A cantora Letrux

Em "Letrux como mulher girafa" a carioca concretizou o sonho de gravar com seu ídolo Lulu Santos; eles fazem duo em "Zebra"

Divulgação


Em seu recém-lançado álbum “Letrux como mulher girafa”, a cantora carioca assume o lado “animalesco” com orgulho e afeto renovado pelos bichos, poupados de problemas específicos da espécie humana.

“Nesses últimos anos a gente ficou tão humano, pensei tanto, queimei tanto a cabeça... Quero mergulhar numa selva para descansar, sabe? O ideal seria viver comendo, bebendo e fazendo um show aqui e ali”, afirma.

A proximidade de Letrux com os animais já estava expressa em músicas do início de sua carreira, como “Aristoteles laughs”, da fase do duo Letuce. “Sempre fui aquela que quase preferia ir embora da balada para ir para casa ver National Geographic”, diz. 

Durante a pandemia, a artista foi morar em uma cidade do interior, localizada a duas horas e meia da capital do Rio de Janeiro. Pela primeira vez na vida, ela viveu com um bichinho de estimação e, com a casa no meio da natureza, passou a receber visitas constantes de animais.

No tempo livre, a cantora leu o clássico “A revolução dos bichos”, de George Orwell, e então não conseguiu tirar o assunto da cabeça. Ficou tão absorta pelo tema que, entre idas e vindas, se aventurou no veganismo.



Com o tempo, Letrux percebeu que todos os seus escritos passaram a ter alguma referência animalesca; seja nos poemas ou nas composições, o assunto sempre estava por lá. Foi aí que ela resolveu revirar seu “baú de tesouros” para ver o que poderia ser aproveitado. 

“Isso tudo foi sendo colocado assim num caldeirão, né? Como artista a gente sempre tem algum lugar ali, tipo um tesouro, em que vai guardando os trabalhos até que uma hora não cabia mais nada nesse baú. Quando fui revirá-lo, percebi que as coisas ali tinham vários pontos em comum”.

Mas a girafa foi quem deu início a tudo. Do alto de seu 1,85m, Letrux recebeu apelidos desde a infância, mas logo cedo resolveu se apropriar da insegurança para transformá-la em arte. “Sempre amei as girafas. Em alguns momentos da minha vida,  tentaram me xingar com isso. Só que é um dos bichos mais lindos do mundo, né? Por isso não fiquei tão abalada. Na verdade, eu falei: nossa, se isso foi um xingamento, muito obrigada!”, conta, em meio a risadas. 

Símbolo

A cantora conta que, com o tempo, passou a ter muito afeto pelo animal, que acabou se tornando um símbolo pessoal. Além de tatuagem na costela, ele figurou várias vezes entre estampa de roupas e presentes dos fãs. Letrux, inclusive, transformou as lembranças afetivas que tem com o animal em material de divulgação do novo álbum no Instagram. 


“Acho que a girafa tudo vê e tudo observa, ela é tão grande, mas, ao mesmo tempo, transmite uma tranquilidade… Claro que ela também tem seus predadores, mas é um animal de uma perspicácia muito forte. Eu me acho um pouco assim, sou bem observadora da minha vida, da minha geração e das pessoas que estão à minha volta.”

Quando decidiu partir para a montagem do disco, a cantora e compositora queria deixar de lado a melancolia do disco anterior, “Letrux aos prantos”, e partir para uma fase mais solar. Foi aí que fez o convite para o produtor e antigo parceiro musical João Brasil. “O João é muito alto astral, e eu precisava de uma figura assim”, comenta.  

“Eu sabia que queria que todas as músicas fossem bichos, só que, claro, tudo isso sendo comparado com os humanos. Fiquei pensando no que a gente tem de tão animalesco dentro da gente ou o que os bichos têm de humanos. O disco surgiu fazendo esse jogo, um tipo de contraponto entre o reino animal e a vida humana. Foi um processo bem diferente dos outros discos, mas muito gostoso”, afirma Letrux.

Dessa forma, as músicas não deixaram de falar sobre as experiências de vida da cantora. As letras falam sobre amores, encontros, dores e paixões, e os versos são unidos ao uso de sintetizadores e guitarras. 

As faixas de intervalo são um diferencial no disco. Tratadas como um presente para os fãs, as seis músicas mostram o processo de produção da cantora, com retalhos de canções que não chegaram a ser finalizadas. A ideia é mostrar as etapas de criação de um álbum, que precisa de muitos rascunhos até chegar ao resultado final. 

Para Letrux, uma das músicas mais especiais é o feat com Lulu Santos, “Zebra”. “Para mim, ele é parte de uma comunidade de gênios da música pop brasileira. Não existe uma lembrança da minha vida, da minha história, desde que nasci, que não esteja permeada por alguma letra, alguma frase dele”, diz.

A primeira interação entre os dois se deu há aproximadamente 12 anos, quando Lulu elogiou uma música de Letrux no Twitter. Os dois começaram a se seguir nas redes sociais e, depois de várias trocas, em 2021 ela participou do clipe de “Hit”, interpretando o papel de uma cigana.

“Foi um dia em que eu fiquei sorrindo de orelha a orelha. Depois disso eu pensei: é agora que vou chamar ele para fazer um feat comigo”, relembra a artista. 

Recentemente, Letrux voltou a exercitar a faceta de atriz, interpretando a personagem Bárbara na série “A vida pela frente”, de Leandra Leal e Bruno Safadi. Atualmente com 41 anos, ela conta que a experiência foi muito marcante, uma vez que o roteiro da trama sobre a passagem para a vida adulta tem muitas semelhanças com sua própria trajetória. 

Embora ainda não haja show do novo disco agendado na capital mineira, Letrux garante que deve voltar a se apresentar na cidade ainda este ano. Segundo a artista, ela e o público mineiro possuem um “match” inegável. 

“LETRUX COMO MULHER GIRAFA”
  • Álbum de Letrux
  • 16 faixas
  • Disponível em todas as plataformas digitais 

*Estagiária sob supervisão da editora Silvana Arantes