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL).

Crítica

Uma crítica, contudo, vem dos autores independentes. De acordo com Guerson, o local escolhido não favoreceu esse grupo de escritores. 

Além de estar no final do pavilhão Verde, o último do Riocentro - o circuito se inicia pelo pavilhão Laranja, passa pelo Azul e termina no Verde -, os autores foram colocados bem embaixo da placa de sanitários.

“A gente ficou conhecido como ‘Banheiro’, porque não tem nenhuma sinalização aqui de que somos escritores independentes. A única placa que tem aqui é a de banheiro”, critica a escritora e booktoker.

40ª BIENAL DO LIVRO DO RIO DE JANEIRO
Até 10 de setembro, no Riocentro ( Av. Salvador Allende, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro), de segunda a sexta, das 9h às 21h; e sábados e domingos, das 10h às 22h. No feriado de 7 de setembro, o horário de funcionamento será das 9h às 22h. Ingressos à venda por R$ 39 (inteira) e R$ 19,50 (meia) na bilheteria do local ou pelo site da Bienal. Mais informações e programação completa no site da Bienal.

* O repórter viajou a convite da Amazon Brasil