Letrux, de pé, com look prateado, ergue os braços atrás da cabeça e olha para a câmera

A cantora, compositora e escritora Letrux conta que se apaixonou por poesia por causa de Carlos Drummond de Andrade

Ana Alexandrino/Divulgação


“Gosto muito de anos ímpares”, afirma a cantora, compositora, atriz e escritora carioca Letícia Novaes, a Letrux, sobre a possibilidade de lançar novas obras em 2023, não apenas nas prateleiras musicais, como em outras áreas por onde transita. 

“Estou há uns bons meses preparando um disco para este ano, mas não posso adiantar muita coisa ainda. E continuo sempre escrevendo. Não sei se vem livro ou roteiro. A ver”, sintetiza ela, em entrevista ao Estado de Minas, dias antes de seu retorno a Belo Horizonte, para uma única apresentação n’A Autêntica, nesta sexta-feira (13/1), com ingressos já esgotados.

O vindouro trabalho em estúdio será o terceiro álbum cheio de sua carreira, que já conta com “Em noite de climão” (2017) e “Aos prantos” (2020). Além desses discos, Letrux tem em sua discografia, entre outros rebentos, o EP “Prantos pandêmicos” (2021), com releituras do segundo disco, e singles, vide parcerias forjadas com Banda Gente, em “Fumaça”; e Troá, em “Cê sabe que tem alguém”, ambos de 2022. E, ressalta a cantora, cada caminho musical pavimentado veio junto a um aprendizado.

“Apesar de a gente aprender na prática, em 90% das vezes nossa intuição está certa. Assumi há tempos que minha arte envolve emoção e intimidade”, afirma ela. “Sou bem observadora, esponja de sensações. Nem tudo precisa atravessar minha vida. Sou aberta aos símbolos e consigo criar apenas prestando atenção nas pessoas ou numa paisagem. Eu era mais focada em mim nas composições, acho que agora aprendi a não deixar que toda minha vida se torne música”, diz.

Troca sincera

Datam dos últimos meses de 2022 os mais recentes singles lançados, frutos de parcerias que trazem “uma troca sincera e admiração”, conforme Letrux enfatiza. “A Banda Gente é uma banda maravilhosa aqui do Rio, de pessoas da periferia que fazem um som dançante, com letras sinceras, divertidas e também de denúncia”, aponta.

O single dessa aliança, “Fumaça”, veio à luz em dezembro do ano passado. “Conheci a Iolly (Amancio, cantora) num evento, nos demos bem, trocamos e-mails, e ela me mandou essa música. Pensei: ‘Que delícia!’. Por causa da pandemia, demoramos a fazer clipe e lançar, mas foi um processo muito astral”, conta.

O dezembro de 2022 de Letrux também ficou marcado por um tributo dela a Caetano Veloso, ao revisitar ao vivo, no Sesc 24 de Maio, em São Paulo, o álbum “Transa” (1972).
 
“Como cantora, escritora e compositora, Caetano é talvez o maior para mim. Amo imensamente Tom Jobim e Gilberto Gil, mas, pensando num homem brasileiro com quem eu consiga me identificar, me maravilhar e estranhar (também acho importante), penso em Caetano. Que inteligência, que escolha de vocabulário, que mente curiosa! Eu fico fascinada”, diz ela. “Eu furei esse disco (‘Transa’), muito. Quando descobri, fiquei alucinada. Então cantá-lo foi um barato, uma realização pessoal forte.”

Já no campo da literatura, o mais recente livro de sua autoria é "Tudo que já nadei – Ressaca, quebra-mar, marolinhas" (2021, Editora Planeta). “Antes da pandemia, recebi o convite da editora Planeta, perguntando se eu tinha um livro para lançar, e eu realmente tinha, mas pedi um tempo porque a pandemia estava começando a dar sinais de que algo estranho ia rolar no mundo. E, nesse tempo, consegui escrever algumas coisas a respeito”, comenta. 

Ela prossegue: “Me pareceria estranho um livro de poesia contemporânea não citar aquilo naquele momento, sabe? Era nossa vida diária. Por mais que haja delírio e fantasia no meu livro, também há muita realidade. Então o tempo que pedi à editora foi importante para a criação do livro. Um dia escreverei um romance, mas naquele momento o que funcionou para mim foi aquela divisão de prosa, poesia e quase haicais mesmo”.

Minas Gerais

A apresentação de Letrux n’A Autêntica ocorre pouco mais de seis meses depois de sua participação no festival Sensacional!, em julho de 2022. “Vai ser nosso primeiro show sem ser em festival em BH, então vai dar para tocar mais músicas, apresentar nosso repertório, que inclui meus dois álbuns. Como recentemente fizemos homenagem ao disco ‘Transa’, devemos tocar alguma pérola dele”, diz.

A relação da artista com o estado vai além da música e dos shows. “Durante minha juventude, acampei muito em Minas. Minha vida era Aiuruoca, São Thomé das Letras, Ibitipoca... Sou uma pessoa muito da natureza, e vocês (mineiros) têm muita riqueza nesse campo.” 

Ela se define como uma pessoa “do mar”, mas ressalta: “Amo muito as cachoeiras mineiras. Na falta de onda marítima, vocês compensam com ondas amorosas, e a gente sente imensamente”.
 
Admiradora também da cultura do estado, incluindo os versos de Carlos Drummond de Andrade, comenta: “Foi meu primeiro contato com poesia e foi muito impactante. Sou poeta também por ele. E isso diz muito”.

LETRUX E OCTÁVIO CARDOZZO

Show nesta sexta-feira (13/10), às 22h, n’A Autêntica (Rua Álvares Maciel, 312, Santa Efigênia). Classificação etária: 18 anos. Ingressos esgotados.