Carla Madeira, José Eduardo e Giovana Madalosso

Giovana Madalosso e Carla Madeira discutiram questões da escrita feminina brasileira, com mediação de José Eduardo Gonçalves

Tulio Santos/EM/D.A.Press
 
O desafio da mulher escritora “não está somente em publicar, o reconhecimento é o que impacta”. A afirmação foi feita por Giovana Madalosso durante conversa com a autora mineira Carla Madeira no projeto Letra em Cena, terça-feira (27/6) à noite, no teatro lotado do Centro Cultural Unimed-BH Minas.

O tema “Escrita feminina brasileira contemporânea” norteou o debate mediado pelo jornalista e escritor José Eduardo Gonçalves, coordenador do projeto. O ator Odilon Esteves leu trechos de livros das duas autoras, emocionando o público.
A mineira Carla é autora do best-seller “Tudo é rio” e de “A natureza da mordida” e acaba de lançar o romance “Véspera”. A paranaense Giovana lançou “A teta racional”, “Tudo pode ser roubado” e “Suíte Tóquio”.

Surpresa e susto

Ao falar de seu ofício, Giovana Madalosso contou à plateia que ainda se surpreende ao receber o “obrigado” dos leitores, momentos que a fazem se perceber como escritora. O desejo intenso de escrever surgiu aos 8 anos, revelou.

Carla Madeira confidenciou que ainda se assusta ao se imaginar escritora. Para ela, isso significa que os textos estariam sobe seu controle. “Ainda sinto algo enigmático na escrita”, comentou, humildemente, esta mineira considerada autora de ficção mais lida do país por dois anos seguidos.

Ao responder à pergunta sobre o que há de especial na literatura brasileira contemporânea, Giovana apontou a escrita feminina e a renovação temática que as mulheres trouxeram. Tanto ela quanto Carla destacaram o papel de clubes de leitura e da internet como estímulos à leitura, atiçando a curiosidade do leitor.

A hipótese foi sustentada pelo depoimento de Mauriza, na plateia. “Os livros estão na minha lista de leitura por indicações, podcasts que ouvi, comentários de conhecidos. Sempre gostei de ver escritores falando de suas obras”, afirmou.

Ambas contaram aos leitores de onde vem a inspiração. Giovana revelou que ela vem de angústias, como a dificuldade de conexão de mães com os filhos, abordada no livro “Teta racional”.

Por sua vez, Carla parte de situações imaginárias, que a impactam, para criar enredos. Disse que "destrincha" essas situações, tentando entender de onde elas partiram.
 

A conversa não se concentrou propriamente no fazer literário, o que desapontou Felipe Pires, jovem que sonha em ser escritor. “Não conhecia as autoras e esperava mais, queria saber o processo criativo e as diferentes maneiras de escrever”, afirmou ele.

Carla e Giovana falaram sobre personagens, sentimentos, acontecimentos que induzem as histórias dos respectivos livros e o prazer em escrever. Foram aplaudidas calorosamente pela plateia, majoritariamente composta por mulheres.

O corpo feminino foi tema de um bloco inteiro do Letra em Cena. Leitoras queriam saber sobre o processo de construção, por parte da mulher e da mente feminina, de personagens masculinos.

A voz suave e forte de Odilon Esteves, ao ler textos de Giovana e Carla, foi acompanhada de expressões que variavam da alegria, seriedade e surpresa à indignação por parte da plateia, ao ouvir trechos sobre o pai com ciúme do próprio filho sendo amamentado e sobre a babá que sequestra uma criança por amor. As autoras se emocionaram com a leitura. Giovana falou de sua “baita felicidade” naquele momento e reparou nas palavras que repetira.

Filas para autógrafos

O tempo previsto “estourou” e terminou com gostinho “de quero mais”, apontou José Eduardo Gonçalves no encerramento da noite, que foi muito concorrida, com ingressos esgotados. Imensas filas dos dois lados do palco foram formadas por fãs em busca de autógrafos.

A mineira Conceição Evaristo, autora de “Ponciá Vicêncio” e uma das vozes mais importantes sobre as vivências da mulher negra na literatura brasileira, será a convidada do projeto em 1º de agosto.

* Estagiário sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria