Elizabeth Olsen como Candy Montgomery em 'amor e morte'

Elizabeth Olsen protagoniza "Amor e morte", segunda série baseada em crime passional cometido com requintes de crueldade, no Texas, em 1980

HBO/DIVULGAÇÃO

A sinopse é sensacional, se você é fã de true crime: "Dois casais que frequentam a igreja desfrutam da vida familiar em uma pequena cidade do Texas – até que alguém pega um machado". Ou seja: tem o puritanismo americano sulista, deve ter sexo, já que são dois casais, e um crime violento.

Pois "Amor e morte", minissérie em sete episódios recém-chegada ao catálogo da HBO Max, tem tudo isso. Mas também déjà vu. Os aficionados vão reconhecer: essa história já foi contada antes – e de várias maneiras. O crime ocorrido em 13 de junho de 1980 em Wylie, subúrbio de Dallas que a série ficcionaliza, já gerou livros e documentários. E outra série ficcional.

Produção do Hulu que chegou ao Brasil há menos de um ano pela plataforma Star+, "Candy" conta em cinco episódios a mesmíssima história. Das duas, uma: ou está faltando assunto ou o trauma pelas 41 machadadas que uma amiga deu na outra ainda não foi superado.

Mas também não há como negar que, mesmo atrasada em relação à sua "concorrente", "Amor e morte" vale a pena, ainda que você tenha assistido à produção anterior. Em poucas palavras, a história mostra como uma cristã devota, participante do coral da igreja, mãe exemplar e de forte influência na comunidade matou uma amiga dela - também mãe e cristã - com requintes de crueldade.

A assassina é Candy Montgomery e a vítima, Betty Gore. Elizabeth Olsen deixou o universo Marvel diretamente para o drama. Encarna uma Candy mais livre e senhora de si do que Jessica Biel, que interpretou a personagem real na série do ano passado. 

Elenco

Outro nome importante que está no elenco é Jesse Plemons, que interpreta Allan Gore, o marido de Betty (Lily Rabe). O crime, não é preciso ser nenhum gênio para entender sua motivação, é decorrente de uma relação passional. Candy, que é casada com Pat Montgomery (Patrick Fugit, que protagonizou na juventude "Quase famosos", aqui quase irreconhecível), tem um caso com Allan. 

A HBO não brinca em serviço e "Amor e morte" é mais um exemplo de seu acabamento estético. A série foi criada por David E. Kelley (que já fez muita coisa boa, mas todo mundo se lembra mesmo é de "Big little lies") e produzida por Nicole Kidman. A trilha sonora é matadora, a começar pela abertura, que traz Nina Simone com sua versão definitiva para "Don't let me be misunderstood".
 

A série é linear, um contraponto com a anterior, que traz uma narrativa mais fragmentada e centrada exclusivamente no assassinato. Em "Amor e morte", o crime em si, e suas consequências, só acontecem a partir do quarto episódio. Antes disto, o que assistimos é quase um estudo sobre a banalidade do ser humano. 

E é nisto que a série se diferencia de outras tantas recriações de crimes reais. A história é também sobre mulheres frustradas com suas vidas de esposas e mães (e portanto se tornam obcecadas pela aparência e pela opinião dos outros); sobre homens provedores que vivem entre o trabalho e a casa e não fazem nenhuma questão de se envolver com qualquer coisa que fuja disso; sobre um moralismo hipócrita e sobre como a raiva, quando reprimida, pode levar a atos extremos.

“Homens, eles vão para seus empregos e vivem suas carreiras”, Candy diz, a certo momento, antes de completar: “Nós apenas ficamos em casa, e isso deveria ser o suficiente.”
 
 

O caso extraconjugal entre Candy e Allan vai para além do insosso – e isto mostra o desespero em que os envolvidos estavam com a mesmice de suas existências. Os dois, antes de chegarem às vias de fato, estabelecem um conjunto absurdo de regras, que mais parece um acordo de negócios.

Mais: como viviam em uma comunidade muito pequena, continuam levando suas vidinhas – e isto inclui a filha dos Gore ser a melhor amiga da dos Montgomery, relação que permanece durante os desdobramentos do crime. 

Tudo orbita em torno de Candy, e Elizabeth Olsen consegue, com muita sinceridade (ora discreta, ora dissimulada, e ora como uma louca varrida), dar total dimensão à personagem. Só que mesmo depois de duas séries, o crime do machado continua sendo difícil de compreender.

“AMOR E MORTE”

• A série, em sete episódios, está disponível na HBO Max